Capítulo 15

210 32 30
                                    

Capítulo dedicado a HyaraLeite

- Dehayne, o que está fazendo? - Christian pergunta, fitando-me com curiosidade.

- Nada. Só estava tentando sair da cama para ir.. Bem, ir ao banheiro. - Minto e muito mal. - E teria conseguido se você não tivesse no meu caminho. - Tento parecer séria.

- Deveria ter saído pelo outro lado.  Você está com cara de quem está aprontando.

- O quê? Não confia em mim?

- Eu deveria?

- O que está insinuando, senhor certinho? - Cruzos os braços, tentando sustentar os meus argumentos.

- Nada. Pensei bobagens. Volta a dormir.

- É exatamente o que vou fazer.

- Não estava indo ao banheiro? - pergunta, lançando-me olhares acusadores.

- Passou a vontade, agora se vira pra lá, não gosto de dormir com pessoas me observando. - O vejo sorrindo pela primeira vez de algo que falo sem parecer irônico.

***

Desperto um pouco sonolenta. O Christian já não está mais na cama, mas o barulho abafado do chuveiro me lembra que ele ainda está em casa.

Olho em volta procurando algo interessante pra espionar.

- Talvez nesta cômoda tenha algum álbum de fotos de família. Essas fotos sempre rendem boas histórias. E quem sabe posso conhecer mais sobre o passado do Christian.

Forço a fechadura de uma das gavetas do móvel e só depois de muito tentar percebo que é em vão. Não vai abrir. Ele deve ter trancado à chave.

- A chave está na segunda gaveta se quiser continuar me espionando.- O comentário me assusta, porém atiça a minha curiosidade.

- Eu só queria saber o que tem dentro. - O argumento é evasivo.

- Encontrar uma porta trancada não é o suficiente pra você ficar longe?

- Talvez devesse ter um aviso dizendo:  "não se aproxime" ou algo parecido.

Ele entra no closet, me ignorando. E mesmo tendo um constante aviso pra que eu não me aproxime do móvel  abro a segunda gaveta, pego uma chave dourada e coloco na fechadura girando-a. A porta destrava. Abro-a e me deparo com algumas anotações escritas à caneta. Há também dois porta-retratos com fotos de pessoas bem bonitas. Uma delas é de uma mulher jovem de cabelos negros e sorriso doce. Ela tem olhos verdes e sorriso meigo. É idêntica ao Christian.

A outra tem dois jovens. Um loiro, sorridente de olhos verdes e vívidos. O outro tem olhos excessivamente  azuis e chamativos, cabelos escuros e um rosto bem delineado. Por Deus! Ele não mudou muito. Só ficou mais bonito com o tempo e mais másculo. 

- Por favor, não começa a revirar meu passado, eu fico com meus problemas e você com os seus. - Me viro para ele,  assustada e na tentativa de devolver os objetos depressa para o devido lugar acabo derrubando um deles no chão. - Olha o que você fez! - Se ajoelha pra pegar o porta-retrato da jovem de cabelos negros que se quebra.

- É só uma foto. E eu não fiz por mal. - Meu argumento não é suficiente pra amenizar o que ele sente; e uma expressão de total seriedade estampa o seu rosto. Vejo mágoa, dor e tristeza em seus olhos com bastante nitidez.

- Sai do meu quarto, por favor! - pede apontando à saída, sem ao menos me dirigir o olhar e sem nenhuma cordialidade.

***

Christian

- Pode me dar uma carona pra escola? - indaga Dehayne, como se não tivesse acontecido nada hoje mais cedo.

- Eu saio em cinco minutos. Se ainda não tomou café da manhã, se apresse.  - respondo saindo da mesa.

Ela sobe para o quarto e fica um tempão lá em cima. Deve estar se  atrasando de propósito.

- Quanto tempo ela vai ficar lá em cima me fazendo raíva? Já passou das 07:30h, mãe. Digo Eloíse - corrijo depressa. Ela revira os olhos odiando a minha atitude, mas não prolonga o assunto.

- É algo que você tem que aprender sobre as mulheres. Elas demoram pra se embelezar, porém, quando são pressionadas se atrasam de propósito.

Dou de ombros, irritado.

- Podemos ir, Christian - anuncia. O excesso de maquiagem deixa Dehayne mais velha. Continua bonita, porém sem a inocência de antes no rosto. -
Já vi que vou chegar atrasada hoje e a culpa vai ser exclusivamente sua.

- Sério, Dehayne? - Poderia ter ido a pé. Uma caminhada faz bem para refrescar as ideias e pra saúde mais ainda.

- Da próxima vez vamos juntos. - Devolve o gesto irônico.

- Coloca o cinto de segurança, por favor. E se quiser baixar o vidro não o faça. Vou ligar o ar condicionado. 

- Gosto de respirar ar puro. - Dá uma rápida pausa para colocar um batom de cor carmim nos lábios - Mas hoje, como estou boazinha, vou permitir que faça como achar melhor.

- Muito bem - limito-me a dizer. O celular entretém a garota-problema por um tempo, depois ela o guarda na bolsa e puxa conversa novamente. - Olha, me desculpa pelo o que aconteceu na empresa e hoje mais cedo. Eu não queria magoar niguém. - Suas palavras parecem sinceras, mas se tratando de DEHAYNE Lacerda e tudo o que é associado "aos Lacerdas" todo cuidado é pouco.

- Tudo bem.

- Tudo bem? É só isso que tem a dizer? Eu sei que você me odeia. Está no seu direito, mas só peço que entenda o meu lado. Conhece quantas garotas detentoras de heranças bilionárias que se casaram aos 17? Eu tinha uma vida, Christian.

- Não sei te dizer. Porém, preciso ressaltar que a culpa não é minha.

- Ah, então é minha? Sou filha de um desvairado inconsequente, que entregou sua herdeira legítima a um semelhante e.. - Freio bruscamente encarando-a, com os nervos à flor da pele.

-  É bom saber que não se arrependeu de nadinha do que fez. - Retiro o cinto de segurança, saio do carro e abro a porta do carona. - Você desce aqui.

- Você enlouqueceu? A freada  bagunçou o seu juízo? Faltam dois quarteirões para chegar à minha escola. E não vou a pé.

- Não quer descer? Perfeito. Vou te levar para a empresa! Você tem muita sorte porque a Jhey é uma pessoa maravilhosa e pode te dar umas aulinhas de etiqueta.

- Ela poderia me ensinar também como ser uma amante submissa ao meu chefe safado, que finge ser certinho, mas que na verdade não passa de um ser arrogante, falso e dissimulado.

- Crise de ciúmes outra vez, Dehayne? Devo lembrá-la que nosso casamento não passa de um contrato. Não confunda as coisas. - Ela não rebate, apenas sai do carro morrendo de ódio rumo à escola.

- Dehayne, me desculpe o estresse, eu te levo até a sua escola. - Ela não diz nada, apenas continua caminhando. -  Estou falando com você! - Me coloco  no seu caminho, bloqueando-a.

- Saia da minha frente, Christian. Prefiro ir pra sarjeta do que passar mais um segundo sequer ao seu lado. Eu odeio você. Era isso que queria ouvir? Já ouviu. E mais uma coisa: não precisa vir me buscar depois da aula, dane-se o contrato, dane-se você.

Isa.Facinelly

APENAS UMA RAZÃO PARA AMAR VOCÊ Onde histórias criam vida. Descubra agora