40.°

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As palavras do Kyungsoo não me saíam da cabeça de maneira alguma. Eu sempre achei que a relação deles era boa, notava-se sim que a senhora Sam é perfecionista mas nunca reparei em algo estranho ou diferente na relação deles além de conflitos normais entre mãe e filho. O Baekhyun também não é nenhum santinho e tem cara de ter sido daqueles miúdos que os pais tinham de ser chamados todas as semanas à escola por arranjar só problemas.

Mas isso não interessa agora.
Interessa que ele continua na porcaria naquele quarto, enfiado lá dentro sem data definida para acordar ou o fazerem acordar. O médico diz que ainda não é seguro retira-lo do coma. Ele não disse diretamente, mas temem que ele possa não sobreviver se o tirarem do coma agora.

Agora estou aqui sentada numa cadeira super desconfortável, assim como farei nos próximos dias, ou até semanas. Ou meses...

A Angela está comigo agora, assim como o meu pai, o senhor Dong-sun e o Kyungsoo. O senhor Dong-sun dormia, o meu pai e o Kyungsoo conversavam, enquanto eu e a Angela apenas fazíamos companhia uma à outra.
O Junmyeon também me mandou mensagem hoje de manhã dizendo que vinha ter comigo assim que conseguisse acabar todo o trabalho.

— O Jimin tinha um trabalho que já devia ter entregue à uns dias e teve de o fazer hoje à última da hora. Como tivemos aulas de manhã, ele não pode vir comigo — a Angela falou depois de estarmos algum tempo em silêncio.

— Já vi que o Jimin não mudou nada- ri, pela primeira vez em dois dias.

— Sim, continua o mesmo preguiçoso, mesmo assim acho que a Haneul o tem ajudado bastante.

— A Haneul! Eu ainda não falei com ela, ela sabe o que aconteceu?

— Sabe, o Jimin contou-lhe, ela disse que te ligava assim que pudesse, hoje tinha aulas o dia inteiro — assenti.

— Eles os dois... já é algo oficial?

— Não sei... mas acho que está bem perto disso.

Rimos e a conversa acabou por ali. Acho que de toda a gente, a Angela é capaz de ser a pessoa que me conhece melhor e que melhor sabe lidar comigo. Ou seja, ela sabia que o melhor que ela podia fazer agora para me ajudar era estar comigo apenas, não precisava de puxar conversa constante e artificialmente.

Alguns minutos se passaram e ouvi o meu nome ser chamado do corredor à minha esquerda.

— Junmyeon!

Sorri ao olhar a sua silhueta vindo até nós.

Mas assim que ele se aproximou o suficiente e eu me levantei, abracando-o, ouvi um suspiro bastante chateado do meu lado direito. Mais concretamente, a Angela.

— Tu aqui? — ela falou, fazendo-nos encara-la.

— Desculpa? — o Junmyeon olhou para ela confuso, nunca a tinha visto na vida.

— O que é que estás aqui a fazer?

— Eu conheco-te?

— Desculpa, ela é a Angela, minha amiga. Angela, ele é...

— Junmyeon, sim, eu sei quem ele é. Eu já perguntei o que é que ele está aqui a fazer, só pode estar a brincar.

— Angela, pára com isso!

— Eu vou à casa de banho.

Ela levantou-se, olhou o Junmyeon de cima a baixo e foi então a caminho da casa de banho, notavelmente chateada. Nunca percebi esta embirração com o Junmyeon. É que desde as fotos...

— Desculpa lá a atitude dela.

— Mas ela conhece-me?

— Viu as fotos que te tirei. Depois disso, nem pode ouvir falar no teu nome.

— Ok... já entendi.

— Entendeste? É que eu não.

— Está na cara que ela tem medo que eu te roube do Baekhyun — os meus olhos se arregalaram e neguei com a cabeça.

— Não, isso não é possível.

— Pergunta-lhe então.

