Lylian
“Lylian eu preciso de sua ajuda”.
Fizun me encarava e Kalil estava logo atrás de mim, seu olhar queimava minhas costas, ao ponto de sentir os pelos da nuca arrepiados.
– Ajuda? Ajuda com o quê? Kalil, o que está acontecendo? – pergunto, apesar de tentar manter a voz firme, sentia que iria vacilar no meio da fala, de modo que acabei falando mais rápido do que gostaria. Estava assustada, não só por saber que aquilo não passava de mais uma armadilha para mim, armadilha esta do qual estava muito perto de pisar mas como também com a presença de Fizun e Kalil, por sua vez sabendo perfeitamente bem como eu estava me sentindo perante aquela situação, suspira.
– Não tenha medo, Lylian, ele não vai lhe fazer nada. – diz, a calma de sua voz ecoando minha mente me perturbava, sua calma nunca era um bom sinal naquele tipo de conversa, principalmente considerando que eu sou o motivo da conversa.
– Lylian, eu preciso de sua ajuda pois Kalil previu que meu herdeiro está em sua cidade natal. Preciso de sua ajuda e, se necessário, a de seus amigos. – explica Fizun, a voz tão oca quanto a de Kuren em minha mente.
– Previ que o herdeiro de Fizun é um homem e que você pode encontrá-lo. – completa Kalil.
– Por que justo eu? – pergunto me virando para Fizun com os braços cruzados e, no processo do ato, arqueio uma das sobrancelhas. Aquela conversa não estava caminhando para um bom caminho, muito pelo contrário, a calma dos dois Guardiões era incômoda, o suficiente para fazer-me desconfiar deles, mais do que eu mesma gostaria.
– Porquê, segundo Kalil, você será meu meio para o fim. Não se preocupe com Alexander, só precisarei de você para encontrá-lo, por existirem muitas pessoas naquela cidade que vão se interessar por você e não posso cometer erros, não desta vez. Você virá comigo e, se necessário, trarei seus amigos também. Kalil irá falsificar para você um documento de legalidade para conseguirmos ficar com você sem nos preocupar em nos esconder. Quanto ao lugar onde você irá ficar, eu e Kalil cuidaremos disso também. – Fizun explica me deixando meio atordoada, na verdade, completamente atordoada, não é como se fosse um simples passeio com meu cachorro, um documento de legalidade!? Por que raios eu precisaria disso se eles podem simplesmente ficar invisíveis!? Isso não pode ser sério! Para que dificultar tanto assim uma situação quando ela por si só já parece estressantemente impossível de se aturar em estado de calma!?
– Mas quando nós iremos partir? Posso pelo menos contar a alguém sobre isso? Não é como se eu conseguisse simplesmente sair sem ser percebida.
– Partiremos agora, como já disse, está tudo preparado para nós. Começaremos nas escolas locais e te enviaremos para lá assim que você se relocar e se reacostumar com a vida em sociedade. – explica Kalil, a sensação de enxaqueca já me dominava ao imaginar no barulho que teria de suportar dependendo do quão movimentada for a cidade e considerando se tratar da minha cidade natal, seria um inferno, me mudei justamente para abandonar aquele inferno cheio de fumaça, engarrafamento e confusão, não é como se eu sentisse qualquer saudade desse tipo de ambiente.
– Está bem. – digo, sabendo que não teria qualquer escolha em relação àquilo, precisávamos encontrar o Herdeiro do Ar mas sem Fizun aquela missão seria impossível e se ele diz que precisa de mim, não colaborar pesaria meu consciente depois. – Me deem um minuto, pelo menos para alertar nossa telepata sobre o assunto.
– Só não diga para onde vamos. – Fizun alerta mas, apesar do alerta, primeiro, sua voz emitia calma, não era desesperada como pensei que fosse ser. E segundo, não é como se eu já tivesse contado a alguém sobre o lugar de onde eu vim antes de ir para a escola dos meninos, com isso, apenas respondo seu comentário com um assentir de cabeça, já sabia o motivo para tal pedido, e o falcão possuía crédito com este, Alexander Perters era o motivo. Se outrora já havia posto a si próprio em absoluta culpa por não poder garantir minha segurança quando ainda amigos, o que o impediria de fazer a mesma coisa, agora se tratando de sua cônjuge?
