Ninguém está livre do passado quando este se resume a um filme de terror.
Um ano se passou desde que terríveis assassinatos abalaram a cidade de Oakfield pela segunda vez. Juntos, os sobreviventes tentavam recuperar a sanidade na Universidade de Wi...
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As luzes ofuscavam parte de sua vista, mas Owen sabia que esse não era todo o motivo. O modo como via tudo num tom embaçado e turvo, quase caindo a cada passo que dava, se dava em grande parte por Meadow ter acabado de ser morta. Ainda era difícil para ele acreditar que aquilo tinha realmente acontecido, menos de duas horas depois do ocorrido, e tudo mais parecia um sonho do que realidade. O peso que lhe recaía pelos ombros quase o levava ao chão, mas Owen continuava mesmo assim.
Sozinho, isolado pelo silêncio e incapaz de prestar atenção em qualquer coisa ao redor, o sobrevivente seguia a passos tortos e lentos pelo corredor do prédio do alojamento. Já em seu andar, continuar caminhando era um trabalho difícil para alguém em seu estado, mas ele fazia o seu melhor. Owen levava a fantasia de Ghostface num dos braços, incapaz de encontrar vontade em continuar usando-a, pois as lembranças daquela noite já começariam a ser enterradas da melhor maneira que conseguisse. Agora, vestindo uma roupa casual, a mesma que tinha por baixo da fantasia, Owen dava os passos trôpegos, tocando a parede de leve para não desequilibrar.
As emoções eram dadas pelas expressões em seu rosto. Qualquer um que o visse perceberia que o garoto tinha passado por maus bocados. Meadow sempre foi uma figura presente em sua vida. Mesmo que a intimidade com ela não ultrapassasse a que tinha com Carrie ou Ash, a latina sempre esteve ali como uma boa amiga. Seu jeito pretensioso que por vezes o irritava internamente, agora, como nunca antes, era lembrado com carinho e muita tristeza. Tanta tristeza que nem cabia mais em lágrimas e continuava dentro de si mesmo depois de tanto tempo chorando e liberando as angústias.
No teto, as luzes zumbiam. Estava tarde o bastante para que a maioria dos moradores estivesse dormindo. As mãos de Owen tremiam levemente, os olhos verdes perdidos e direcionados aleatoriamente numa única direção. Havia se esquecido de como era aquele sentimento horroroso de perda. Max Langdon continuava em sua memória todos os dias, o amigo de infância que lhe foi levado a pouco mais de um ano. E agora tudo se iniciava de novo. A perda, o luto, a tristeza, a ira; a onda de mortes, de sofrimento, de dor.
Independente do quanto se esforçasse para tentar recordar-se de Meadow de forma boa, como aquela garota sorridente, empolgada e que revirava os olhos ao discordar de alguém sem nem se esforçar para disfarçar, Owen sempre tinha a imagem vibrante de como a viu pela última vez: com o crânio escalpelado, todo aquele sangue, os braços arrancados e a vela presa à língua iluminando sua cabeça num tom de laranja e vermelho.
Aproximou-se da porta de seu quarto após o que pareceu ser uma eternidade vagando pelo prédio, virando-se para ela e tomando atenção o bastante para tirar a chave de dentro do bolso traseiro. Por não ter bebido muito, Owen teve facilidade em localizar a fechadura e logo enfiou a chave ali, apenas para ter a surpresa de ver a madeira sendo empurrada para frente, antes mesmo de ter a capacidade de destrancar a porta, sendo acompanhada de um rangido que naquele silêncio pareceu ensurdecedor.
Owen franziu o cenho com curiosidade e retirou a chave, abaixando os braços e quase deixando a fantasia negra cair. Olhou de um lado para o outro, com aquele sofrimento preso na garganta numa quantidade grande o bastante para que não sentisse medo de que alguém — o assassino — pudesse ter invadido seu dormitório. Apenas se certificou de que ninguém o observava ao longe, como se tivesse sido alvo de uma pegadinha, e voltou a encarar a porta, para ter certeza de que estava no quarto certo. E sim, estava. Os números 423 de ferro estavam presos na madeira.