Capítulo 61 - Prestando contas (Querida Consuelo)

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Após as mil e uma teorias de como Léo foi parar na cadeia circularem a imprensa e a internet a vida do círculo Donavan-Caravaggi-Ávillez-Ducci pareceu começar a dar uma guinada em direção ao horizonte límpido, já tinha duas semanas e meia do corrido e o natal chegava a todo vapor dando uma trégua na animosidade de Consuelo, ao montar as árvores e colocar luzes pela casa conseguiu se manter menos irritada, ir à missa não era mais um tormento e se confessar não era um ato de desabafo tão desagradável, tudo parecia ir bem como devia ser. Numa noite quente de início de festejo, quando os parentes pegam férias ou folga e voltam para suas raízes uma batida na porta fez todas as três pararem de enrolar presentes para ouvirem o que viria a se seguir. Consuelo muito mais corajosa nesse momento foi quem deu o passo e a abriu dando de cara com um jovem já começando a ficar grisalho lhe sorrir.

- A senhora é Consuelo Ávillez? - disse o tom de voz macio de sorriso simpático.

- Sim, sou eu. - respondeu ela temendo o que viria depois daquela frase. O menino ainda a observou antes de tirar a mochila das costas e entregar um envelope branco.

- É para a senhora.

- Da parte de quem? - ela foi enfática ao pegar o papel oferecido por ele.

- Eu venho a mando do Senhor Martins, eu não sei muito sobre isso mas é a respeito de uma herança.

- Não conheço nenhum Martins.

- Ele é advogado lá em Itaperinga dos Montes e só me pediu para procurar a senhora e entregar isso, o número dele tá no verso do envelope, ele viu na TV tudo aquilo passando, a anos ele procurava a senhora mas não conseguia nada, tem uns dois dias que eu to viajando já para poder lhe entregar isso. - disse o garoto suspirando e colocando a mochila de volta nas costas.

- Onde raios fica Itaperinga? - Eleonora se intrometeu.

- Minas Gerais, tem uns cinquenta mil habitantes.

- E qual seu nome?

- José.

- Você não aprece muito velho.

- Ah, eu tenho esse ar de moleque mesmo, vou fazer trinta.

- Seu sotaque não é de Minas.

- Eu nasci em Sampa, me mudei pra lá depois de formado, fiz economia e acabei sendo secretario de um grupo de advogados, coisas da vida, né?

- É. - foi somente o que respondeu Eleonora dando as costas a ele.

- Não quer tomar um café? - Consuelo tomou as rédeas da situação.

- Não, eu preciso voltar pro hotel que eu viajo de madrugada de volta, são mais de setecentos quilômetros de viagem, só de pensar me cansa, ainda bem que eu vou de avião. Boa noite a vocês. Desculpe incomodar, eu só venho fazer o que mandaram fazer.

- Não tem do que, obrigada e Feliz Natal.

- Feliz Natal pra vocês também e tenho certeza de que vai mesmo ser um dos bons, senão o melhor. - dito isso o jovem saiu para a rua onde desapareceu deixando Consuelo com o envelope nas mãos parada a porta.

- Não vai abrir, mãe?

- Não sei, alguém tem mais coragem que eu?

Amélia se aproximou e pegou o mesmo da mão da avó e abriu, o número do advogado estava lá, grande e caprichoso seguido de um carimbo e um número de OAB. Ao tirar o papel e o ler com calma dirigiu seus olhos a avó e depois a mãe deixando ambas com os nervos atacados.

- Sobre o que é? - Eleonora impaciente perguntou ao morder a unha da mão direita.

- Temos uma herança... - foi o que ela disse ao terminar de ler o papel em silêncio. - E uma herança milionária.

AMÉLIA (A garota e a flor)Onde histórias criam vida. Descubra agora