– Jesy... – a voz não passava de um sussurro, arrastado pela brisa noturna, os olhos ficam completamente roxos, para quem me observava, minha pessoa estava encarando o nada mas, na minha mente, as imagens não eram mais claras, eram fleches e borrões confusos tentando encontrar um ponto fixo do qual pudessem se manter e relaxar.
Ao encontrar um, os fleches se tornam imóveis deixando clara a cena em minha mente, Jesy na cama de casal sozinha em seu quarto lendo um livro era o cenário que enxergava agora. Ao ouvir minha voz, esta arrastada pelo ar e quase inaudível para ouvidos não tão sensíveis quanto os de um Herdeiro, a garota quase pula, foi um susto repente, o tipo de susto que você leva mas logo supera ao perceber não se tratar de nada que te ameace realmente.
– Quem é? – pergunta olhando para todos os lados do quarto, a calma da telepata quase me surpreende.
– Sou eu, Lyli. Me conectei porque vou ficar um tempo longe novamente e não sei quando vou conseguir voltar. Só queria que pelo menos alguém soubesse. Até Jy.
– Lyli, espera!
– Do que precisa, Jesy? Seja breve, por favor, estou com pressa. Kalil e Fizun não estão muito diferentes.
– Fizun está com vocês!? Por quê?
– Vamos procurar pelo Herdeiro dele. Não sabemos quando vamos voltar, só sei que, se necessário, vocês serão enviados para o lugar em que estou indo daqui a alguns dias. Te peço que não deixe Lauren usar a clarividência comigo, se não Alex vai querer saber onde estou e vai acabar complicando as coisas, se é que me entende.
– Eu entendo. – ela suspira, estava tão contra aquela ideia quanto eu. – O que você têm haver com o Herdeiro do Ar? Não é como se sua intuição fosse muito melhor que a de Kalil.
– Acredite, concordo plenamente e odeio o plano deles em que conta com minha colaboração, mas não é como se eu tivesse muita escolha nesse quesito, não sem meu consciente me julgar depois. – comento, apesar de não estar com muita vontade de continuar aquela conversa e Jesy parecia na mesma situação que a minha, o que para mim era novidade, normalmente ela é a que vai até o fim com o assunto em questão.
– Está bem, só não deixem que abusem de sua paciência, Lylian, não é como se isso fosse problema seu. Pelo menos não um em particular. – diz e mantenho silêncio perante o comentário, Jesy não parecia estar em um momento de bom humor e regojitava se havia sido uma boa ideia ter alertado a ela sobre a situação, mas não tinha como eu saber que ela estaria de mau humor agora, não posso prever meu próprio futuro.
– Cuidarei disso, até Jesy. – após isso, corto a conexão ao piscar os olhos e, ao tornar minha visão e mente para o lugar onde estou realmente, torno a atenção para Kalil, este, que estava ao lado de Fizun, pareciam estar conversando algo, algo que não teria como prestar atenção, uma vez que estaria desligada do ambiente ao meu redor e questionava se o que eu perdi era algo de assunto preocupante para minha pessoa em particular.
– Vamos, criança, a noite será longa. – diz Kalil enquanto se abaixava para que eu subisse e, quando o faço, Fizun abre as asas e alçamos voo.
(...)
Ficaríamos horas voando, e pela a posição da lua eram quatro da manhã. Percebo que Kalil e Fizun estavam começando a ficar cansados, fossem os Guardiões que fossem, tivessem os poderes que tivessem, ainda eram seres vivos, suas energias se esgotavam, se irritavam e se sentiam tristes, não eram muito diferentes dos humanos, nesse quesito, quase nenhum ser é muito diferente dos humanos. Mas o fato de ter um corpo lhes custava energia, como o de qualquer ser vivo, eles se cansavam, as energias agora eram finitas.
Jogo a chama de plasma roxo por de baixo de seus corpos e os levito com um pouco de esforço, desculpe pelo comentário a seguir, mas esses dois não são as criaturas mais leves do mundo não.
