DEHAYNE
" Há uma ifinitude de razões pelas quais as coisas acontecem. Algumas pessoas podem atribuir essas razões ao destino, outras às escolhas que fazemos ao longo do caminho."
Leio esta frase - do livro Nada É Por Acaso - uma, duas, três vezes. Então ponho o livro sobre o criado-mudo, desistindo de tentar compreender os seus enigmas.
- Dehayne, precisamos conversar. - Meu pai entra no meu quarto sem ao menos bater à porta. - Vou deixar você visitar à sua tia Rachel. Ela sofreu um acidente ontem. Parece que está no CTI. - Não vejo nenhuma expressão em seu rosto.
- Como é que ela está? - indago muito preocupada.
- É melhor você vê-la, querida.
- O q-que você f-fez com e-ela, papai? - Minha voz sai entrecortada e chorosa.
- Estou tão surpreso com esta notícia quanto você. - Põe a mão no peito, de um jeito dramático, e sei que ele está mentindo. - É a última vez que vou perguntar: quer ver a víbora da sua tia ou não?
- Quero - sussurro, secando as lágrimas que começam a se formar em meus olhos. - Me dê só um segundo que eu já desço. - Peço e ele sai do meu quarto.
Logo depois, desço até à sala e juntos saímos para o hospital. Minha tia está no quarto sendo monitorada pelos médicos e a pedido deles, observo-a de longe, para não acordá-la. Ela teve uma noite difícil, segundo o médico plantonista.
- Papai. - Aperto com força o braço de meu pai. - Prometa que irá cuidar dela. Que não vai machucá-la.
- Dehayne, assim você me ofende, meu anjo. Continua pensando que eu tive culpa nesse acidente? - O sigo enquanto ele desfila, calmamente, pelo enorme corredor do edifício até chegarmos ao elevador que leva para o térreo.
- É por saber com quem estou lidando que peço que não a machuque. - Desta vez mantenho à minha voz firme diante do olhar intimidador de D.L.
- Não seja tola ao ponto de acreditar que ela "sobreviveu a um acidente". Posso tirá-la de circulação com um simples estalar de dedos. Foi apenas um lembrete de com quem a Rachel está lidando. - O seu discurso frio só confirma o que eu já sabia. Meu pai é um monstro insensível.
- Como pode ser tão cruel? - berro sem conseguir encará-lo. - Por que está fazendo isso com ela? Porque eu decidi que vou morar com a titia, na França?
- Você não vai a lugar algum. E se insistir nesta história, a Rachel vai pagar pela sua teimosia. E tem mais, sua tia contraiu muitas dívidas pra conseguir suster o alto padrão de vida na França. E está na mira de pessoas perigosas. Por isso ela veio se esconder no Brasil.
- Como sabe de tudo isso? - indago pondo em dúvida a veracidade de suas palavras. - Está mentindo pra mim outra vez?
- Questione na recepção do hospital quem está arcando com as despesas médicas daquela cobra. Aproveita e checa o hotel que ela está hospedada. Mas devo alertá-la que este ato de caridade é temporário. Quando ela receber alta médica, vai se virar como puder.
- Como ela irá sobreviver? Não pode abandoná-la, papai. - Sacudo seu braço, tentando fazê-lo mudar de ideia. - Eu faço o que quiser, mas não deixe a minha tia desamparada.
- Está mesmo disposta a fazer qualquer coisa pelo bem-estar da Rachel?
- Qualquer coisa, papai - balbucio sem titubear.
- Bem, podemos fazer um acordo. Se você aceitar, prometo dar assistência à sua tia até ela se estabilizar, porém, quero que você fique longe dela.
- Me parece razoável. Mas como seria este acordo? - Temo a resposta mesmo antes de ouví-la.
- Quero que aceite se casar com o meu novo sócio. E não precisa se preocupar com à aparência dele ou requinte. Ele é jovem assim como você. Teve uma excelente educação e mora aqui em Dallence. Deverá conhecê-lo hoje mesmo, no jantar de noivado dos pombinhos. - Ele não parece estar sendo irônico, o que me deixa mais irritada.
- Não pode estar falando sério, pai. Eu não posso, não quero e não vou me casar com nenhum sócio seu. Seja ele quem for.
- Baixe a guarda, mocinha. Não vai ajudar sua tia agindo desta maneira, ainda mais comigo. - Seu tom de voz sai amargo.
- Tudo isso não passou de um plano diabólico pra se ver livre de mim, não foi? - Sinto uma lágrima invadir a minha face buscando abrigo em meus lábios. - Por que está agindo assim comigo? Eu sei que não fui nem de longe a filha perfeita, mas você também não foi o melhor pai do mundo e ainda assim imagina que um dia eu lhe perdoe por isso?
- Às vezes precisamos nos submeter a pequenos sacrifícios, Dehayne. Você tem a opção de escolha: pode casar com a pessoa que escolhi pra você ou pode peregrinar com a sua tia pelo mundo pedindo esmolas. Não vão encontrar um olhar de compaixão lhe asseguro. A escolha é sua.
- Eu caso - falo em tom baixo.
- Eu não ouvi direito. - Meu pai deve estar se vingando de mim por todas as vezes que o fiz passar vergonha, com minha personalidade nada fácil de lidar. - Pode repetir?
- Eu disse que aceito à sua proposta - falo por entre os dentes, odiando o meu pai pelo o que ele está fazendo comigo. - Se a minha infelicidade enaltece o seu ego, esta noite terá à sua vingança.
IsaFacinelly
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APENAS UMA RAZÃO PARA AMAR VOCÊ
RomanceUma proposta de casamento inesperada - mesmo sendo uma conveniência - é tudo o que Christian Guiavila Santiago Rivera jamais cogitou receber. As profundas marcas das desilusões que sofreu no passado ainda estão lá para assombrá-lo. E estas servem d...