Capítulo 04

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CRISTIAN

Tomado por uma ira incontida me dirijo para o meu quarto, sem dizer mais nada. Tenho certeza que a expressão em meu rosto fala por si só. 

Me jogo em cima da cama e cubro meu rosto com um travesseiro. E algum tempo depois ouço murmúrios vindo do outro lado da porta, no corredor. Minha cabeça, que antes doía, só piora quando levanto e percebo duas figuras de pé, me observando.

Sento-me na cama e cruzo os braços, encarando ambos.

- Suponho que ainda não perceberam, mas estão me incomodando. Podem fazer o humilde favor de sair. - O sarcasmo em minha voz é evidente. Meus pais não sabem o que é o significado de ser humilde.

- F-filho, precisamos conversar. Por favor, escuta o seu pai - Sr. Rivera é o primeiro a se pronunciar.

- Eu não tenho nada pra conversar com vocês. Tenho certeza que já ouvi  o suficiente.

- A Eloíse quer falar com você. Ao menos ouça.

- Só quero pedir desculpas pelo o que  eu te disse. Eu sei que errei. Errei feio.   Esses últimos dias tenho me sentido aflita por causa do Noah. Você me perdoa?

- Guarde sua hipocrisia pra si mesma. Não são as suas desculpas rasas que irão me fazer mudar de ideia.

- Cristian, está sendo intransigente, sua mãe está arrependida e quer se retratar com você - meu pai insiste. - Dê uma chance a ela.

- Por favor, os dois, saiam do meu quarto - aponto a saída, exasperado.

- Tente entender. Você não me deu escolha. E o seu irmão...

- Eloíse, quero você fora. Do meu quarto. Da minha vida!! - digo sem nenhum pesar. - E o senhor, meu pai,  não me olhe desse jeito.

- Cristian, não entendo essa sua implicância com a Eloíse, ela é sua mãe - alega, e sinto vontade de rir.

- Mãe? Ela é minha mãe? Que brincadeira de mal gosto. Você - aponto para o meu pai -, melhor que ninguém sabe o quanto eu me esforcei pra me encaixar nos padrões desta mulher. Ela NUNCA se importou comigo. Me fez odiá-la quando eu busquei o amor dela e agora quer me manipular com esses discursos fajutos? Ainda há tempo pra buscar uma vaga de bruxa má nos filmes da Disney. Você atua tão bem. - Bato palmas de um jeito irônico. 

- Por que todo esse ódio, filho? Você entendeu tudo errado. - A voz chorosa só mostra o quanto Eloíse é muito pior do que realmente parece ser.

- Por quê? Pensei que fosse algo recíproco, "mamãe". Posso listar alguns motivos se a amnésia afetou a sua capacidade de lembrar das crueldades que fez comigo. Ah, por onde eu começo mesmo? - Pressiono meu queixo com indicador e o polegar fingindo estar pensativo.

- Não é bem assim!! - balbucia.

- E como é? Vai negar que arruinou a minha vida propositalmente todas as vezes que teve a chance? Que acabou comigo no momento em que afastou o meu irmão de mim, porque "eu não era boa influência pra ele". Quer que eu continue, " mamãe"?

- Abelardo? - Ela encara meu pai. - Não vai dizer nada ao seu filho?

- Vamos dormir, Eloíse. Hoje o Cristian está irredutível. Não dá pra conversar com ele agora. - Bato a porta com força após eles sairem.
                            
                         *****
Acordo morrendo de sono após uma noite mal dormida. E mesmo sem ter um mínimo de vontade de ir  trabalhar, me obrigo a tomar banho, vestir algo decente, pegar os materiais de que preciso e sair para à empresa.

Tento ler alguns contratos, mas as minhas pálpebras estão pesadas demais para manter meus olhos abertos. Preciso de um café.

Analiso uma, duas, três páginas. Parecem infinitas. As letras minúsculas não ajudam. O cansaço, o estresse também não. De repente, meus olhos pousam em uma foto, no canto da mesa, em um porta-retrato.

Noah está comigo. Seu sorriso encantador me faz lembrar de como éramos felizes apesar das opiniões contrárias da mãe dele. Eu nunca deveria ter soltado à sua mão, Noah.

As palavras ásperas proferidas por Eloíse voltam a me perturbar. Não posso ter me tornando um monstro insensível, incapaz de enxergar os erros que cometi no passado.

Flashs de memórias surge em minha mente. Só consigo pensar em como aquele garotinho de olhos vividos, sorriso perseverante se tornou um homem tão inseguro. Eu era tão ingênuo. Ingênuo ao ponto de  acreditar que um dia Eloíse iria me aceitar como filho. Ela sempre deixou bem claro que não gostaria de ser associada a mim.

- Bom dia, Dr. Cristian? Está tudo bem? Eu trouxe o seu café. - Tento levantar de uma vez, ainda em transe, e o resultado é o mais dramático possível. Acabo derrubando o café  que a Jhey traz pra mim sobre o meu braço.

- Droga!! - praguejo em voz alta.

- Me perdoe. Foi tudo minha culpa - diz aflita. - Estava muito quente?

- Não vai querer que eu responda. - Faço uma careta, não conseguindo suportar a dor. - Preciso de água.

- Vou pegar uma pomada pra queimaduras.

- Por Favor!!

*****

- Me desculpa. Eu não tive a intenção.

- Tudo bem, Jhey. Já passou. Eu estava destraido e acabei te assustando.

- Prometo ser mais cuidadosa. - Me olha delicadamente após passar uma boa quantidade de pomada no meu braço. Espero não borbulhar. - Precisa de outro café?

- Melhor não, Jhey. Vou evitar café por alguns dias.

- Não quer comer outra coisa?

- E o que a Srta. sugere? - Fito-a com curiosidade, e seu rosto ruboriza.

- Ehh, talvez, não sei ao certo. Digo.. -
Sorrio do seu jeitinho atrapalhado. Seu rosto ganha um tom mais rosado  ainda. - Cristian, eu..

- Se eu precisar de alguma coisa, eu aviso, certo.

- Está bem! E mais uma vez, minhas sinceras desculpas. - Segura uma pasta na mão, contendo alguns documentos. Porém seu olhar permanece fixo em mim.

- Jhey!! Já falei que está tudo bem. Não foi culpa sua. Vamos dar esse assunto por encerrado. - Ela assente. - Aproveitando à ocasião, vê se você consegue uma cópia destes contratos pra eu terminar à análise. Pode ser?

- Sim senhor. Eu já volto. - A Jhey é uma garota extremamente dedicada. É sempre muito eficiente e quase sempre antecipa os meus desejos.  Lamento que ela tenha expectativas tão altas no que me concerne, porque nunca poderei correspodê-la.

Isa.

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