O silêncio se prolongou pelo quarto mesmo após cinco minutos de batalha vencida. A dupla continuava sentada no chão, recuperando-se do embate eufórico, com as respirações em êxtase imparável prestes a voltar à normalidade. Nenhuma palavra tinha sido trocada. Apenas olhares significativos que comprovavam a segurança momentânea e o fato de que ambos estavam bem, sem ferimentos graves o suficiente para alarmar-se.
Ainda assim, o sentido aguçado de Emily apitava no fundo de seu cérebro. Odiava Sean por tê-la impedido de perseguir o maníaco, mas, ao mesmo tempo, o agradecia. Um lado de si percebia que jamais seria capaz de vencer uma nova luta no estado em que se encontrava. O corpo inteiro doía de maneira incessável, tanto pelos golpes recebidos, quanto pelos desferidos. Conseguia sentir o sangue encharcando a mão, após a movimentação abrupta do membro cortado momentos antes, no terraço. No entanto, sequer ligava. Ou tentava não ligar. Seria meramente impossível se desligar daquilo tudo.
Sean não estava tão melhor, e nem tão pior. Pelo jeito, acabou por não receber tantos fardos quanto ela, mas o cansaço se igualava. Encostado numa das paredes do quarto, mantinha os olhos fechados, recuperando-se para poder seguir em frente. Contudo, até então, a sensação desgastante de uma batalha — nem tão — vencida o consumia feito uma nuvem de fumaça em meio a um incêndio. E que incêndio era aquele, cada vez maior, mais forte, mais sufocante. No fim, jamais superaria as chamas.
— Podíamos tê-lo pego — a voz de Emily surgiu, de repente.
Erguendo a cabeça, Sean a encarou.
— Eu devia ter ido atrás dele — continuou a sobrevivente.
— Você está acabada, Em. E sangrando. Vamos ser racionais.
Ela respirou fundo, mordendo a parte interior da bochecha sem perceber.
— Isso tem que parar — disse. — Sean, eu não aguento mais.
— Tudo vai se resolver. Tente não pensar nessas coisas.
— Não tem como não pensar. É nossa realidade, é nossa vida. Temos que pensar, e que nos preocupar. Precisamos achar uma solução ou um fim para isso logo.
Mantendo a calma mesmo sob as circunstâncias nervosas, Sean respondeu:
— Querendo ou não, ainda é o jogo dele. Só vamos conseguir êxito em algum dos nossos planos por uma chance mínima e quase impossível de acontecer.
— É só uma pessoa... — murmurou Emily, não contradizendo o amigo, mas mais para si mesma. — Essa é a pior parte, não é? É uma pessoa embaixo daquela maldita máscara. Como pode ter tanto poder sobre a gente? Como pode sempre sair por cima?
— Eu não sei... Mas isso foi planejado a muito tempo, eu imagino.
— No máximo um ano.
Sean riu, finalizando o assunto ao falar:
— Ainda assim, Em. Muito tempo.
Voltaram a se silenciar, presos nos próprios pensamentos por um instante, alheios à situação. Mason estava subindo, lembrava-se Emily, mas não tinha ânimo para contatá-lo e dizer o que aconteceu. Hora ou outra se encontrariam, de qualquer jeito.
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Hello There 3
HorrorNinguém está livre do passado quando este se resume a um filme de terror. Um ano se passou desde que terríveis assassinatos abalaram a cidade de Oakfield pela segunda vez. Juntos, os sobreviventes tentavam recuperar a sanidade na Universidade de Wi...