"Se ao menos eu tivesse um coração."
-Homem de lata, O mágico de Oz.A televisão estava ligada.
"O incêndio se alastra ao longo da floresta que se situava perto do salão de festas em que Aurora Collins cediu sua festa de dezesseis anos, festa essa na qual sua colega de classe, Carol Candance, desaparecera. O salão ficou destruído, bem como toda a região. O carro que Luke Albefort dirigia explodiu, e o garoto foi escoltado até a delegacia de polícia. Segundo informações adquiridas, foram encontradas no fundo do armário escolar de Luke as seringas que continham restos de sangue, e os peritas forenses estão nesse exato momento estudando o DNA para saber se bate com o de Carol. Uma pessoa anônima filmou Luke, encapuzado e de luvas, cavando um buraco no meio da floresta, pouco antes dela pegar fogo. Ainda não conseguimos descobrir que pessoa foi essa. Os bombeiros ainda estão tendo dificuldade para apagar o fogo".
Os dedos da pessoa passaram pelas teclas do piano que estava encostado no canto do local. As notas soaram uma atrás da outra, e a pessoa pegou seu copo com Martini, o bebendo através de um canudo. Em seguida, sentou-se e começou a tocar a música "Oh Holy Night".
Havia caixas por todo o local, e na mesa de canto havia um jornal, aberto na parte de classificados. A pessoa circulara o endereço do local que se interessara para comprar. E agora estava ali. Havia várias luvas recém compradas do lado, bem como capuzes pretos e máscaras. Várias máscaras, sendo uma delas de porcelana. Imitava o rosto de uma jovem garota.
A pessoa pegou o cachorro quente que comprara no meio do caminho, deixado no prato ao lado do martini. Como era gostoso aquele cachorro quente. Suas mãos ainda estavam enluvadas, mas estava se adaptando ao conforto do tecido. Era uma boa sensação. No fim da refeição, deu outro gole em seu martini.
"Ainda não temos informações dos motivos que levaram Luke a queimar o bosque. Queimar o cadáver de Carol para que não a achassem? Isso certamente será um choque para Aurora Collins, pois segundo informações de colegas de sua classe, eles dois eram melhores amigos".
A pessoa não pôde deixar de ocultar uma gargalhada alta. Também não conseguiu ocultá-la ao invadir o quarto de Luke, bem como não conseguiu se controlar ao vê-lo sendo levado com os policiais. Aquela cidade sempre fora uma chatisse. Pessoas vivendo suas vidas normalmente, as crianças indo até a escolinha, os casais se beijando apaixonadamente, todos escondendo segredos, trabalhando, orando, estudando, confessando os pecados. Já havia se cansado de tudo aquilo. Greenworsh precisva de um agito. E o agito estava sentado em frente ao piano, com copo e prato vazio no colo.
Sua rouoa tinha leves sinais de fuligem. Quase se queimara durante o incêndio que provocara. Se certificara de molhar bem o local, para que o fogo consumisse bem tudo que ali estava. Aquele local deveria deixar de existir. E agora não adiantava mais chorar pelo leite derramado - ou no caso, pela gasolina derramada. O que estava feito, estava feito. Fim. Buá.
Seu olhar passou pelo local. Havia diversas fotos coladas nas paredes. Fotos de Lucy Hall, fotos de Elliott Montgomery, de Maureen Hale, de Aurora Collins, de Kate Morris, de Niall Stewart, de Bianca Keegan. Haviam fotos de diversos alunos da Greenworsh High. Um barbante recém posto de uma ponta a outra prendia diversas fotos recém tiradas de outras pessoas. Os pais dos alunos. Shelly conversava com a mãe, parecendo chateada. Justin Keegan agarrava o braço do pai em outra. Havia fotos da família de Aurora comendo juntos na mesa de jantar. Seus dedos passaram por essa foto em específico, se demorando ali. Seus olhos foram para a foto de Kate Morris em seu quarto, com a cara de quem viu uma assombração. Graças ao flash de sua polaroid, que estava na mesa ao lado das luvas, ela não reconhecera seu rosto. A pessoa beijou sua foto. Kate era sua favorita, pois graças a ela tudo aquilo estava acontecendo. Sua história era mais dolorosamente linda de todas. Havia fotos de Luke dormindo tranquilamente, sem fazer ideia de que não estava sozinho. Naquela noite ele com certeza devia estar muito mal por causa de seu pai. A pessoa se certificou de mandar os links das notícias do desaparecimento de Carol para o pai de Luke no instagram, pois quando invadira seu quarto na ausência de Luke, viu uma cartinha que ele nunca enviara ao pai, dizendo o quanto estava melhor sem ele todos aqueles anos, o acusando da depressão. Lá estava o nome dele. Uma pesquisa rápida na internet e BUM!
A pessoa amava essas fotos. Mostrava o quanto tinha poder de observar em silêncio. Gostava da sensação de controlar a vida das pessoas. Eram seus bonequinhos. Comandados pela pessoa atrás da polaroid. Seus dedos passaram pelas fotos de Aurora, Kate e Luke dançando animadamente na casa de Aurora. Fotos de Aurora e Lucy fazendo compras juntas.
