AFTER THE STORM
ANDREA ON
Depois de jogar o celular na fonte, volto para o hotel e pego rapidamente as minhas coisas. Deixo para trás as roupas de grifes e os sapatos caríssimos que havia ganhado. Dou adeus a Nigel, que estava prestes a se encontrar com Massimo Corteleoni, talvez para ouvir o lamento de ter sido jogado de escanteio pela traição de Miranda.
Minha passagem para Nova York não podia ser alterada então tive que esperar um voo comercial. Estou sentada no saguão do aeroporto, esperando ser chamada. Meu celular pessoal começa a tocar. É ela.
É Miranda.
Resolvo ignorar. Logo em seguida toca outra vez. E outra vez e mais uma vez, só que dessa vez o número do telefone era do quarto do hotel.
Andréa- O que você quer, Miranda?
Miranda- Andrea, por favor, eu preciso de você.
A voz dela parecia apavorada. Resolvo não cair nessa ceninha dela.
Miranda- Me escuta. Por favor, não desliga...O Stephen...
Andréa- Não. Você não precisa de mim e eu não preciso te escutar. Chega disso!
Miranda- Me escuta, pelo amor de deus! O Stephen está beba...
Andrea- Não. Eu não vou te escutar! Não aguento mais conviver com você, Miranda. Todos que vivem ao seu lado, morrem aos poucos. Eu não vou permitir que isso aconteça comigo. Adeus!
Desligo o celular.
Ela não me liga mais.
E assim uma hora se passa. Quando chamam o meu voo, eu vou seguindo para o portão de embarque quando meu celular toca outra vez.
Andrea- Que inferno, Miranda, eu já disse...
Nigel- Andrea.
Andrea- Nigel? Por que está com o telefone da Miranda?
Nigel- Onde você está?
A voz dele denota desespero.
Andrea- Nigel? Você está chorando?
Nigel- Corre para o hospital, Andrea. Precisamos de você aqui. A Miranda precisa de você.
Andrea- Hospital? Oh meu deus, mas o que...
Nigel- Aconteceu uma tragédia.
Andrea- O que...O que aconteceu?
Nigel- Andrea, o Stephen atirou na Miranda.
Eu jamais me prepararia para ouvir essa frase.
Andrea- Não.
Nigel- Vem para o hospital, pelo amor de deus.
Andrea- Isso não está acontecendo.
Fico ali no meio das pessoas, quando ergo a minha cabeça e vejo numa das tevês gigantes do aeroporto a fotografia da Miranda.
Ícone da moda, Miranda Priestly, está entre a vida e a morte.
O meu único pensamento era: Não posso perdê-la!
Saio disparada para frente do aeroporto, abandonando as minhas bagagens. Quase derrubo um senhor bem vestido, para lhe tomar o taxi parado ali na frente.
Muitos minutos depois chego ao hospital e um batalhão de repórteres estava lá na frente. Um dos motoristas da Runway me ajuda a passar pela multidão e ao entrar no corredor do hospital, vejo várias pessoas da Runway ali. Alguns chorando, alguns apenas calados e outros indiferentes.
Nigel me vê e vem de encontro a mim e me abraça
Nigel- Andy
Andrea- Como ela está?
Quando falo com Nigel percebo o tremor em minha própria voz. Percebo que estou chorando.
Nigel- Ela está em cirurgia, Andy.
Andrea- Por favor, me diz o que aconteceu.
Ele me puxa pelo corredor e entramos numa parte privada.
Andrea- O que aconteceu, Nigel?
Nigel- Eu estava com o Massimo. Ele disse que Miranda havia concordado que Jackeline assumisse o meu desejado cargo, com uma única exigência. Que eu assumisse a Runway francesa.
Andrea- O quê?
Nigel- É. Ela preparou tudo. Eu fiquei chocado com aquela notícia. Logo em seguida ela apareceu. Me pediu perdão por ter feito aquilo comigo e que deveria ter me preparado antes, mas que sabia do meu potencial e...
Começa a chorar.
Andrea- E o quê?
Nigel- O Stephen apareceu. Ela ficou muito surpresa, já que ele disse que não viria a Paris. Ele estava visivelmente bêbado. Eu tentei intervir, mas ela disse que se resolveria com ele. Eu perguntei por você e ela nada respondeu. Apenas o seguiu e os dois entraram no quarto dela. Eu sempre respeitei o espaço da privacidade da Miranda. Resolvi não me meter.
Andrea- Tá. E depois?
Nigel- Escutamos do corredor eles discutindo. Mas logo se calaram. Até disse a Jocelyn que talvez eles estivessem se acertando como casal, entende?
A imagem de Miranda e o marido transando me causa uma repulsa imediata.
Nigel- Eu disse que provavelmente o divórcio seria esquecido. Mas de repente escutamos a discussão mais uma vez e dessa vez a voz da Miranda estava muito trêmula.
