Heartburn - Chris & Eva

CAPÍTULO XLVI

SEGUNDA-FEIRA, 14:10

⇝ CHRIS P.O.V

Vejo a Eva passar pelos portões da Nissen e sinto meu coração se quebrar em mil pedaços. Bem, antes o meu do que o dela.

- Que merda foi essa, cara?! - William me pergunta, me fazendo virar pra ele.

Respiro fundo. Não quero ter esse papo agora, muito menos ouvir bronca do meu melhor amigo.

- Olha, eu não espero que você entenda, Will.

- Como é que eu vou entender uma porra dessas?! Ontem você foi lá pra casa dizer que estava sentindo algo por ela, algo forte e blá blá blá e agora faz isso?!

- Eu não posso machucá-la.

- Mas acabou de machucar.

- Foi o melhor para nós dois. Se ela se envolvesse mais, teria sido pior, porque de um jeito ou de outro eu iria machucá-la, e isso iria acabar comigo.

- Ela tem razão, cara.

- Do quê?

- Você é um covarde mesmo. - ele diz, negando com a cabeça, e se afasta de mim, voltando pro nosso grupo.

Fico um tempo ali, parado e sentindo o ar entrar e sair do meu pulmão diversas vezes, mas ainda assim me sinto sufocado. Nunca pensei que fosse ouvir isso do William, mas ele está certo.

Eu sou um puta de um covarde. É que tudo isso me assusta pra caralho, eu nunca senti algo por alguém antes, muito menos algo tão forte. E eu me conheço, eu sempre acabo fazendo alguma merda pra machucar alguém que eu goste, não quero que isso aconteça com a Eva, ela é especial demais. Então a única solução que eu achei foi afastá-la, com o tempo ela vai superar, mesmo que eu fique aqui me torturando todos os dias por não ter sido homem o suficiente pra bancar tudo isso.

É que às vezes esquecem que eu também sou de carne e osso. Eu tenho os meus medos. Me abrir sempre foi um grande medo, e quando eu percebi que me abri pra Eva com facilidade, fiquei confuso demais. Ontem eu fui direto pra casa depois que deixei ela. Pensei pra caralho, passei horas pensando. Eu não poderia fazer isso, não estou pronto, o nosso relacionamento seria como uma puta bomba-relógio. Ela é o fogo e eu a gasolina, uma hora ou outra a gente iria queimar tudo. E provavelmente a culpa seria minha.

Depois fui pra casa do William, conversamos muito, ele me incentivou a conversar com ela, mas como eu disse, não estou pronto. Mesmo que uma parte de mim queira arriscar tudo, mesmo que uma parte de mim queira jogar tudo pro ar, tacar o foda-se e ficar com ela pra ver no que vai dar, eu não posso arriscar a Eva. Como eu disse, ela é especial demais. E eu não a mereço, nem um pouco. Seria ironia eu ter brigado com o Henrik por ela e depois fazer algo pior do que ele fez.

Talvez eu tenha nascido pra viver essa vida fútil mesmo. Superficial pra caralho. Viver pegando dez meninas por noite e esquecer o nome delas logo depois de sair pela porta do quarto. Talvez eu tenha nascido pra ser vazio, mas a Eva já é completa por natureza. Ela é imensidão, e eu sou só...

Um covarde. É. Um puta de um covarde.

Bufo e ajeito a mochila no ombro, indo embora da Nissen sem me despedir de ninguém. Vai ser difícil seguir a vida sem ver aquele sorriso incrível todo dia de manhã, sem fazer cafuné naqueles fios ruivos maravilhosos, sem explorar cada canto daquele corpo incomparável. Vai ser foda. Mas é melhor assim, é melhor pra ela... seria muito egoísmo meu continuar tudo isso. Talvez um dia eu me acostume. Mas é difícil se acostumar com o vazio quando você já sentiu a sensação de ser completo.

...

QUARTA-FEIRA, 15:02

⇝ EVA P.O.V

Chego em casa e ando até o meu quarto, me jogando na cama. Já faz uma semana e dois dias que eu não troco nenhuma palavra com o Chris. Uma semana e dois dias que eu tenho vivido só nessa casa, sem ninguém pra me fazer companhia, sem cafuné, sem sorvete de chocolate com menta, sem maratonar série ao seu lado até dormir. Essa sensação de solidão é a coisa mais horrível que uma pessoa pode sentir.

Achei que fosse me acostumar rápido com a sua ausência, mas eu estava errada. Estava errada porque percebi que Christoffer não tomou só uma parte do meu armário, mas uma parte da minha vida. É muito duro passar ao seu lado todos os dias e ter que fingir que somos meros estranhos. Fingir que a pessoa que acordava praticamente todos os dias com
você, te fazia rir, frequentava a sua casa e te fazia sentir inexplicavelmente bem e protegida é só mais um desconhecido na multidão de desconhecidos da Nissen é uma das coisas mais difíceis que eu já tive que fazer.

De vez em quando eu me pego olhando pra ele, de longe. Eu não sei qual foi o motivo que o fez se afastar de mim, mas ele parece estar se dando bem. Sempre está rindo com seus amigos ou com alguma garota diferente do lado. Não posso negar que vê-lo, mesmo que distante, ainda me desmonta por inteiro. Ele sempre vai ter um efeito de outro mundo sobre mim, e só agora eu percebi o quão forte é. Quer dizer, eu já sabia antes. Mas quando esse efeito vem junto com dor e decepção, parece que ele se intensifica dez vezes mais.

Fico me perguntando o que seria de nós se a gente tivesse continuado juntos. Conversado sobre o que a gente sente, se é que ele realmente sentia algo por mim. Fico me perguntando se teríamos sido algo, ou se não teria dado certo, ou se a gente teria quebrado o coração um do outro. Provavelmente a última opção... e sendo assim, talvez ele tenha feito a coisa certa. Mas não parece certo, pelo contrário. Dói como nunca achei que fosse doer vê-lo de longe, me perguntar o que teria acontecido. Essa dúvida é uma das coisas mais dolorosas que já senti.

Mas apesar de tudo, nunca terminou o que nunca começou. Eu e ele temos algo em aberto, algo pendente. Talvez um amor, talvez um coração partido... mas vamos chamar de algo, que dá menos medo.

...

Oi galeraa, eu sei que esse cap foi bem curtinho mas foi só pra esclarecer o que os dois estão sentindo, e hoje tem mais, relaxem. E aí, o que estão achando até agora? E o que acham que vai acontecer? Comentem!

Por sinal doeu escrever esse último parágrafo viu, só quem já teve um amor que nunca nem começou sabe como é foda :( Saudade do que a gente ainda não viveu KKKKKKK