Capítulo 54

184 42 29
                                    

O aquário estava ainda mais brilhante do que Bambam se lembrava. Os animais o recepcionavam e ele se sentia livre, como se flutuasse. O local era calmo e lhe parecia familiar, causando uma sensação boa, como se finalmente estivesse em paz.

Algo atraiu Bambam e o rapaz se viu caminhando pelos corredores. Não demorou muito para ele chegar à área reservada somente a funcionários. Mas não havia ninguém ali e somente os pinguins usufruíam do local.

— Olá, meu jovem.

O som fez o loiro sentir um arrepio pelo corpo, pois não estava somente no ambiente, mas também dentro da sua própria mente. O tailandês se virou para encarar o dono daquela voz grossa e encontrou um senhor, com cabelos grisalhos, mas o rosto não visível. Bambam não sabia explicar, mas era como se não conseguisse realmente focar nos olhos, nariz, boca ou em qualquer outra característica do homem na sua frente. Ele estava lá, porém parecia uma junção de todos os rostos que o tailandês já vira em sua vida; realmente o homem era a imagem e semelhança da divindade. Todos os homens.

— Você sabe o que aconteceu, meu jovem?

— Eu morri?

— Isso... Sabe, eu não costumo fazer esse julgamento; tenho alguém para isso, mas como o seu caso é especial, resolvi vir te conhecer.

Especial? O tailandês não era especial, apenas mais um humano. O que poderia fazer dele especial diante dos olhos do Pai? Foi nesse momento que o jovem se recordou daquele que amava. Ele se recordou de todos os momentos que passara junto de Yugyeom. De como o abraço do rapaz era confortável e o fazia se sentir seguro. Do sorriso gentil que a jovem divindade possuía apesar do corpo alto e forte. Bambam se lembrara de tudo, inclusive dos últimos momentos de sua vida. Do medo que sentira, do medo que ouvira na voz de Yugyeom e do perigo em que se encontravam antes de partir.

— Yugyeom... Ele está bem, não é? Eu morri, mas... mas ele está bem, não está?

A divindade maior sorriu com a nítida preocupação do jovem. Mesmo tendo partido, ele ainda se preocupava com os outros. Era por humanos como aquele que não havia desistido ainda de sua criação.

— Não chore, criança. Yugyeom está bem.

Bambam suspirou aliviado. Era tudo o que precisava saber. Morrer sabendo que Yugyeom estava bem era o suficiente.

— Você... está com medo, Bambam?

Medo? Ele estava com medo? O loiro tirou um tempo para olhar em volta mais uma vez. O Aquário. Um dos primeiros encontros que tivera com Yugyeom. O local onde ele percebera que de fato estava apaixonado e não havia nada que pudesse fazer a respeito. Medo não era um sentimento que se recordava sentir ali.

— Não. Eu acho que não. O que... acontece agora?

— Então, eu estou aqui com os seus pecados. — Em um piscar de olhos, um livro surgiu na mão da Divindade e o tailandês ficou preocupado, pois era um tanto grosso. — Não se preocupe, não está completo... Tem um monte de páginas vazias.

Bambam ficou imaginando se realmente teria um lugar no Céu. O loiro não se lembrava de ter feito nada grave, mas quem era ele para decidir algo assim?

— O que são as páginas vazias?

— Ah... Vamos dizer que eu estou te encontrando antes do tempo.

— Eu ainda tinha mais vida para viver?

— Sim. Criança, ninguém tem em seu destino morrer por causa de um demônio, entende?

Bambam abanou a cabeça, concordando. Ele não estava com medo, apenas curioso.

— Hum, então... Algumas mentiras. Nossa, você mentiu demais quando era criança, hein?

Hey, Hands Up!Onde histórias criam vida. Descubra agora