Enxuga as lágrimas
Nigel- Ela estava com medo dele. Eu conheço a Miranda. Pela voz ela estava apavorada. Chamei os seguranças do hotel e quando eles estavam prestes a arrombar a porta, escutei ela gritar e de repente escutamos o disparo.
Andrea- Ah, meu deus.
Choro imaginando o que Miranda passou.
Nigel- Ele atirou nela. Ele a machucou e depois atirou nela, Andy.
Andrea- Onde está aquele desgraçado?
Nigel- Preso. Ele nem reagiu quando a polícia o levou. Ela...
Andrea- O quê?
Nigel- Ela tá com o rosto machucado, Andrea. Ele bateu nela!
Ele a machucou e aquilo me enfurece em proporções épicas.
Nigel-Quando eu entrei no quarto, ela estava lá no chão. Tão frágil e pálida...Oh deus!
Nigel coloca as mãos na cabeça.
Andrea- Onde foi o tiro?
Nigel me encara com pavor no olhar.
Andrea- Nigel, onde ele atirou?
Nigel- Perto do coração!
Sinto uma dor inexplicável e dilacerante no meu peito. Era isso que ela queria me dizer ao telefone? Ela estava me pedindo socorro? Ah, meu deus! Por favor, não deixe que o pior aconteça!
Assim as horas se passam.
Aos poucos as pessoas vão sumindo dos corredores.
Haveria um desfile mega importante de fechamento da semana em Paris e é obvio que eles não ficariam aqui.
Nigel, Jocelyn, Massimo, James e eu estávamos no corredor quando uma médica chega. Ela fala em francês, mas estou tão nervosa que só consigo entender o 'Miranda'
Nigel- Como ela está?
Percebendo nosso nervosismo ela resolve falar em inglês.
Médica- Está fora de perigo.
Alguns comemoram e outros, claramente, não.
Médica- A cirurgia foi um sucesso. A bala transpassou o seu corpo.
Andrea- Graças a deus. Ela já está consciente?
Médica- Não. Perdeu muito sangue e precisará de uma transfusão. Ela tem o tipo A+ e...
Andrea- Eu faço.
Minha frase sai rápida e alta, chamando a atenção dos demais ali presentes.
Nigel- Six...
Andrea- É o meu tipo sanguíneo. Onde eu devo ir?
Médica- Me acompanhe.
Abraço Nigel e saio apressada seguindo a médica.
Passo por todos os procedimentos e faço a transfusão.
Andrea- Eu posso vê-la?
Médica- Só por alguns instantes. Ela precisa de repouso absoluto.
A médica me leva e de repente sinto o coração minúsculo.
Deitada naquela cama de hospital, ligada a aparelhos e muito pálida, eu jamais vi Miranda tão frágil. Me aproximo e aliso a sua mão, com as unhas tão perfeitas. Mas sinto dor quando olho para o seu rosto com um corte perto da sua boca fina.
Médica- Ela é da sua família?
Andrea- Ainda não. Mas...Quando ela acordar, eu farei de tudo para que ela se torne.
A médica me olha confusa, porém a certeza está na minha cabeça. Jamais abrirei mão de Miranda outra vez em minha vida.
Me aproximo dela e sem me importar com a presença da médica, eu encosto os meus lábios aos seus da forma mais suave possível.
Médica- Tem um minuto.
A doutora sai para nos dar privacidade
Andrea- Miranda.
Me aproximo e falo junto ao seu ouvido.
Andrea- Nosso primeiro beijo não deveria ser assim, mas eu te prometo que não será o último. E você precisa acordar para que possamos dar o segundo se você quiser.
Só escuto os bips.
Andrea- Me perdoa por ter te abandonado quando mais precisava. Me perdoa.
Eu aliso seus cabelos grisalhos.
Andrea- Seja forte. Há duas meninas lindas que precisam de você mais do que nunca. As diabinhas ruivas precisam da mãe e... E eu preciso de você. Então, querida. Acorde.
A médica volta.
Médica- Ela precisa de repouso. E devido a transfusão, você também.
Concordo.
Beijo a cabeça de Miranda e saio contra a minha vontade.
Andrea- Quando ela vai acordar?
Médica- Só depende dela.
No corredor, Nigel vem ao meu encontro.
Nigel- Então?
Apenas o abraço com força e me permito chorar
Nigel- Ela é forte. Ela vai voltar para nós.—ATS—
Uma semana depois, Miranda continua em coma. Meu coração está despedaçado por vê-la tão vulnerável. Eu estou acampada no quarto de hospital. Não posso permitir que outra pessoa a acompanhe. A semana de moda já acabou e tudo que eu mais peço em orações é que a Miranda acorde.
Saio no corredor, apenas para chamar uma enfermeira pois o soro conectado ao corpo dela já estava chegando ao fim, quando sinto dois pequenos corpos me abraçarem com muita força. Só consigo sentir o cheiro delas.