– Obrigado, Lylian. – Fizun agradece no meio de um ofegar que ele mesmo não parecia muito disposto a expor e para de bater as asas. Por motivos x, minhas mãos coçam para acariciar as penas de Fizun, apenas para saber como era, nunca sequer cheguei perto de um papagaio, calopsita, e outros derivados, geralmente os via sendo vendidos em casas de ração, pet shops e a fins, já vi patos e gansos em lagos dos parques mas nunca cheguei a tocar realmente uma ave.
Fizun já era grande em pé, mas com as asas abertas, assim como acontecia com Nalãn, ele ficava com o dobro do tamanho, apenas sua envergadura já chegava a ser maior do que meu próprio corpo.
Achava impressionante o fato de que os Guardiões se davam o trabalho de escolher uma figura do qual encarnar para possuírem um corpo físico, Moncin por exemplo, encarnara um leão em corpo físico para conseguir interagir de modo claro com seu Herdeiro, Fizun, por sua vez, um falcão pedrês, podia nunca ter chegado a tocar uma ave mas admirava bastante as espécies, rapinas estavam em uma lista especial de apreciação da minha parte. Mas os falcões pedrês não eram assustadores, tinham uma aparência amigável, apesar da nítida ameaça que garras e bico lhe proporcionavam, era uma ave linda, mas agora, perto de Fizun, me sentia estranhamente exposta ao perigo que uma rapina representa para um roedor pequeno.
(...)
Passado mais um tempo, sou eu quem começa a se sentir cansada, e Kalil, como sempre e esperado, percebe aquilo, logo já me preparo para revisar.
– Suba em minhas costas. Já estamos chegando à costa do continente. – após montar conforme o pedido de Kalil, paro de suspender no ar tanto a raposa quanto o falcão e, logo, ambos tomam controle do ritmo em que nos deslocávamos, passando a acelerar consideravelmente nosso deslocamento.
Em questão de minutos lentos e quase intermináveis, finalmente avisto a tal costa e, logo a frente se erguendo sobre a areia suja de plástico e comida do dia anterior, a cidade. Passamos por ela e voamos por mais algumas horas.
(...)
Cidades passavam por nós, bairros esquecidos pela metrópole e, cercando esta, cidades a adornavam. Abandonando aquele alvoroço, o bairro urbanizado se ergue tímido sob as árvores, sem dúvidas também estava abandonado pelos os que estão responsáveis por ele. As estradas não eram muito conservadas, mato crescia sem controle e as casas pareciam carentes. Logo, mais a frente de todo o bairro arborizado, começamos a perder altitude, nos aproximávamos aos poucos do solo seco e árido. Uma casa tímida estava escondida entre as árvores, isolada dos demais, os vizinhos estavam distantes, pelo menos o suficiente para eu me sentir em quarentena naquela casa. A casa em si era velha e não havia mais nada ali a não ser a estrada riscando o solo verde em secura de grama com uma linha cinza e mal cuidada, torta e rachada. Parecia ser um lugar calmo, calmo até demais, um fim de mundo.
Fizun e Kalil se disfarçam em tamanhos mais propriamente comuns para seus corpos físicos, de preferência, então nos dirigimos em direção a casa e adentro o imóvel primeiro. Apesar de velha, podia-se dar uma melhora no lugar. Uma varrida ali e um espanador aqui já ajudariam bastante. Como as raposa e os falcão já enxergavam naturalmente bem no escuro e eu com os poderes noturnos também enxergava perfeitamente, não foi preciso ter energia elétrica ali, pelo menos nós não teríamos problemas com o escuro, pelo menos não particularmente nos importaríamos com aquilo.
Após limpar a casa e a deixar minimamente aceitável para meu eu interior “dona de casa”, me dou a permissão de explorar a casa. Apesar de possuir dois andares, era pequena mas, por incrível que parecesse, aconchegante. Na garagem, um carro de cor prateada estava desajeitosamente estacionado, não sou chegada a olhar motores, mas sendo uma pessoa com pouca confiança em secundários que mexem com o motor do carro que está sob minha responsabilidade, me aproximo do automóvel e abro o capô, o motor estava empoeirado, mas em boas condições, o carro só não dava uma volta há algum do tempo, e considerando a distância que eu estava do centro, o carro era mais do que bem-vindo agora. Mas obviamente não conseguiria suportar manter do jeito que estava, não sem ter um ataque de sinusite no meio da estrada.
