Ninguém está livre do passado quando este se resume a um filme de terror.
Um ano se passou desde que terríveis assassinatos abalaram a cidade de Oakfield pela segunda vez. Juntos, os sobreviventes tentavam recuperar a sanidade na Universidade de Wi...
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Fracos feixes de luz colorida podiam ser vistos ao longe. Por trás dos telhados das casas, a luminosidade rosa e azul surgia dançante, acompanhada do som abafado de uma música eletrônica e animada que vibrava o chão até mesmo daquela longitude. A festa de Halloween da Kappa Omega Theta estava acontecendo, e isso era notável não somente pela forma como o céu parecia iluminado, como também por conta de todos os jovens estudantes que podiam ser vistos tomando caminho pelas calçadas a cerca de, no mínimo, um quilômetro ao redor da casa da irmandade, todos fantasiados e dando um destaque alegre para aquela pacata noite na Universidade de Winchester.
Mas não era nisso que Benjamin prendia sua atenção. Com as luzes dos postes lhe iluminando, o rapaz seguia com passos largos e pesados por uma das calçadas, sendo acompanhado pelo som de risadas e amigos em euforia do outro lado da rua, tomados por fantasias chamativas enquanto começavam a se embebedar. Ben chegava a ser verdadeiramente deslocado, com as roupas simples e aparência nada divertida. Em suas expressões, o que mais era visto, era a raiva.
Nunca foi o mesmo desde a morte da namorada, Beatrice. O sangue nos olhos deixava isso bem claro. Benjamin se corroía não somente pelo ódio da garota ter sido morta, mas também pelo fato do motivo de sua morte continuar um mistério. E por isso, as intenções do rapaz naquela noite eram exatamente aquelas. Sabia que algo estava acontecendo, sempre foi bastante observador e notou que Owen tinha conhecimento da situação, provavelmente por fazer parte do massacre que ocorria.
Não sabia exatamente o que faria. Ben nunca foi alguém de discutir, muito menos de brigar, e dessa forma sair no soco com Owen estava fora de questão. Mas tinha de tomar alguma providência, e isso era certo. Esperava arrancar do garoto alguma informação sobre a morte de Beatrice, algo que justificasse o fato dela não estar mais entre si. Por que ela havia morrido? O que fez de errado? Ou era nada além de inocente? Uma vítima aleatória para todo aquele caos? Essas eram algumas das questões que preenchiam a cabeça de Ben, e se no mínimo uma delas fosse respondida, já teria certo alívio.
Acabava de voltar do prédio dos dormitórios, onde foi com a intenção de encontrar Owen, mas ele não estava lá. Dessa forma, buscou por alguns dos conhecidos dele e foi notificado de que o sobrevivente estaria na fraternidade da Alpha Delta Phi, com Asher. Assim, tomava seu caminho até lá, desviando vez ou outra de um grupo de estudantes fantasiados, portando bebidas que comumente seriam ilegais no campus. Por sorte, a Reitora liberava — ou simplesmente fingia não ter conhecimento do fato, quando questionada pelo Conselho — o porte de álcool ao menos uma vez ao ano para a diversão dos jovens para que fizessem suas comemorações.
Não era dos gostos de Benjamin ir até a festa. Ainda por cima, a ideia de ser Halloween lhe trazia memórias de Beatrice. Era costume do casal se juntar naquela noite, enquanto todos iam festejar, para assistir a filmes de terror juntinhos até o amanhecer, aproveitando o fato dos dormitórios estarem vazios, até que tudo acabava com ela dormindo em seu ombro. Isso, sem nenhuma malícia envolvida. Nunca foram um casal safado, por assim dizer, de modo que nem mesmo haviam transado até aquele momento. Tanto Ben quanto Beatrice eram conservadores com suas intimidades, e mesmo que não levassem a crer esta coisa de "sexo só depois do casamento", nunca viram a oportunidade certa para fazer a coisa acontecer, preferindo aproveitar a companhia um do outro numa noite de filmes, por exemplo. Momentos como aquele valiam muito, e Benjamin percebia isso agora.