Capítulo 27

166 4 0
                                    

Comprei uma coxinha e um suco de abacaxi pra ele, depois passei na sua casa pra ele deixar sua mochila e tirar o uniforme da escola. A mãe dele quando vai sair ou trabalhar deixa ele comigo, então ele só avisou que ia andar comigo e voltava quando o almoço tivesse pronto. Às vezes eu queria muito ter um irmão ou uma irmã mais nova. Ele tava nas minhas costas quando eu fui pra boca do FB.
— Moisés: Tia, pra onde cê tá indo, tia?!? — Perguntou já grilado
— Roberta: Calma, ninguém vai mexer contigo! Mexem comigo, mas contigo, não!
— Moisés: Tia, eu tenho medo de arma!
— Roberta: Não vai acontecer nada, Moisés! Confia na tia!
Ele não respondeu. Quando entrei na boca, coloquei ele no chão e segurei na mãozinha dele. Com a mão que tava livre, eu toquei na mão de todos os moleques. Eles também falaram com o Moisés.
— Boquinha: Tá assustado, menor? Toma, ela não morde, não — Disse pro Moisés e ofereceu a pistola à ele
— Moisés: Quero não, tio, valeu — Disse vindo pro meu lado e me abraçou pela cintura
— Boquinha: Ih, rapaz, toma!
— Roberta: Ele tem medo, Moisés! — Disse encarando-o — Lembra do Pitoco? — Perguntei sem som, e ele fez que sim com a cabeça — Irmão dele. Ele viu tudo — Disse ainda sem voz
— Boquinha: Foi mal aí, pequeno — Disse colocando a pistola na parte de trás da bermuda — Tu desculpa o tio? — Perguntou oferecendo a mão ao Moisés
— Moisés: Desculpo — Respondeu uns segundos depois, meio grilado
Sentei num banco ao lado do Davi e sentei o Moisés no meu colo. Peguei o celular para ver o porquê de tanta vibração e eram as notificações não abertas. Tirei foto com os friends que estavam lá, inclusive o Moisés, e postei a nossa foto no facebook com a legenda "meu menininho ♡". Depois ele pediu pra jogar e eu deixei.
— Roberta: Que quê fizeram com a Larissa ontem? — Perguntei pros moleques
— Scooby: Patrão raspou o cabelo dela! — Respondeu rindo
— Davi: Tá parecendo campo de futebol! — Disse rindo também
— Roberta: E a cara dela?
— Rato: Uma peneira!