Mas não me preocuparia com isso agora, já estava cansada de carregar balde e vassoura de um lado para o outro, amanhã me ocupo com isso, mas agora precisava me distrair com outra coisa que não apitasse meu problema com coisa desarrumada.
– Há quanto tempo vocês encontraram essa casa e roubaram aquele carro? – pergunto já com os braços cruzados. Era muita coincidência uma casa no meio do nada, isolada da cidade, uma floresta, um carro na garagem e, apesar de não ter verificado realmente, energia elétrica.
– Não tenho a menor ideia do que está falando. – apesar da voz do Guardião ecoar em minha mente, Kalil estava empoleirado no sofá, a cabeça descansando por cima das patas, não parecia muito interessado naquela discussão.
Irritada, me aproximo do monitor elétrico e acendo as luzes da casa. Após minha bela demonstração, me viro para a raposa mordendo a língua em um dos cantos da boca com os braços cruzados, apesar de saber que Kalil já sabia dos nomes ao qual havia o submetido no calor do estresse, não tenho coragem nenhuma de dizer qualquer um deles em voz alta. Além de que na minha mente quem manda sou eu e Kalil só está ali por necessidade e obrigação.
– Que tal conversarmos sobre isso sem que eu desafore qualquer nome de título não apropriado? – sugiro e percebo um olhar afiado de Fizun para Kalil, a raposa continuava de olhos fechados mas agora parecia dar mais atenção a seu ao redor. Logo, abre os olhos e ergue a cabeça do repouso, logo me encarando.
– Quando sua mente trabalha parece um terremoto barulhento em nossa conexão, poderia tentar se acalmar? Por favor. – Kalil comenta, agora não tinha o tom calmo da noite anterior, estava cansado, e toda aquela viagem parecia ter exigido mais dele do que eu mesma imaginava que poderia ser possível, não é como se fosse algo comum ver Kalil desse jeito, esgotado.
O olhar cai para Fizun e então torno o olhar para a raposa, não estava verdadeiramente irritada, mas uma pontada de decepção me desafiava a os obrigar a dizer a verdade, sobre todo aquele plano, aquela casa, tudo, e o falcão, por sua vez, suspira.
– Desculpe, Lylian. Mas nessas circunstâncias não tinha como dizer-lhe nada sem que se tornasse altamente suspeito para você e sua percepção quase o tempo todo desconfiada. – a voz de Fizun estava tão oca como antes, na minha mente seu tom parecia sempre tão desinteressado, exatamente o oposto de Kuren, sua curiosidade me divertia e havia senso de humor no Guardião da Terra, mas o do Ar não parecia portar do mesmo humor, na verdade, conseguia ser tão sério quanto Yong, mas não é como se ele estivesse errado sobre o comentário em relação ao meu dito cujo.
– De quem é essa casa?
– Bom, não é de ninguém, pelo menos não mais. O homem que morava aqui faleceu a poucos meses e tiraram os pertences dele, mas deixaram os móveis. Como o pagamento está em dia, só no próximo mês terá problemas com a energia. Mas não vamos ficar por tanto tempo assim então, no momento, não tem nada com o que se preocupar. – explica Fizun e suspiro aliviada por eles não terem eliminado ninguém, exatamente no sentido primário. Se foram capazes de se livrar de nossas famílias para nos arrastarem para dentro de uma floresta com mais facilidade, eram muito bem capazes de fazer aquilo de novo e atrair o Herdeiro de Fizun até essa floresta, na verdade, estou surpresa por estar em uma floresta particularmente parecida com aquela, e não ter nenhum tipo de surto de ansiedade com as lembranças muito longe de serem bem-vindas.
De repente, Kalil se levanta e se dirige até o andar de cima. Alguns segundos depois, retorna com uma caixa branca flutuando no ar próxima a sua cabeça, então, a caixa é repousada sobre a mesa atrás de mim. Ao observar o conteúdo por dentro, acabou que o que eu imaginava estava certo. Um celular.
