Capítulo 26: P/1

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As horas se arrastam vagarosamente contrariando a minha vontade. E neste momento já não consigo esconder tamanha aflição que sinto aqui dentro. Caminho pela sala sem me importar com os olhares de curiosidade que pousam em mim vez ou outra.

- Dehayne, você está bem? - Brigity  pergunta bastante intrigada. - Que postura mais deselegante, menina.

Ponho uma das mãos nos lábios pra que ela faça silêncio. Ela faz uma expressão de barata tonta. Então leva as mãos aos quadris ameaçando levantar e vir até mim.

- ELE CHEGOU!! - Um grito abafado sai de minha boca e as mulheres ao meu redor me encaram assustadas. Eloíse pousa a xícara de chá sobre à bandeja e me avalia confusa.

- Quem chegou? - indaga Eloíse.

- Meu pai. - Desta vez falo em tom baixo e bem devagar. - Eu estava esperando por ele.

- E é esse o motivo de tamanha inquietação?- Brigity parece incrédula diante de minha resposta.

- Bem, eu preciso ver o meu pai. Se não se importam... - E vou saindo devagarinho antes que possa surgir mais perguntas.

***

- Estou surpreso em vê-la. Não imaginei que quisesse falar comigo tão cedo. - Dalton Lacerda exibe uma postura desafiadora, como de costume, os óculos de sol não escondem a decepção ao constatar que não vim aqui para lhe dar as boas-vindas. Ele desce do carro e só então me olha nos olhos.

- E não quero. A questão aqui é outra.
- Dou um passo para trás aumentando a distância entre nós. - Lembra da promessa que me fez, papai?

- Qual delas?

- Não vai começar esse joguinho de novo! Eu quero ver a Rachel. Disse que iria dar suporte a ela com a condição de que eu aceitasse assinar aquele maldito contrato. Eu cumpri a minha parte no acordo, falta você cumprir a sua.

- Ela foi embora para França. E vai ficar lá até que o dinheiro dela acabe. - Relata calmamente. - Quando vai começar a entender que a Rachel não se importa com o seu bem-estar?

- Eu não acredito em nada que vier da sua boca. Quero falar com ela agora! - digo com firmeza, encarando seus olhos castanhos-esverdeados. No seu rosto, porém, não há nenhuma expressão.

- Você continua a mesma mimada de sempre, não é mesmo?

- E você continua desprezível como sempre, estou errada?

- Mais uma palavra e eu desisto de ligar pra víbora da sua tia - brada meu pai, irritado com o meu comentário e em tom de deboche.

Meus lábios contraem algumas vezes em busca da argumentação perfeita pra rebatê-lo, porém, conhecendo o temperamento de D. L. me obrigo a ficar em silêncio. Pela Rachel ou pela verdade.

- Seja rápida. Eu não tenho o dia todo. - Meu pai me entrega o celular dele após ligar o viva-voz.

- Rachel? - balbucio desconcertada.

- Como você está, mon cher? Senti tanto a sua falta! - Suas palavras saem vagas e um tanto forçada. Pelo visto esta ligação não foi ensaiada.

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