CAPÍTULO LI

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SEXTA-FEIRA, 00:36

EVA P.O.V

- Chris?

- Posso entrar? - ele pergunta. A sua voz sai mais rouca que o normal, como se ele estivesse nervoso.

O olho meio desconfiada, mas logo assinto, curiosa. Chris está com um moletom preto, o capuz esconde um pouco o seu rosto. Ele passa com facilidade pela janela, entrando no meu quarto. Sinto o vendo gelado de lá de fora me arrepiar, e logo a fecho, me virando pra ele. Mas quando me viro, ele já está próximo de mim. Próximo até demais.

Sinto o meu coração acelerar e a minha perna falhar por um segundo.

- O... O que você quer, Chris?

- Eu quero você. - ele sussurra, com a boca bem próxima da minha.

Eu juro que consigo sentir o meu corpo todo pegar fogo quando ele diz isso. Merda. Eu não posso ser tão rendida assim. Tento pensar em qualquer outra coisa pra falar, pra afastá-lo, mas não consigo. Até perceber que o seu rosto está cheio de hematomas, e não são os da festa do ônibus, há mais. A luz é pouca, mas quando me esforço, consigo ver algumas gotas de sangue e ferimentos abertos pela sua face.

- Chris, o que aconteceu?! - pergunto, assustada - Quem fez isso?!

- Não importa.

- É claro que importa! Você está sangrando!

- Eva...

- Vem cá! - o interrompo e o puxo para o banheiro da minha suíte. Acendo a luz e consigo enxergar bem o seu rosto.

Ele está acabado. Nunca o havia visto com olheiras, um dos seus olhos está roxo, há um corte na sua sobrancelha esquerda e dois na sua bochecha, ainda em abertos, e o seu nariz não parar de sangrar. Puta merda.

- Christoffer, pode me dizer o que aconteceu?

Ele suspira, relutante, e morde o lábio inferior, desviando o olhar do meu. Continua calado. Ele não vai falar nada tão cedo.

Reviro os olhos e começo a procurar pelo meu kit de primeiros socorros nos armários do banheiro. Quando acho, começo a tirar alguns curativos de lá de dentro.

- O que você está fazendo? - ele pergunta.

- Tentando consertar o que quer que tenham feito no seu rosto, mesmo que você não queira me contar quem foi ou o que houve.

- Eva, não precisa...

- É claro que precisa! Olha pra você, Chris. Você está completamente... quebrado.

Ele respira fundo e enfia as mãos no bolso do seu moletom, olhando pra cima. Pego um pedaço de papel higiênico e tento estancar o sangue do seu nariz. Começo a fazer o resto dos curativos e ele observa cada movimento meu, mas o seu olhar não é o mesmo de antes. Não é o olhar de deboche ou de malícia que ele sempre teve, é algo mais triste, mais sombrio, mais doloroso. Algo de muito ruim aconteceu com ele, eu tenho certeza. E isso definitivamente tem a ver com o motivo de ele ter faltado tanta aula, eu sabia que não tinha sido por acaso, uma parte de mim sempre soube.

- O que veio fazer aqui? - pergunto enquanto tento ao máximo me concentrar nos curativos, sem olhar nos seus olhos.

- Vim te ver.

- Não me diga. - falo irônica e ele ri baixo, mas sem graça.

- Eu vi um carro estacionado na sua garagem, por isso não entrei pela porta. É a sua mãe?

- Sim. Ela chegou hoje.

- Legal. Como ela está?

- Não mude de assunto, Chris. O que veio fazer aqui?

Heartburn - Chris & EvaOnde histórias criam vida. Descubra agora