São as gêmeas
Andrea- Oi. O que estão fazendo aqui? Eu...
Elas choram agarradas a mim.
Andrea- Ei...Vai ficar tudo bem. A Miranda vai acordar e...
Cassy- E se ela...
Carol- Não acordar?
Andrea- Olhem para mim.
Me abaixo para ficar na altura delas.
Andrea- Me escutem e prestem muita atenção. Tá bem?
Elas concordam.
Andrea- Miranda vai acordar a qualquer momento. Eu prometo!
Carol- Promete?
Cassy- Promete mesmo?
Andrea- Juro pela nova bolsa Prada.
Elas sorriem e me abraçam outra vez.
Fico um bom tempo acalmando-as e contrariando a vontade delas, eu peço que Nigel as leve para o hotel.
E assim passou-se mais uma semana. Eu praticamente vivo dentro do quarto, segurando a mão de Miranda. As meninas vem, conversam um pouco com ela, contam sobre alguma situação que viveram, mas a inércia continua.
Andrea- Meninas, sem discussão. Já falamos sobre isso!
Cassy- Mas...
Andrea- Precisam ir descansar com o Nigel. Eu prometo que qualquer coisa eu aviso a vocês.
Carol- Tá.
Elas beijam a mãe mais uma vez e seguimos para o corredor.
Cassy- Amanhã estaremos aqui bem cedinho.
Andrea- Tudo bem.
Carol- Vamos trazer 'As relíquias da morte' pra começar a ler pra ela.
Andrea- Esse é o mais chato. Ela vai despertar apenas para não ter que ouvir.
Cassy- Ei!
Sofro um beliscão de Cassy.
Andrea- Ai. Doeu
Carol- Não se atreva a dizer que algo do Harry Potter é chato.
Andrea- A culpa foi sua.
Cassy- Como assim?
Andrea- Você que leu para mim e me fez descobrir que o Dobby, o elfo doméstico, morre.
Carol- Você não ficou assim com 'O enigma do príncipe'.
Andrea- Eu não gostava mesmo do Dumbledore.
Carol me belisca o braço também.
Andrea- Ai.
Cassy- Nunca insulte Alvo Dumbledore na minha frente.
Andrea- Olha só Hagrid miudinho e ruivo, é melhor vocês irem embora antes que eu fique toda marcada.
Elas sorriem e me abraçam com força.
Cassy- Obrigada por ficar com ela, Andy.
Carol- É. Obrigada mesmo.
Andrea- Não tem o que agradecer. É um prazer. Eu amo vocês.
Elas me soltam imediatamente e me encaram.
Antes que eu pudesse sequer entender ou fazer com que elas entendam a minha frase tão espontânea, Nigel surge no corredor.
Nigel- Ei, coisinha ruivas. Vamos? O motorista já chegou.
Andrea- Vão. Precisam descansar.
Cassy- Tá. Depois a gente conversa.
Beijo o topo das duas cabeleiras ruivas e elas vão saindo com Nigel.
Carol- Nigel, hoje vamos começar a ler a saga.
Nigel- Por que não assistimos?
Carol- Somos bruxas pós-modernas cercadas por trouxas, Cassy.
Cassy- Qual é o problema deles?
Eu acabo rindo vendo aquele trio sumir pelo corredor e entro no quarto outra vez.
Me aproximo e aliso a mão fria de Miranda.
Andrea- Miranda, eu sei que odeia a saga Harry Potter, as suas meninas vão trazer o pior livro possível para ler pra você, esse é um grande motivo pra acordar.
Anoitece.
Saio do banheiro de banho tomado. Me sento e como um sanduiche que Nigel havia trazido. Como com satisfação. Estava faminta. Depois de escovar os dentes, me sento ao lado dela com uma revista que ele trouxe também.
Andrea- Nossa, essa coleção da primavera está linda. Pena que a fashion week não foi tão glamourosa quanto merecia. E você não vai acreditar, a coleção da Carolina Herrera está mais uma vez apelando para os tons dourados.
Miranda- Incompetentes.
Foi um sussurro muito fraco, mas absolutamente audível.
Andrea- Pois é. E...
Minha respiração para e ergo a cabeça quando me dou conta que era a voz de Miranda que havia invadido os meus ouvidos.
Dou um salto e me aproximo dela.
Andrea- Ah, meu deus...Miranda?
Ela abre os olhos e eu me derreto quando vejo aqueles olhinhos azuis outra vez.
Andrea- Oi. Bem-vinda de volta.
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After the Storm
FanfictionEm meio a FashionWeek em Paris, uma tragédia atinge a rainha da Runway justamente no momento em que Andrea jogava tudo para o alto. Agora cabe a Andrea decidir se volta atrás ou vai embora levando consigo os seus sentimentos conflituosos. PROIBIDA P...