Haviam facas recém compradas em cima de uma caixa. Uma furadeira, dois martelos, e uma corda estavam no chão. Ainda haveria bastante tempo para organizar aquele lugar direito. A chave de seu citroen preto estava sob o piano.
Havia seu notebook. Estava conectado a sua impressora, que fazia cópias das fotos. As fotos que Ross Schotz tirara para ele na festa estavam empilhadas ao lado da impressora. Ross era um querido. Lhe ajudara muito tirando aquelas fotos. A pessoa abriu o tumblr "GreenBombShell", acessando com a senha e o e-mail que todos os alunos tinham. Não pôde deixar de postar a foto de Luke saindo do carro de sua mãe, olhando ao redor para conferir se havia alguém por perto. Postara através de seu celular descartável. Postara com a legenda "Um criminoso sempre volta ao local do crime :3". Já havia diversas curtidas e comentários. Reblogs aumentavam a cada segundo.
"O LUKE É O CULPADO???"
"QUE PORRA É ESSA??? QUEM TA POSTANDO ESSAS COISAS???"
"Sempre soube que havia algo de estranho nele!"
"Uau. Ainda está usando um capuz. Medo desse garoto"
"Me parece forjado isso. Alguém denuncia para a policia???"
O celular que Luke deixara cair estava ao lado do computador. Mas Luke não voltaria a ver aquele celular nunca mais. Já fora destruído a marteladas. Os pedaços caiam no chão, pedaços cuja a pessoa que fizera isso pisava sem dó. Os galões de gasolina estavam vazios debaixo da mesa do computador. O isqueiro estava no chão, deixado ali por deseleixo.
"Liguem na TV! Tao falando sobre o Luke! Ele estava procurando o corpo da Carol na floresta! Ele queimou tudo para se livrar da culpa!!!"
"Nao acredito que era ele o tempo todo. Mas pq ele fez isso? Estou tao conduso ele nao era novato?"
"Ele conversou com a Carol no primeiro dia dele na escola! Por isso escolheu ela."
"POR ISSO A KATE ESTAVA TENTANDO CULPAR OUTRAS PESSOAS ELA O ESTAVA PROTEGENDO VOCES NAO PERCEBEM? POR ISSO AURORA DISSE QUE NAO SABIA! ELA É UMA CUMPLICE"
"Deus finalmente o caso está chegando ao final".
Ah, mas não mesmo. Aquilo estava longe de acabar. O jogo estava apenas começando. E a pessoa mal podia esperar para destruir a vida e a linda sanidade de todas aquelas pessoas. Todos com suas vidas aparentemente felizes. Mas tudo iria mudar. Iria se certificar que todos enlouquecessem.
A pessoa fechou o Tumblr, abriu o Youtube e procurou a trilha sonora do filme "Cisne Negro", colocando a playlist para tocar. Se encaminhou até o espelho pendurado na parede, com várias fotos de Carol ao redor. A pessoa fizera praticamente um mural com fotos dela sorrindo. A pessoa passou as mãos pelos longos fios loiros e enrolados que caiam por seus ombros, e deu um sorriso travesso. Pegou um batom de cor rosa claro, o mesmo usado na noite do dia 24 de Dezembro de 2019, quando Aurora ouviu o cover de "Oh Holy Night", e começou a cobrir seus lábios com ele. Era uma cor que combinava.
O sutiã estava incomodando debaixo da camisa e do casaco, mas não a ponto de fazer a pessoa tirar. Seus saltos fizeram barulho quando a pessoa atravessou o local até o outro canto, que havia um freezer ligado na tomada cheio de gelo dentro. A pessoa pegou o antigo alicate de sua casa e abriu a tampa.
Lá, no meio de tanto gelo e frieza, estava o corpo que Luke vira enterrado. O corpo que já estava se decompondo bem graças a ação natural da terra. Seus fios loiros estavam visíveis. A pessoa puxou mais o corpo para fora do gelo, segurando o alicate. Analisou o belo rosto sem vida, em conserva. Se preparou para o alicate entrar em ação. O serrote estava ao lado do freezer, e seria usado posteriormente. Uma das vantagens de se ter um corpo não identificado, e muito menos procurado, no próprio freezer, era que poderia fazer dele seu boneco em tamanho real. Mas o boneco agora não conseguiria mais sorrir. O alicate entrou em ação.
Já se cansara de brincar apenas com fotos. Era hora de brincar com partes de corpo.
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O Mal Infiltrado (LIVRO 1) - Mistérios de Greenworsh
Fiksi RemajaAVISOS: Esta história contém cenas de morte. Já passou pela experiência de algo simplesmente sumir de repente? Como o celular que você jurou ter colocado em cima da mesa, de repente, puf!, sumiu? Mesmo sem explicação alguma? Bem, em Greenworsh isso...