Havíamos nos livrado dos nossos antigos ao percebermos que, ainda enquanto dentro da cidade, tentaram nos rastrear. Mas já faz meses que nos livramos dos celulares e mesmo que, por algum milagre, eles consigam nos rastrear, irão parar no meio do mar.
– Devo perguntar como conseguiu isso?
– Roubei. Mas se pesar muito sua consciência, eu clonei um dos aparelhos na loja e trouxe para cá. – a sinceridade de Kalil era um trunfo questionável.
– Pelo menos pegou um que não sentirão falta ou foi o primeiro que viu na vitrine de exibição?
– Vitrine de exibição.
– Kalil!
– Criança, esqueceu que tivemos que falsificar um cheque de legalidade para podermos ficar com você? Se não se comportar como uma pessoa de alta classe mínima, chamarão a polícia. – explica Kalil, a falta de humor se tornava ácido na voz do Guardião.
– Vocês poderiam simplesmente se manter invisíveis aos olhos indesejados, mas parecem estar dispostos demais à esse plano para o mudar tão em cima da hora. – digo e, em resposta, apenas recebo o olhar cautelosamente gélido de Fizun, algo nele fazia-me querer me afastar, mas não é como se ele fosse me atacar na frente de Kalil.
– Está bem, não é como se todos estivéssemos dispostos à esta discussão. Mas como vou fazer para manter a casa como minha? Lembrando que a casa ainda é das pessoas parentescas do idoso falecido.
– Mais uma vez estamos um passo à frente de você, Lylian, já cuidamos disso também. – ao Fizun dizer aquilo, a campainha toca, quase que em sequência combinada de sua frase.
Sabendo que queriam que eu atendesse a porta, me dirijo até esta e abro. Um casal estava do lado de fora, o homem segurava um papel digitado com linhas a serem preenchidas com assinaturas e uma caneta, a mulher por sua vez segurava um chaveiro de uma marca de cerveja desconhecida para mim de onde pendiam duas chaves gêmeas. As chaves da casa, um documento de venda, algo sibila em minha mente, mas não era a voz de Kalil e tão pouco a de Fizun.
Observando melhor, o casal era estranho, parecia mecânico. O olhar estava vazio, distante, tão ocos quanto os de uma estátua de madeira mas, nas órbitas das pupilas, um aro cinzento quase prateado como o de uma auréola rodeava o ao redor das pupilas, brilhantes, era Fizun, é claro, estava os controlando, isso é estar “um passo a frente” para ele, um manipulador, isso era o Senhor do Ar. Os da Água são clarividentes, os da Luz são telepatas, os da Terra são teletransportadores, os da Escuridão telecinéticos, os do Fogo são aterradores, mas ser manipulador... Isso está além do que eu considero compreender.
Fugindo de meu próprio devaneio, não consigo me conter e encaro Fizun, a mesma auréola circulava seus olhos mas, ali, brilhava realmente como prata, nele a auréola era visível e ele queria que fosse visível, queria que eu visse do que ele é capaz. O manipulador não é exatamente um telepata, mas parece entrar na mente das pessoas igualmente a um mas, pensando de cabeça fria, o clarividente também é meio telepata, ou não conseguiria ver pelos olhos das outras pessoas, assim como os da Escuridão, a telecinese está em um campo mais físico mas ainda assim exige muito mais do mental do portador dos poderes do que de sua força, além de que, quando me conecto com as sombras ao redor de alguém para encontrar um tipo de mana ao qual seguir depois estou, tecnicamente falando, usando um lado telepata, não estou?
Minha cabeça dói aos pensamentos agitados e insilenciáveis e me obrigo a parar de pensar naquele assunto e recolher tanto as chaves quanto o documento, assinar com a caneta que o homem segurava, e entregar o papel e a caneta de volta a ele. Logo, o casal se retira em silêncio absoluto, pareciam nem respirar direito e quase me preocupei com a ideia de Fizun dar fim àquilo ali mesmo.
– Como você fez isso? – a pergunta estúpida fora mais rápida que minha razão silenciosa mas Fizun, por sua vez, parecia estar em descanso fisicamente, quase se esquecendo de que eu estava ali.
