64.º

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Neste momento, estou numa maca dentro de um quarto do hospital partilhado por mais umas duas, três pessoas.

A minha cirurgia foi antecipada para cinco dias depois daquela festa que fui com a Megan. E ela tinha razão, foi a última vez que estivemos juntos até à cirurgia e provavelmente ficaremos separados dessa maneira durante muito mais tempo. É lidar.

Estou sozinho pois acabei de sair de uma sala onde me fizeram uma data de exames e acabei de voltar para o quarto. A Megan e o meu pai estão lá fora, à espera da primeira oportunidade de se meterem cá dentro outra vez. Não ficarei aqui muito mais tempo, a cirurgia está marcada para daqui a uma hora.

É surreal estar aqui deitado depois de tanto tempo a sofrer com este problema, e pareceu ser tudo tão rápido. Avisaram-me que iria ser operado hoje no dia a seguir à festa, então só tive tempo de adiantar trabalho na empresa, passar tempo com os meus amigos, passar tempo com a Megan e ainda preparar-me psicologamente para este dia, afinal era algo que esperava mas também algo que sei que não vai ser nada fácil a recuperar.

A porta se abre e entra os dois sujeitos do costume. Megan dá um sorriso ao ver-me e eu retribuo.

— Como te sentes? Estás preparado? - Megan vem até mim, se sentado do meu lado na cama.

— Não sei, é estranho mas estou feliz ao mesmo tempo.

— A tua mãe já cá está também, está no quarto ao lado - o meu pai comenta, tocando no assunto que me está a deixar totalmente ansioso — Queres vê-la?

Tudo isto ainda é muito confuso e estranho para mim. Até há uns meses, a pessoa que eu mais odiava neste mundo era a minha mãe, e com razões. Mas, neste momento, saber que ela realmente vai me doar o rim, mexe muito comigo e com toda esta situação.

— Acho que não, vai ser estranho.

— Compreendo.

— Há bocado a Emily, o Jimin, o Junmyeon, a Angela e a Haneul ligaram-me e mandaram-te um beijinho. O Kyungsoo disse que vinha cá quando acabasses a cirurgia — falou a Megan. Eu assenti, sorrindo.

— Agradece-lhes pela atenção — ela assentiu e inclinou-se um pouco sobre mim, beijando a testa.

— Eu vou deixar-vos um pouco sozinhos, vou beber café, até já — o meu pai falou já a caminho da porta.

— Até já, obrigado — agradeci assim que ele saiu.

— Ele não precisava de ter saído - Megan fala e eu apenas balanço a cabeça.

— Queria que fosses a última pessoa que eu vejo antes de ir para aquela sala — a mesma voltou a sorrir pela terceira vez desde que aqui entrou. Sentei-me na cama e abracei-a, tentando guardar aquele momento enquanto estiver sozinho à espera para ser operado.

— Vai tudo correr bem — Megan apertou-me com força contra si, como se estivesse com mais medo do que eu — Daqui a um par de horas já estamos juntos outra vez e tu vais estar bom.

— Sim, vai correr bem.

Depositei-lhe um beijo longo nos seus doces e maravilhosos lábios, uma imagem que também quero guardar para pensar enquanto estiver desacordado. Aproveitámos mais um tempo a sós até que um dos médicos avisa que o bloco operatório já está pronto, então fui logo levado para uma sala isolada, onde esperaria pela anestesia.

A porta volta a abrir-se mas nem me dei ao trabalho a olhar, já entraram e saíram dois ou três enfermeiros. Até notar que uma maca fora colocada do meu lado.

Mãe...

— Olá, filho.

O meu olhar foi até àquela maca, onde estava a minha mãe deitada, exatamente da mesma forma que eu estava. Vestida com uma bata de hospital e com soro ao seu lado.

— Como te sentes? — ela pergunta.

— Bem, mas ansioso, eu acho - ouve alguns segundos de silêncio, a nossa relação neste momento está estranha, era previsível que isto acontecesse — Queria te agradecer.

— De quê?

— Achei que nunca pudesses mudar e pensei que mentias quando me disseste que estavas arrependida. Mas ver-te agora, ao meu lado, assim, faz-me perecer que talvez deva te dar uma oportunidade.

Vim um sorriso se formar nos seus lábios e os seus olhos se encheram de lágrimas.

— Eu não mereço o teu perdão filho, é por causa de mim que estás aqui neste momento.

— Mas estás a tentar remediar as coisas da melhor forma, e eu estou muito grato por isso.

Várias lágrimas escorriam agora livremente pela sua face. Um riso fraco sai da sua boca e reparo que esta estica o braço, procurando a minha mão. Estico um pouco o meu braço e esta alcança a minha mão, agarrando-a com força, um tanto desesperada.

Até nos administrarem a anestesia, não falamos mais uma única palavra, apenas ficámos assim, a aproveitar um momento de mãe e filho inexistente durante anos.

Mais uma imagem que eu quero guardar.

𖡝

— Ele acordou.

Foi a primeira coisa que ouvi assim que ganhei consciência. Tudo correu bem? Foi a primeira coisa que pensei também quando ganhei consciência.

Custou-me a abrir os olhos, estou um pouco zonzo e atordoado para entender o que se está a passar à minha volta. Sinto alguém tocar no meu braço e depois mecher em alguns objetos que, pelo que sentia, estavam ligados a mim, e ainda me pareceu oscultar. Depois que terminou, consegui finalmente abrir os olhos e a primeira pessoa que vejo é a Megan. A única que desejava.

— Como estás, coração? — Megan pergunta, a sua voz ainda faz um pouco de eco na minha cabeça. Sinto-me fraco, com dores e mal me consigo mecher.

— Uhm... acho que estou dentro dos possíveis.

— É normal o Baekhyun sentir fraqueza, tonturas, corpo pesado, dores e até febre. A cirurgia foi um sucesso, mas terá de ficar mais uns dias em observação, para termos a certeza que o corpo não rejeita o novo rim.

— Obrigado doutor — noto finalmente a presença do meu pai quando este fala para o médico.

— Correu mesmo bem? — pergunto.

— Sim, correu tudo bem — Megan reosonde, no entanto, aquela resposta não foi certa, senti alguma hesitação naquela resposta. Porquê? Olheiras para o meu pai que, para quem o filho foi operado com sucesso, não parecia de todo contente.

— Não, não correu. O que é que se passa? Vocês estão estranhos.

— Não estamos estranhos, acabaste de acordar de uma cirurgia, estás ainda confuso — o meu pai falou, se aproximando.

— Estão sim. O que se passa? Vá, contem! — ambos se entreolharam e depois os seus olhos voltaram a encarar o chão. Ó meu Deus...

— Baekhyun... a tua cirurgia correu bem... mas só a tua.

— Só a minha? Como ass- mas logo entendi o sentido daquilo pensando um pouco. Não, não podem estar a falar a sério... —  A minha mãe? Onde ela está? — o quarto fica em silêncio por longos segundos — Respondam! — quase berro, tentando evitar soltar um gemido de dor.

— Lamento imenso, Baekhyun... — Megan fala por fim, deixando-me em choque e sem reação. Não pode ser...

— A tua mãe teve algumas conplicações durante a cirurgia... — o meu pai suspira antes de acabar a frase.

— E infelizmente faleceu.

Apostada | BaekhyunOnde histórias criam vida. Descubra agora