Capítulo 66

110 3 0
                                    

Saí de casa com o ak47, o m16, que, apesar de eu não usar estava escondido no meu armário, a glock e as duas mochilas de munições. Por fora eu estava plena, mas por dentro eu queria matar o Geré. Bem, talvez eu não estivesse tão plena assim, porque onde eu passava, os moleques tiravam onda e só de eu encarar eles paravam. Chegando no beco que dá para a central, passei pelo bonde da segurança do Geré e nem dei oi; entrei na central à mil.
— Geré: Vai derrubar a porta, vai? — Debochou
— Roberta: Vou derrubar sua cara de tanto que eu vou bater nela! — Disse seca, tirando as armas de mim
O Geré ficou rindo e quando eu terminei de tirar tudo, fui pra cima dele, mas só consegui arranhar seu braço antes dele me segurar. Na mesma hora a pele onde a unha acertou saiu, e ficou vermelho, inchado.
— Roberta: Por que você tá me tirando?!? Eu nunca fiz nada de errado! — Falei encarando-o
— Geré: Tu não se ligou que ia levar um tiro ontem, quando foi descendo a ladeira todinha?!? Tu quer estar no meio dessa porra toda, mas não sabe nem se controlar! Tem que saber se controlar! Só ser boa no dedo não adianta!
— Roberta: Aquele covarde matou minha amiga! Eu jurei que ia fazer vingança!
— Geré: Mas não dá pra se vingar morta! Ou dá?!? Porque pra tu ter metido o peito ontem do jeito que tu meteu, tu tem que ter peito de aço, fia!
Não respondi. Minha única reação foi começar a chorar. O Geré sentou no sofá, me sentou do seu lado e me abraçou de lado.

— Roberta: Ela era minha melhor amiga, Rogério... — Disse uns minutos depois, ainda chorando, com a cabeça em seu ombro
— Geré: Nóis já viu tantos irmãos nosso irem de ralo por causa dessa merda... Tua amiga é só mais uma na lista. Por mais que tu esteja mal por isso e se sentindo culpada, querendo justiça, tu não podia ter feito o que tu fez ontem. Nóis ia te perder! Pensa na tua mãe, porra! Tantas vezes ela vem falar comigo, mandando eu resolver isso... Nossa mãe é nossa amiga mais verdadeira, Índiazinha. Ela só quer nosso bem. Eu daria tudo pra ter minha coroa de volta — Ele me sentou em seu colo — Tu tá ligada que eu perdi minha mãe por judaria de uma piranha que queria separar meus coroas, né? — Fiz que sim com a cabeça — Eu jurei que eu ia me vingar dela, mas meu coroa fez isso antes de eu conseguir pensar em algo. Eu fiquei com mais ódio dele do que da pilantra, aí nóis teve uma conversa e eu fui aceitando, tá ligado? O que resta agora pra tu é aceitar e se desculpar. Se teu problema era com o Gonçalves, foi resolvido ontem. Tu ainda tem teus coroas. Valoriza eles! Vida do crime não é pra tu, não! Vai curtir tua vida, vai dar tua buceta...!
— Roberta: Nem sei quanto tempo eu não fodo pra tu ter ideia de como eu me joguei de cabeça nisso...!
— Geré: Deve estar cheia de aranha — Disse ironicamente
A gente riu.
— Geré: Neguinho tentou algo contigo?
— Roberta: Não. Não nos falamos depois que eu terminei. Ele me traiu, sabia?
— Geré: Tu quer chifrar de volta, né? — Perguntou já sabendo da resposta
— Roberta: Claro! — Respondi rindo
— Geré: Se o cara pode, tu também pode! Lembre disso sempre!
— Roberta: Eu queria ter um pai como você — Disse abraçando-o
— Geré: Se eu tiver uma piveta igual tu, eu tô fodido! — Disse me abraçando de volta
— Roberta: Imagina se a gente tivesse filhos? Os menor já iam nascer com o dedo nervoso, querendo sentar no gatilho!