Eu negava-me a acreditar que a Angela achava que o Junmyeon era capaz disso. Quer dizer... não é tão mentira, mas ele não percebeu que eu gosto mesmo do Baekhyun desistiu e nunca mais insistiu no assunto.

Tenho de lhe dar o benefício da dúvida, não é, acho que também acharia o mesmo. Mas nunca pensei que ela queria mesmo que eu e o Baekhyun resultassemos.

Convidei o Junmyeon a ir ao café do hospital para comer alguma coisa, estava esfomeada. Fomos até lá e pedi então um belo croissant e um chá, precisava de preencher este vazio com algo doce. Ele apenas pediu um café.

— Não comes nada? — perguntei, olhando-o dar o priemiro gole no café.

— Não estou com fome, comi lá na empresa. E tu? Parece que não comes há dias — ele riu e reparei que já tinha comido mais de metade do croissant enquanto ele tinha dado um gole no seu café.

— A ansiedade leva-me a isto — baixei o olhar e incrivelmente perdi a fome em menos de um segundo.

— Acredito que sim. Devias aprender técnicas de como a controlar, muito mais agora.

— Eu sei, eu antes ia a um psicólogo mas deixei de ir há uns anos atrás já. Ele achava que eu ja não precisava de acompanhamento.

— E tu? Achas que já não precisas de acompanhamento?

— Na altura não, agora já nem sei. Com aquilo que tenho passado...

— Devias pensar nisso.

Nisso ele razão, um psicólogo não é algo de outro mundo como toda a gente faz parecer. Se precisamos de ajuda, temos de procura-la e não ter vergonha só porque os outros têm uma visão errada e completamente distorcida do que é frequentar um psicólogo. Lembro-me de quando comecei a ir a um, chamavam-me na escola de maluquinha.

Acabámos de comer e voltamos para perto do quarto onde estava o Baekhyun e a Angela chamo-me para me sentar ao seu lado ignorando completamente o Junmyeon. Sentei-me então e fiz sinal para que ele se sentasse do meu outro lado.

Algumas horas depois, tanto o Junmyeon como a Angela tiveram de voltar para casa pois sabiam que eu também não ficaria sozinha.

Quando já era bem de noite, percebi que hoje ainda não tinha sequer olhado uma vez para dentro daquele vidro, onde estava o Baekhyun. A minha ansiedade estava em alta hoje e temia que algo grave acontecesse se eu olhasse para ele justamente hoje. Mas decidi fazê-lo e aceitei as consequências do que ia fazer.

Levantei-me e espreitei para dentro daquele quarto que já se tornava assustador para mim.
Eu não consegui me conter, a dor no peito que senti a olhar para o estado dele era demasiada para ser suportada e eu passei a nao conseguir respirar. Tentava acalmar-me mas não conseguia, e não sabia se era da situação que estava a criar ou do que estava a ver, comecei a chorar, muito.

Senti um par de braços troca-me nos ombros, que normalmente teria me acalmado, mas hoje não.

— Respira, Megan — o meu pai falou no meu ouvido — Anda, vem sentar-te.

Ele levou-me novamente a uma das cadeiras e sentei-me lá, sentando-se do meu lado. Ele não falou nada, apenas passava a mão pelos meus cabelos e beijou a minha testa, na tentativa de me acalmar. Desta vez, passado alguns minutos, conseguiu o seu objetivo.

— O que é isso, Megan? Não podes ficar assim, faz-te mal — o meu pai, quando eu já estava mais calma.

— Não pude evitar. Eu não consigo vê-lo assim — apesar disso, ainda lágrimas corriam livremente pelo meu rosto.

— Acredita, vai tudo correr bem, não vais passar por isto outra vez.

Ele inclinou-me para o seu ombro, fazendo-me deitar lá a minha cabeça e fez-me um cafuné até que eu adormecesse.

Apostada | BaekhyunOnde histórias criam vida. Descubra agora