Capítulo 17: P/2

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Dehayne

- Oi, Darcy. Estava conversando com alguém? - Entro na cozinha depois de me despedir da Briseis.

- O Christian. Mas ele já subiu. E sua amiga foi embora? - Darcy permanece entretida lavando alguns cristais na pia.

- Foi. Ela tem compromisso mais tarde, não quis atrapalhar.

- Eu tinha preparando um lanche pra vocês - explica decepcionada. - Suco natural, Cupcakes, bolinhos de chuva.

- Parece uma receita deliciosa.

- Quer experimentar?

- Depois que você me explicar por que o Christian é tão sutil em alguns momentos e tão mal-humorado em outros. O humor dele é bem instável às vezes, sabe. É complicado lidar com essa bipolaridade. - Pego um cupcake da bandeja e começo a beliscar o recheio.

- Deveria conversar com ele. Quem sabe ele se abre com você e os dois entram em consenso - sugere a loira, mudando o assunto.

- Como ele era na adolescência? - insisto.

- Olha, Dehayne, eu não deveria me intrometer nesses assuntos de família  mas vou lhe dizer o que sei. Comecei a trabalhar aqui aos 20 anos, o seu marido tinha 6 aninhos e era um amorzinho de criança. Educado, inteligente, prestativo, gentil, uma criança adorável. E devo destacar que ele já era muito bonito, assim como é hoje.

Não posso negar e é evidente que sim. Mas também devo admitir que o Christian deixou de utilizar alguns dos adjetivos atribuídos a ele.

- ...Então veio a adolescência, o que não foi nada fácil. De tanto infernizá-lo, a bruxa conseguiu o que queria: transformar o enteado em um garoto rebelde. Só que a rebeldia dele só funcionava com ela. Comigo ele sempre foi amável. Ele a odiava muito e o sentimento era mútuo e penso que se perdura até hoje. Era difícil para o pequeno Noah, que é filho da megera e meio irmão do Cristian, lidar com essa situação.

- A bruxa era a Eloíse?

- Ela não é o que parece. Cuidado com ela - adverte. - Certa vez, a megera confiscou todas as fotos da mãe do Christian e as queimou. Restaram algumas porque eu mesma as escondi - relata.

- Quanta crueldade! - exclamo enojada. - E quanto ao Noah. Quem é? E onde ele mora?

- Seu cunhado. - Ela me encara perplexa. - O Cristian não disse a você que tem um irmão quando estavam namorando?

Sinto meu rosto corar de vergonha! "Nunca namoramos ".

- N-nunca tivemos nada, Darcy - me apresso em dizer. - Trata-se de um acordo, algo bem comum nos dias atuais - explico.

- Só podia ser manias de ricos, casar por conveniência. Sim, voltando ao assunto, os irmãos Riveras eram bem próximos antes do acidente que..

- Acidente? - interrompo-a outra vez.

- Não sabe do acidente também?

- Não? Digo, não, não sei.

- Vai ter que conversar com o seu marido pra saber o resto da história. Preciso fazer o jantar.

- Darcy, por favor, preciso conhecer o homem com quem irei conviver nos  próximos meses. E, ao que me parece, ele não está disposto a se abrir comigo - argumento.

- Você tem sorte que a dona Eloíse está viajando. Tem exatamente cinco minutos pra perguntar o que quiser.

- Em qual escola ele estudou?

- Álvares de Albuquerque, uma das melhores instituições do país. Ele era uma ótimo aluno. Tinha notas excelentes e um currículo invejável.

- Acho que ninguém nunca diria algo assim sobre mim.

- O que houve?

- Bem, vamos para à próxima pergunta. O que exatamente deixou ele tão amargo?

- Decepções amorosas, frustração com relação as expectativas dos pais dele e a culpa de quase ter posto fim à vida do irmão. Não sei se você sabe mas o Christian quase se casou, duas vezes, porém o final dessa história é trágico e ele não suporta falar sobre.

- Ele não se casou por quê?

- Uma das noivas desistiu da cerimônia uma semana antes e a outra não se deu o trabalho de aparecer no dia do casamento. Acho que ele nunca superou isso.

- Elas eram bonitas?

- A Ana Luiza, carinhosamente apelidada por ele de Analu, tinha olhos azuis, cabelos ondulados e loiros, era muito educada e gentil,  uma verdadeira princesa. Combinava perfeitamente com ele. E ele a amava muito. Tinha tudo pra dar certo, mas não deu.

- Darcy, eu sou a esposa dele agora! E essa Ana é passado. - As palavras saem da minha boca sem minha permissão.

- Foi você quem insistiu neste assunto devo lembrá-la - provoca, diante do meu nítido surto de ciúmes. - Quer que eu continue? - Balanço a cabeça em concordância. - A outra moça era morena, tinha uma longa cabeleira lisa e olhos castanhos. Mas não era de conversar muito. E possuia uma simpatia forçada quando abria a boca pra falar comigo diante do Christian. Honestamente, fiquei contente que ele não se casou com aquela riquinha metida - admite.

- Ele casou com alguém pior ainda. Sou bem irritante quando quero.

- A Georgia era bem nojentinha, e ainda assim iria se casar com o Christian. Talvez você seja um intermédio entre as ex dele. - Ela me analisa por um instante. - Por isso ele fica tão desconcertado na sua presença.

- Ah, não começa, Darcy.

- Eu falo sério. Você lembra um pouco a Analu, quando está de bom-humor -  comenta. - Talvez ele já tenha notado a semelhança. E quando estar furiosa, a Georgia.

- Sabe se ele tem fotos delas? - Darcy põe a mão no queixo pensativa.

- Eu realmente não sei lhe dizer. - Um sorriso suspeito se forma em seus lábios. - Está apaixonada por ele, não está? Eu vou guardar segredo se você estiver. - Vejo seus olhos brilhando e dou um passo para trás.

- De onde tirou essa ideia? Perguntei somente por curiosidade - me defendo e sinto meu rosto corar. - Vamos à próxima pergunta?

- A última. Preciso deixar um lanche no quarto, para o Chris. E quando voltar tenho de terminar o jantar.

- Espera, só mais uma coisa, as fotografias na gaveta da cômoda. Quem são?

- A moça de cabelos pretos é a mãe dele Kiss Guiavila, era prima de dona Eloíse. O rapazinho loiro, na outra fotografia, é o Noah. O irmão do seu marido, que está hospitalizado, em São Paulo, devido as complicações de um acidente que ele sofreu anos atrás.

- O estado clínico dele é tão grave assim?

- Agora ele já está bem melhor. Mas há algum tempo pensei que ele fosse morrer. Sempre doente, sofrendo com problemas respiratórios e em meio a uma família dividida. Felizmente conseguiram dinheiro pra custear as despesas do tratamento dele, que é muito caro. E a família Rivera estava falida.

- Então foi por esse motivo que ele se casou comigo? - Penso alto demais.

- O que disse?

- Nada.

- Desculpa, mas eu preciso sair.

- Eu que peço desculpas. Estou  atrapalhando você e o mínimo que posso fazer é levar esta bandeja até o quarto do Christian.

- Não precisa.

- Confia em mim, Darcy. Só desta vez. Preciso conversar com o meu.. Eh, você sabe. Eu vou subindo. Obrigada pela atenção.

- Dehayne! - Paro no meio da escada atenta ao que ela vai dizer. - Só espero que consiga consertar a vida do Chris, ele é um bom rapaz.

- Eu também. - Evito olhar para trás, no intuito de esconder a vergonha que sinto, diante da explicita declaração que acabo de fazer.

Isa.

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