Novamente, a gente riu.
— Roberta: Você não tá bolado comigo não, né?
— Geré: Ainda tô por tu ter ido pra cima dos canas daquele jeito, mas tô mais de boa por ter tirado tu.
— Roberta: Não é porque estou longe das armas que vou ficar longe disso tudo. Minha raiva deles nunca vai passar!
— Geré: Independente de ser do tráfico ou não, todos têm.
Mordi seu pescoço e ele apertou minha cintura. Ficamos no sofá abraçados por um tempão. Eu poderia dormir com ele assim sempre! Dei vários cochilos, mas sempre acordava com ele se mexendo, ou roncando ou me apertando com força. Pensando bem, não quero dormir com ele mais. Acordamos de vez com os moleques batendo na porta. Ele saiu da central comigo no colo.
— TT: Robertinha sai de uma rola já em outra!
— Duê: Rápida é ela!
— Roberta: Cuidem das suas vidas!
— Geré: Nóis tava trocando umas idéias depois dormiu — Disse dando um tapa na cabeça dos dois, ainda me segurando
Fomos pra boca, mas não fiquei lá por muito tempo; fui pra casa. Contei tudo para minhas friends. O áudio deu 10min. Enquanto minhas friends ouviam, fiz duas publicações no facebook: uma com uma foto minha, e outra com uma foto do Moisés e da Alícia. Na publicação com minha foto, a legenda foi um trecho de um som com um extrazinho, HAHAHA!
""Cada um tem seu motivo,
Cada um tem sua história,
Marcante e pessoal que tá presa na memória.
Na verdade nóis não dorme, descansa sempre alerta
Qualquer barulho estranho nóis mete a mão na peça.
Não é medo de morrer
Mano, eu tô de pé no chão
É medo de ir embora sem completar minha missão
A missão foi decretada, ordem do coração
Antes de morrer eu vou matar os alemão!
Mas antes de chorar minha mãe ou dela correr perigo,
Vai chorar primeiro a mãe dos meus inimigos!"
#pjl #cvrl #td2 passa nada nessa porra, peita ou respeita, é o trem! 🚝✌

Como resposta do meu áudio, a Lays mandou outro áudio, dizendo que ia colar na minha casa e que tinha uma novidade, então eu já fiquei nervosa, né? Mandei ela colar aqui na minha casa na mesma hora, e ela disse que vinha para cá a noite junto com o Cobra. Ninguém merece o Cobra, GRRR! Fiquei conversando com meus friends, colocando os papos em dia, já que eu faltei no colégio por dois dias e só hoje não foi o suficiente para atualizar as novidades. De noite, os moleques resolveram se alojar na minha calçada. Eu tava escutando música nos fones de ouvido e o Peixinho desplugou-o, então ficamos sentados, cantando. Minha mãe chegou quando estávamos cantando "virei bandido", do MC Orelha.
— Roberta, Peixinho, TJ, Wesley e Foguinho: Desigualdade, aperto, dificuldade, falta de oportunidade, não importa o motivo, só sei que quando percebi, na vida do crime eu já tava envolvido. Parece mole pra quem tá de fora, mas só sabe como é que é quem é. Seis horas da manhã a favela acordando e nóis ainda de pé, pro que der e vier. Disposição pra picotar na faca eu tenho muita frieza na troca de tiro, adquiri depois que percebi, bandido é máquina de fazer inimigo. É foda, às vezes pira e embola, se precisar o gatilho vou apertar, sou do bloco do trem bala que não deixa a desejar — Parte da música que estávamos cantando quando vimos minha mãe
— Lúcia: Se deixaram levar, mas dá pra voltar atrás antes que seja tarde — Deu sermão quando terminamos — Boa noite pra vocês
Os moleques cumprimentaram-a de volta, e ela entrou em casa após o TJ sair da frente do portão.
— Foguinho: Não vai contar pra ela que o patrão te tirou?
— Roberta: Não tô falando com ela. Tô me sentindo muito mal por ontem.
— Wesley: Ela tá de boa contigo?
— TJ: Velho, se ela tá aberta pra trocar papo contigo, aproveita. Por mais que nossas coroas estejam boladas por alguma merda que nóis fez, elas nunca vai negar papo.

Índiazinha do Alemão - Pré História ✧ Donde viven las historias. Descúbrelo ahora