Capítulo 29.

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Desperto cedo, durmi muito mal. Quando desco as escadas o silêncio paira pelo ar. Assim como quando no dia seguinte após minha chegada, o clima pesado. Demorou alguns dias, mas lembro como aos poucos virou minha casa. Com música, filmes, novelas, o cheiro da comida que parece que sempre existiu, azul e minha vó disputando o lugar preferido no sofá. - sorri. - Mas agora é apenas minha vó sentada na sala fazendo seu tricô, azul deitado em seu colo e a televisão no jornal matinal, com o peso da despedida.

— Bom dia. De pé tão cedo? — Ela me sorrir.

— Não dormi direito. — Me sento ao seu lado no sofá e encosto minha cabeça em seu ombro. Azul late no mesmo instante. — A vó é minha! Esse colo também é meu, se não quiser que eu te tire daí é melhor ficar quieto.

— Anne. Como você está?

— Um caco. — me deito em seu ombro novamente. — Parece que me quebraram inteira e depois varreram para debaixo do tapete.

— Vai ficar tudo bem! Vou lhe fazer um chocolate quente. — Ela se levanta e vai para a cozinha, Azul como seu fiel escudeiro à segue abanando o rabo.

— Traidor!

Começo a mudar os canais da televisão até encontrar um filme. Minha vó volta com duas canecas e se senta ao meu lado. Tomo o chocolate acompanhando o filme. Depois ela prepara o almoço e comemos apenas nós duas, passamos quase o dia todo sozinhas matando a saudade.

— Mousse de chocolate ou maracujá? — Minha vó perguntou pouco antes de se levantar.

— Maracujá! Posso aprender a fazer?

— Só dessa vez! Você sempre me enrola quando fica comigo na cozinha.

Sigo ela para a cozinha. Me encosto na mesa para organizar os ingredientes. Logo minha mente começa a trabalhar.

— Será que tem uma chance mínima dele me deixar ficar?

— Não sei. Prometi ao seu pai que nunca iria me intrometer na sua criação. Nem nas escolhas dele. Então, só posso orar. E sabemos que isso já é muita coisa.

— Obrigada, vó! — Beijo repetidas vezes sua bochecha enquanto ela rir.

— O que estão fazendo? — Meu pai surge na porta. Sorri para a gente.

— Mousse de Maracujá. Anne que fez. Vai para a geladeira! Lava tudo. — Ela pede e concordo com a cabeça, vou em direção a pia.

— Já fez suas malas? — Meu pai me estende os talheres sujos que estavam em cima da mesa.

— Ainda não. — Respiro fundo. — Pai...

— Já disso que isso não está em discussão. — Ele me interrompe.

— Claro. Não é o que quer ouvir, então não conversamos. — fecho a torneira. — Sempre diz que quer o melhor para mim, mas não me ouvi um minuto.

— Pra você falar que quer ficar. Por quê? Por que aqui não tem limites? Te procurei ontem e já havia saído, é assim aqui. Saí e volta quando quer, é por isso?

— Não. Porque eu estou cansada. Cansada de ser a menina excluída da igreja por uma coisa que já aconteceu a anos. Cansada de não ter amigas, me enfiar dentro de um quarto e ouvir música o dia todo. Cansada de ficar na casa dos outros porque não confia em mim e está sempre viajando. Cansada de estar dentro da minha casa e não me sentir em casa. — Seco as mãos no pano de prato.

Meu pai me encara sério, um pouco perplexo. Meu celular começa a tocar. Helena. Olho para minha vó que concorda com a cabeça antes de eu pegar o skate.

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