Ninguém está livre do passado quando este se resume a um filme de terror.
Um ano se passou desde que terríveis assassinatos abalaram a cidade de Oakfield pela segunda vez. Juntos, os sobreviventes tentavam recuperar a sanidade na Universidade de Wi...
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O necrotério era um espaço grande, levando em consideração seu amplo alcance em gavetas de corpos. Uma das paredes era formada somente por elas, enfileiradas e empilhadas como se fossem aberturas para prateleiras de arquivos. A ambientação pesada e em cores opacas, dava ainda mais angústia a qualquer um que adentrasse o lugar. Com duas macas metálicas ao centro, alguns armários com medicamentos e itens cirúrgicos posicionavam-se às paredes direita e esquerda. A última delas, continha a porta e uma espécie de vitrine para visualização, feita por uma janela extensa de acrílico.
O som de um choro ressoava por ali, conforme a mulher de meia idade, Jocelyn Rivers, lançava suas mágoas, com um lenço posicionado diante de boca para controlar o catarro escorrendo. Abraçando-a confortavelmente, Daryl Rivers era duro em suas expressões, como se estivesse tímido em demonstrar a tristeza perante a médica legista, do outro lado daquilo que os separava: a maca estendida de dentro de uma das gavetas na parede, que com um lençol branco cobrindo-o pela metade, revelava o cadáver de Benjamin Rivers.
Uma escolha dos próprios pais. Ordenaram a vistoria do corpo como se aquela fosse uma obrigação do hospital, até que a legista cedeu e os trouxe para baixo. Mas sinceramente, arrependiam-se. O estado era deplorável. Foram avisados, mas nem por isso voltaram a traz. Observavam o próprio filho, estendido feito um pedaço de carne por aquele pedaço gelado de ferro, de olhos fechados e pele pálida. Ben sempre foi um pouco moreno, no entanto, ali mais parecia que todo o sangue havia sido drenado do corpo.
O horror continuava pela mandíbula arrancada, onde agora, sem todo o sangue de antes, os detalhes tornavam-se viscerais. Apenas os dentes superiores continuaram no lugar. O restante havia sido dilacerado, com alguns pedaços de carne ainda pendentes e a abertura que levava à garganta entrando em evidência, na forma de um buraco profundo e escuro. Ambos os braços encerravam-se pouco acima dos cotovelos, e foi claro a maneira como a legista tentou tampar parte da carnificina com o lençol, mas falhou miseravelmente. O osso branco era evidente e aterrador. A última parte vinha pela perna esquerda que faltava. Contudo, como não existia, o pano branco caía, quase como se houvesse um buraco ali.
— Como eu disse, uma foto era mais aconselhável — a voz da legista surgiu, baixa e calma. — Poderíamos fazer algumas alterações no visual do defunto, para a sensibilidade e o conforto de vocês. Eu sei como é difícil...
Foi interrompida quando Jocelyn virou-se e saiu andando. Quase como se as palavras da médica fossem um ultraje, a mulher chorosa seguiu com seus passos apressados, os saltos ecoando pelo cômodo. As luzes LED zuniam no teto, sobre suas cabeças. Daryl tentou alcançá-la com o braço, mas não foi capaz. Jocelyn já saía pela porta, e assim, o homem apenas meneou a cabeça em direção à legista. Ela fez o mesmo em retorno.
Daryl traçou o mesmo caminho da esposa. Ao fundo, o cadáver de Ben era novamente coberto pelo pano branco e devolvido para dentro da gaveta. Voltando ao corredor, encontrou Jocelyn encostada numa das paredes, as mãos apoiadas nos joelhos. Ainda chorava incontrolavelmente, os soluços tomando conta de todo o espaço.