Capítulo 30.

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— Bom dia vó! — Me sento à mesa. — Aonde está meu pai? — Ela passa por mim, me beija a testa e coloca um bolo sobre a mesa.

— Foi para casa, mas disse que até à noite deve estar de volta. Tem que mandar embalar tudo. — Ela pega a garrafa de café. — Precisa correr um pouco. Muita coisa para organizar.

— Mas no fim vale a pena. Vou ficar aqui com a senhora, o meu pai e o azul. Vamos ser uma família feliz e bagunceira. Não terei que arrumar aonde ficar na próxima viagem! — suspiro. — Não vejo a hora de todas as minhas coisas chegarem, vou poder decorar todo o meu quarto.

— Quanta animação! — Ela deposita as xícaras sobre a mesa. — Sabe que as vezes eu ficava aqui pensando em vocês. Os dois passando por tudo sozinhos, e agora vou poder ajudar no que precisarem.

— Não vai ter mais que sentir saudades, ao contrário, vai viver me ajudando a sair das minhas aventuras sem que meu pai arranque minhas orelhas. — Ela sorrir com gosto.

— Sempre foi a alegria da casa, cantando para todos os lados. — Seu sorriso ganha um tom de melancolia. — Não sei como ela teve coragem de te deixar.

— Vó, não pensa nisso. — Seguro suas mãos entre as minhas. — Sabe o que eu quero? Comer esse bolo delicioso. Porque quando descobrirem que eu fiquei, o povo deve aparecer todo por aqui e fico sem bolo, sabe como são. Se não ficar de olho fico até sem avó. — Ela me beija a testa antes de ir para a sala.

Nunca quis saber de verdade o porque dela ter nos deixado. Nem quem era, nome ou qualquer coisa assim. Quando criança achava bem estranho todas as outras crianças terem mãe e eu não, até que eu percebi que tinha o melhor pai de todos, que sabia lavar, arrumar casa e ainda me ensinava a jogar vídeo game. Coisa que nenhuma das minhas amigas sabiam fazer! Não era tão diferente porque também bricavamos de boneca e na hora da fome pediamos pizza. As meninas diziam que na minha casa era final de semana todos os dias. Apesar das viagens à trabalho, os dias que estava em casa eram os melhores. Não lembro de uma infância traumatizada pela ausência da mãe, só lembranças felizes, cheias de amor e cumplicidade.

— Irmã Corina. A paz. Desculpa vim sem avisar mais é que... — A voz do Miguel me desperta.

Não dá para ele me ver pois estou sentada no sofá, da porta não da para me enxergar, mas consigo ouvir nitidamente o que ele fala.

— Oi Miguel! Como vai a sua mãe? — Minha vó o interrompe.

— Ela vai bem. É que...

— Que bom! Mande um beijo para ela. — Ela o interrompe mais uma vez.

— Mando sim. Mas é que... — Sua voz parece um pouco urgente. Mas uma vez minha vó o interrompe. Ela não percebe sua aflição e continua em seu diálogo calmo e sereno.

— Gostaria de um pedaço de bolo? Acabou de sair do forno, está quentinho.

— Obrigado. Mas não, obrigado.

— Está tudo bem? Você parece nervoso! — Sua calmaria deve estar o deixando inquieto. Prendo o riso, a cena é hilária.

— É que eu estou. Mas ou menos, preciso da sua ajuda irmã Corina...

— Devia se sentar um pouco. Venha, entre. Quer um copo de água? — Despreocupadamente ela começa a andar dentro de casa e Miguel a segue meio desolado. Minha Vó diz que desconhece essa pressa que nós jovens temos para tudo. — O que quer me contar?

— Na verdade eu... Arianne? — Seus olhos me encontram. Ele paralisa enquanto meu rosto esquenta.

— Oi. — É tudo o que eu consigo dizer.

Arianne Onde histórias criam vida. Descubra agora