– “O controle de um corpo está em completo perigo quando exposto vulnerável à um Manipulador”. Imagino que já reconheça que tipo de Senhor eu sou. Posso fazer o que quiser com o corpo dos seres vivos. Assim como fiz com sua voz e não deixei que saísse. – responde como se fosse a coisa mais simples do mundo, tão simples quanto rotina em uma quinta-feira tranquila, os versos ditados, já os vi antes em algum lugar, mas onde?
– Claro, o ditado te torna previsível. – balbucio ao manear com a cabeça em negação, neste momento, tudo o que Fizun diz se repete em minha mente como se estivesse em uma língua tão distante e perdida no tempo quanto a minha. Não importa o quanto tentasse, nunca saberia o quão extensa é a mente de um telepata. E se eu estiver certa quanto o pensamento anterior, se Fizun realmente controla pessoas, tanto os do Elemento do Ar quanto os da Luz são telepatas mas, se só com Jesy e Yong, Herdeira e Guardião, deu uma briga infernalmente cansativa e exaustiva para todos os próximos envolvidos ou não no conflito, imagine com mais dois telepatas na casa!? Uma vez que entrassem em discórdia como aconteceu entre Jesy e Yong, não demoraria para a ilha ser dividida em dois, dado que para os Senhores do Ar arrancarem o oxigênio dentro de um corpo seria tão fácil quanto esvaziar uma piscina de criança, dois ainda que conseguem fazer isso seria de óbvio perigo! E o pensamento de que, naquela briga, o máximo que eu poderia fazer era torcer para que o Herdeiro digno se dê bem com seu Guardião me amaldiçoava, não é como se eu pudesse simplesmente entrar naquele conflito sem ser eliminada em menos de dois tempos.
– Vá descansar, criança. Terá que flexionar sua bateria social mais uma vez para conseguir conquistar a confiança de algumas pessoas amanhã. E não se preocupe, não estamos na região onde você nasceu, pelo menos por enquanto vamos tentar nos manter ao máximo evitando aquela região. – avisa Kalil e, em resposta, assinto com a cabeça sinceramente aliviada com a última parte. Subo para o andar superior e vou em direção ao quarto de hóspedes que havia encontrado enquanto organizava a casa, até porque, para mim, dormir na cama do falecido seria uma falta de respeito até comigo.
Chegando no dito quarto de hóspedes, me encontro em um cômodo com paredes inteiramente brancas. A cabeceira tinha base de madeira escura, assim como as hastes da janela; a cama de solteiro era larga e coberta por um edredom com fundo preto e estampa de flores brancas e amarelas. Me dirijo até o armário e encontro as tais roupas que haviam me avisado nele.
Me dirijo para o banheiro no corredor que também era inteiramente branco com alguns detalhes aqui ou ali em cinza. Pego uma toalha, que havia encontrado no armário, e vou tomar logo um banho, a sensação de suor era incômoda.
(...)
Ao sair do chuveiro, visto uma camiseta preta sem estampa e a saia branca que Valkin tinha no armário de mármore em sua mansão, que agora está destruída e os escombros enterrados com todo aquele ouro.
Só de me lembrar dele e dos momentos em que parecera ser um amigo, sinto uma pontada no peito juntamente com uma mistura de raiva e repulsa. Infelizmente, para mim e para ele, a raiva sempre vence quando me lembro do consagrado que ultimamente tem sido um item destaque na minha lista negra.
Me deito na cama e tento dormir, deixando Kalil e Fizun sozinhos no andar de baixo, logo, me afundo no inconsciente, finalmente conseguindo desligar minha mente dos pensamentos agitados.
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§Guardiões da Terra 2: Treinando o Herdeiro do Ar§ [SENDO REESCRITO]
Science Fiction§SEGUNDO LIVRO DA QUINTUOLOGIA DEUSES ELEMENTARES§ Fizun precisa da ajuda de Lylian para encontrar seu Herdeiro, mas Alex terá que dar um jeito em seu ciúmes para não atrapalhar o plano de Kalil para encontrar o Herdeiro de Fizun o mais rápido possí...