Socorro! Eu preciso ver essa garota! Fiquei lá até 12h30, quando fui levar o Moisés na casa dele. Fui pra casa da Lays e ela já tinha chegado do colégio e tava fazendo o almoço. Seu pai tava trabalhando. Contei sobre a briga da Patrícia com a Janaína mais cedo e sobre o estado da Larissa segundo os moleques enquanto nós almoçávamos. Lays e eu juntas é certeza que estamos falando de alguém! Ficamos no maior tédio e preguiça, e 16h50, fomos pro pé. A casa dela é longe pra porra da boca do FB ou do Miltinho, onde a maioria dos nossos friends são fechados. Os moleques da contenção estavam na maior atividade. Aliás, onde a gente passou até chegar no pé, geral tava na maior atividade, e colocando barricada nas entradas/saídas daqui do morro.
— Roberta: Que quê tá rolando? — Perguntei depois que cumprimentei todos com um beijo na bochecha
— Canela Seca: Um papo aí de invasão dos adelaide.
— Roberta: Quando isso?
— Canela Seca: Desde de manhã. Patrão já mandou nóis se preparar.
— Roberta: Sei. Cês querem ajuda? — Perguntei sentando entre os moleques
Como resposta, eles me jogaram uma mochila cheia de munição e pente vazio. Bem prático eles, né? A Lays e eu ficamos ajudando-os enquanto conversávamos.
— Alma de Biscoito: Aí, Robertinha, fica aqui na contenção pra mim, pra eu ir ali resolver um b.o urgente?
— Roberta: Me dá a peça que eu fico!
— PH: Caralho! — Disse rindo
— Lays: Essa mina não bate bem! — Disse quando viu o Alma de Biscoito me dando o 762 e a pochete de pente do mesmo
— Roberta: Eu sei atirar; eu não vou ajudar o moleque por quê? — Perguntei colocando a bandoleira do fúzil atravessada nas costas
— Alma de Biscoito: Por isso que geral curte tu — Disse me dando um beijo na bochecha — e acha tu uma pela-saco! — Disse pra Lays, dando um tapa na cabeça dela
— Lays: Quando eu te ver, eu vou cobrar esse tapa! — Disse alto, já que ele subiu as escadas à mil — Ramelão do carai!
— Roberta: Eles disseram que horas iam invadir? — Perguntei pro Canela Seca
— Canela Seca: De noite, né, porra?
— Roberta: Precisa de ignorância, não, desgraça! — Disse encarando-o
— Canela Seca: Eles vão invadir pelo dia?!?
— Roberta: De dia é mais fácil, né?!?
— Canela Seca: Mais fácil pra eles tomarem direto na caixa*, só pode!
— Roberta: Tu é todo otário, Canela Seca, na moral — Disse irritada, uns segundos depois
— Canela Seca: E tu se bola muito fácil!
Mostrei o dedo do meio pra ele e ele ia puxá-lo pra rodar, mas eu segurei no pente que eu tava enchendo com as duas mãos e ri. Todos os radinhos tocaram e "disseram" a mesma coisa: "atividade nessa porra que tem uns carros estranhos rodeando fora do complexo"; o Geré quem falou. Ih, caraio, será meu primeiro confronto?!? Alma de Biscoito, demore muito, onde quer que você esteja!

— Roberta: Caraio, eu vou confrontar! — Disse rindo
— Lays: Minha pica que tu vai, ô, otária! Tu vai pra casa comigo nem que eu te arraste! Bora, levanta daí! — Disse levantando da calçada e me puxou pela mão
— Roberta: Lays, não! Eu vou ficar! — Disse fazendo força pra ela me soltar
— Canela Seca: Solta a mina, porra! — Disse me puxando pelo braço de volta pra calçada
— Lays: Se tu ficar, eu vou ficar com raiva de tu, Robertinha, na moral! — Disse com os braços cruzados
— Roberta: Então pode ficar! Que parada de criança ficar com raiva de alguém porque não conseguiu algo com a pessoa...!
— Lays: Tu não tem juízo na cabeça!
Não deu tempo de eu responder, porque a Lays meteu o pé à mil. Cada uma. Os moleques não falaram nada sobre, e quando a gente terminou de encher todos os pentes com munições, repartimos entre nós e fomos pra central. Chegando lá, tava maior caô, e não é que ia ter confronto com os ADA mesmo? O Geré e o FB estavam bolados pra caralho — como se nós, soldados, não estívessemos. Peraí, eu sou soldado também? HAHAHA!
— Canela Seca: Aí, patrão, a Robertinha nunca participou de um confronto!
— Geré: Tu quer, é? — Perguntou com a sobrancelha levantada
— Roberta: Eu sempre quis defender meu morro num confronto.
— Geré: "Teu"? — Perguntou, debochado
— Roberta: Meu — Respondi no mesmo tom que o dele — Já te dei o papo que um dia eu vou ser patroa daqui, querido!
— Geré: Quando tu crescer um pouquinho, nóis troca umas ideia...! — Disse cheio de marra, me puxando pra si pelo pulso
— Roberta: Vai se fuder! — Disse rindo, abraçando ele
19hrs, fui pra minha casa com o Canela Seca, o PH e o Fusca. Minha mãe deixa o almoço e o jantar pronto e só precisa ser esquentado, parada que eu fiz. Quando eu tava jantando com moleques, minha mãe chegou do trabalho.

Índiazinha do Alemão - Pré História ✧ Donde viven las historias. Descúbrelo ahora