Capítulo 16

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Logo que entro no carro da mãe da Briseis, uma ideia me vem à mente. Se vou precisar passar dezoito meses casada com o Christian terei que entrar no jogo dele. Amolecer aquela geleira que ele chama de coração será o primeiro passo rumo ao sucesso. Como fazer isso é algo que ainda não sei. Quem sabe se eu...

- Senhora Collor, para o carro, por favor. - O plano perfeito parece surgir de repente. - Eu vou descer aqui mesmo. Lembrei de algo muito importante que tenho que fazer.

- Tem certeza que vai ficar aqui? Não vai ficar muito longe de casa? - Briseis arqueia uma das sobrancelhas.

Só três quarteirões.

- Não. Podem ir. Já estou dentro do condomínio onde os Rivera residem, fica logo adiante - digo convicta.

- Bem, eu gostaria de conhecer à sua nova casa - Briseis insiste, me forçando a fazer algo que eu não queria.

- Talvez outro dia. A senhorita precisa se apressar em tirar o seu sono de beleza. Alguém, mais tarde, terá um encontro, lembra? - Ela me repreende com o olhar.

Sra. Collor sorrir delicadamente.

- Eu conheço o rapaz, filha?

- Ele é um garoto da minha turma.

- Bem, não quero atrapalhar a conversa das duas. Vejo você amanhã, Briseis. E obrigada pela carona.

Fico de pé, em frente a uma casa de muro cinza, localizada há poucos metros da residência onde moro, vendo o carro delas se afastar.

Quando o veículo desaparece por completo, caminho devagar, fazendo breves pausas pelo caminho, até ficar em frente ao portão da mansão Rivera. Bagunço os meus cabelos, pra parecer que foram ressecados pelo sol ardente das 12:30h. Passo um pó compacto no rosto, deixando ele mais vermelho do que já está, nos braços e pernas. E por último derramo a água da minha garrafa na minha roupa. Disfarce perfeito aí vou eu.

- Dehayne, o que houve? Você está um trapo. Foi assaltada? - O horror na face e nas palavras de Darcy me faz querer subir às escadas dando pulinhos de alegria.

- E-eu.. - Falo arfando, de propósito pra encenação ser mais realista. - Eu vim a pé - faço uma pausa tentando recuperar o fôlego, que nunca perdi - da escola até aqui. Estou morta!! - Me sento na escada e respiro fundo.

- Santo Deus, por que fez isso? - Ela me abana com um leque, que imagino ser de Eloíse. - Olha a cor do seu rosto, menina! Descanse um pouco, que eu vou pegar um copo d'água natural pra você.

Assinto, figindo ser uma boa menina, com os olhos murchos de cansaço.

- Acho que vou subir pra descansar um pouco no meu quarto - balbucio, após ingerir o líquido que a ela traz pra mim.

- Se precisar de qualquer coisa é só me chamar. - Um olhar de pena é lançado a mim.

- Tudo bem, Darcy. - Pego a minha bolsa e me arrasto até o meu quarto.

Já no quarto mando mensagem para minha melhor amiga contando o meu plano e peço humildemente que ela apenas colabore comigo.

- É contra meus princípios mentir para pessoas que gosto.

- Vai apenas omitir. É diferente.

- Dehayne, espero que saiba o que está fazendo.

- Isso é um "sim"?

- Eu tenho escolha?

- Valeu, amigaaa!

***

- Eu dei um analgésico a ela. - Ouço a voz de Darcy, no corredor, e finjo estar dormindo.

- Ela almoçou? - Christian tem uma preocupação na voz. Sinto um frio na barriga quando ele entra no quarto.

- Um pouco de sopa, depois de muita insistência. E agora está descansando. Não pode fazer isso com à sua esposa, Chris. Prometeu que ia cuidar dela.

- Quando ela disse que não precisava buscar ela na escola, imaginei que Dr Lacerda iria levá-la pra casa ou... - Ele põe o dorso da mão sobre minha testa e no meu pescoço, checando a temperatura do meu corpo. Seu toque suave faz meu coração bater mais depressa. E tenho de morder a língua pra controlar a vontade de rir e não sei nem mesmo o porquê.

- Ela está febril? - Darcy quer saber.

- Não. Mas tomou muito sol hoje. Espero que esse mal-estar seja apenas uma leve indisposição. Se persistir os sintomas terei que chamar um médico pra examiná-la. - Um médico, à essa altura, além de estragar o meu plano, me trará problemas em dobro.

Desperto do "meu sono" devagar. Christian ainda me observa, mas Darcy já se retirou do quarto. Tento sair da cama para ir ao banheiro e ele segura à minha mão.

- Quer ajuda? - pergunta com a voz suave.

- Não precisa. Eu estou bem! - falo docemente, dando às costas a ele.

- Não seja teimosa. Permita-me. - Antes que eu possa dizer algo, ele me pega nos braços e me conduz até o banheiro.

O meu plano parece ter dado certo. Não vou precisar ir à escola amanhã e se eu pedir com jeitinho o Christian vai me levar até a minha tia, por se sentir culpado pelo o que fez comigo.

Dou uma rápida olhada no espelho do banheiro e noto que o meu rosto está realmente vermelho. E tem até umas poucas sardas nele. Droga! Eu não devia ter tomado tanto sol e ainda por cima num horário tão impróprio.

- Acho que consigo chegar até à minha cama sozinha - digo, me sentindo mal por estar mentindo pra ele.

- Eu a acompanho. - Coloca o braço ao redor da minha cintura de um jeito que me faz perder o fôlego. Sinto seu cheiro novamente e tudo o que desejo neste momento é aninhar à cabeça em seu peito e ficar ao seu lado, ouvindo as batidas de seu coração. - Prontinho. - Ajusta os travesseiros debaixo da minha cabeça. - Vai ficar bem? - Entrelaça nossas mãos.

- Vou - respondo em baixo tom, não resistindo ao seu toque. E o frio na barriga, de antes, volta com intensidade. Nossos corpos ficam cada vez mais próximos. Seu rosto está perto o suficiente pra que eu consiga sentir sua respiração ofegante em meu pescoço. Tomada por um desejo incontrolável de beijá-lo, aproximo os meus lábios dos dele, selando-os em um ato recíproco.

- Me perdoe, Dehayne. Isso nunca deveria ter acontecido.- Se afasta de repente. - Nunca! - Então cobre os lábios com as mãos, atordoado.

- Christian!

- A Darcy vai cuidar de você. - E tudo o que ele me diz, antes de sair do quarto com o olhar cheio de dúvidas.

Isa.

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