Capítulo 02: P/3

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O SILÊNCIO É UM AMIGO QUE NUNCA TRAI - autor desc.
Pov. Christian

-Bem, só me resta saber se você gostaria de continuar trabalhando na Guiavila Rivera quando, ou se porventura… - Ele se detém de repente. - Perdoe-me o atrevimento, acredito que esse assunto deve ser deliberado em família.

-Agora sou eu quem não está conseguindo assimilar os fatos. Onde o senhor pretende chegar com essa conversa? - O olhar de suspense de D.L. me deixa alarmado. Ele não disse todas essas coisas por mero descuido.

- São suposições, meu jovem, apenas suposições. Fique calmo. Eu me expressei mal e peço perdão por isso.

-Seus argumentos parecem um tanto controversos uma vez que… - minhas palavras pairam no ar perante o olhar frio de D. L. mas consigo formular uma frase completa. - Eu… Não sei o que está fazendo, tampouco o que você sabe  sobre a G.R ou mesmo os planos que tem para ela no caso de uma possível compra e lamento decepcioná-lo, mas ela não está à venda.

- Em algum momento eu disse que ela estava? - De maneira bastante enfática, ele me responde com outra pergunta. - Eu não tenho interesse no prédio, Christian, talvez no espaço. 

- O senhor tem ideia do quanto pessoas trabalharam duro para construir e o mais importante transformar aquela empresa no que ela é hoje? E o senhor, não satisfeito em monopolizar diversas microempresas e falir outras inúmeras, quer comprar mais esse prédio e ainda por cima para demolir.

- Essa é uma das regras de sobrevivência: a sociedade é uma pirâmide, a minoria sempre vai estar no topo, enquanto que a maioria fica lá embaixo servindo de suporte. E você entendeu tudo errado. Eu não mencionei as palavras compra e demolição - pronuncia calmamente, o que me irrita mais ainda.

- Não pode estar falando sério. "Regra de sobrevivência?" - Ponho as mãos nos quadris, descrente. - Que tipo de pessoa é você, afinal?

- Vejo que acabei falando o que não devia. Perdoe-me o rumo que a nossa conversa tomou, sobretudo porque não nos conhecemos direito. Tenha uma boa noite, Christian.

- Não vai mesmo dizer o que está acontecendo? - Me posiciono na frente da porta bloqueando-a. O magnata, porém,  não se incomoda nem um pouco com a minha postura e, por um instante, noto um olhar sagaz me avaliando minuciosamente da cabeça aos pés.

- Vejo que seus pais resolveram abster-lhe de "certos acontecimentos", no entanto, não sou eu quem vai quebrar o sigilo deles - balbucia. -  Poderia, por favor, dar licença. Está bloqueando a porta se é que me entende.

Nesse exato momento, meus pais retornam à sala. O nem tão querido convidado está de saída, e eu já não bloqueio mais a porta.

Meu pai acompanha seu velho amigo até o carro, trocam algumas palavras as quais eu nem tento ouvir porque é antiético. Depois que o magnata se vai, ele se senta no sofá e faz um gesto para que eu me sente ao seu lado. Mesmo contrariado, decido não fazer objeções.

- O que você pensa que está fazendo? Estava discutindo com um homem como Dalton? - Percebo tamanho descontentamento em seu rosto. Ele parece estar cansado. - Por que fez isso, Christian? - sua fala sai condescendente apesar da situação ser bem delicada.

- Lembra de hoje mais cedo quando me perguntou se confiava em você? Sabe que confio e, quanto ao senhor, confia em mim? - questiono sem rodeios.

- Você não respondeu a minha pergunta.

- Você não responde nenhuma das minhas, pai. Eu sei que você está pensando em vender a GR para o seu amigo. Também sei que o senhor me deu dois meses, lembra? Quem não é digno de confiança agora?

- Christian, entenda, seu irmão está muito doente. Precisa de cuidados médicos com urgência!! A vida dele corre perigo e você deveria tentar ajudá-lo em vez de ficar bancando o adolescente rebelde inconformado com a vida que tem.

- Você quebrou a promessa que me fez. Como eu poderia reagir diferente? - contra-argumento.

Eloíse, que até o momento não havia se pronunciado, se mostra bastante indignada comigo.

- Meu filho não vai esperar dois meses em uma cama de hospital porque esse egoístazinho insuportável não consegue segurar a língua dentro da boca. - Aponta o dedo indicador na minha direção. - Tudo isso só está acontecendo por sua causa. Você acha que é especial, não é, seu mimado? A verdade é que você não passa de um homem arrogante, inconsequente e altamente desprezível que ninguém suporta e que adora se fazer de vítima nos momentos oportunos.

- Penso o mesmo sobre você, "mamãe”- disparo com furor nos olhos.

E  ainda assim não consigo evitar que a chuva de palavras ríspidas me atinja como uma flecha envenenada, machucando ainda mais uma ferida que nunca irá cicatrizar dentro do meu peito.

Isa.

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