Capítulo 54

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✧✧✧ APÓS UM ANO ✧✧✧
Matei os dois? Matei. Arranquei a cabeça de ambos? Ela foi a última, porque antes, arranquei as unhas de todos os dedos, depois todos os dedos; seguido pela rola, pelos testículos, a língua, as orelhas, os pés e as mãos. Fiz tudo isso sozinha, e os moleques que tavam no alto do morro no dia só participaram na hora de colocar os arrombados nos pneus pra queimar. Se minha raiva passou com tudo isso? Não. Pelo contrário, piorou. Eu me sinto a pior pessoa do mundo, e quer saber a real? Eu não quero mudar. Enfim, eu tô morando com a minha mãe faz um mês, e vou ficar por mais cinco, já que meu pai tá na Europa, fazendo curso da sua profissão.
— Lúcia: ACORDAAAA, GAROTA! VAMO LOGO! — Gritou, batendo na porta do quarto com força
— Roberta: JÁ VOU! — Gritei de volta, boladassa, indo pro quarto
— Lúcia: TU TÁ LIGADA QUE TU SÓ GRITOU PORQUE ESSA PORRA DE PORTA TÁ TRANCADA, PORQUE SE TIVESSE ABERTA, EU IA METER A MÃO NA TUA CARA, NÉ?!?
Não respondi. Eu pego ônibus com minha mãe, já que ela trabalha na zona sul. Além de acordar mó cedo, eu mal durmo à noite, porque quando deito, minha mente não pára. Mesmo tendo passado um ano, eu ainda temo que matem o Moisés. Tomei banho, escovei os dentes, penteei os cabelos, vesti o uniforme e saí do quarto com a mochila nas costas, passando hidratante nos braços. Eram 5h. Não sinto fome de manhã, então não comi. Desci o morro com minha mãe — e mó gente também — e pegamos o ônibus às 5h30. Por sorte, consegui um lugar pra mim e pra minha mãe sentarmos, e eu fui dormindo o caminho todo; só acordei quando minha mãe me beliscou, avisando que já ia saltar. Fiquei acordada, já que três pontos depois era o ponto mais perto do meu colégio, e quando chegou, eu saltei. Cheguei no colégio às 7hrs.
— Melissa: Amiga, que cara de morta...!
— Marjorie: Se quiser passar esse tempo que teu pai tá fora lá na minha casa, fica à vontade, tá?!?
— Levi: Caralho, Robertinha, o trem passou por cima mesmo, ein?!?
— Roberta: Não enche, Levi. Vai tomar no meio do teu cu, se não tu vai ver o trem passando por cima de tu — Disse com a cabeça no ombro da Thainá e com os olhos fechados
— Levi: Pode nem zoar... — Disse rindo
— Roberta: Não tô com saco...!
— Marjorie: Cê nunca está ultimamente!

É verdade. 7h15, o sinal tocou e eu fui pra sala com meus friends. 12h20, o sinal bateu. Não aguento mais! Fui pro ponto e peguei o ônibus às 12h40. Cheguei no morro às 14h20. Sol do caralho, puta que pariu! Subi o morro todo reclamando. Ainda bem que ninguém mexeu comigo, porque se não eu ia meter o cacete. Falando em cacete, nunca mais nenhuma mina veio me peitar, porque tá ligada que só de me encarar eu já vou pra cima. Cheguei em casa morta e me joguei no sofá, de mochila nas costas e tudo mais. Meu radinho tava fazendo barulho, mas como tava lá no quarto, eu fiquei com preguiça de ir pegá-lo, mas meu celular tocou. Tava no bolso da mochila, então eu atendi sem ver quem era.
XXX Início de ligação XXX
— Roberta: Fala, caralho!
— Neguinho: Já chegou em casa?
— Roberta: Agora.
— Neguinho: Falaram lá embaixo que tu passou com a cara mó feia. Nem falaram, com medo — Debochou na parte do medo
— Roberta: Que bom, porque hoje não tô com saco nenhum.
— Neguinho: Vou colar aí na tua casa, pode ser?
— Roberta: Nem vem. Vou dormir!
— Neguinho: Ah, então beleza. Quando acordar, avisa.
— Roberta: Tchau.
XXX Fim de ligação XXX
Desliguei sem esperar ele responder e joguei o celular no sofá oposto ao que eu tava deitada. Dormi na mesma hora.
Acordei mais tarde, às 17h45, num calor do caralho. Cê é loco, eu tava suando! Tomei banho, almocei, já que não tinha almoçado quando cheguei do colégio, e sentei na cama. Quando tava fazendo minhas atividades do colégio no maior mec*, meu celular começa a tocar de novo. Era o Neguinho, e eu atendi, mandei ele tomar no cu e desliguei. Nóis ainda tá firme, mas tem horas que ele enche meu saco demais! 18h40, terminei de fazer minhas atividades e arrumei a mochila para amanhã. Peguei o ak47 personalizado, que ganhei de presente do Geré no meu aniversário de 16 anos, minha pistola, o radinho e saí de casa. Bati radinho pro DG, que é do bonde da segurança do Geré pela noite, perguntando onde eles estavam, e ele respondeu que estavam na pracinha. Quando acontece isso, de eu dormir quando devia estar na segurança, eu tenho que ficar pela noite, até a hora que o Geré for pra casa dele.
✧✧✧
*Mec: significa tanto "tranquilidade" quanto "transa", é olhar o contexto da frase pra ver qual encaixa
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— Geré: Demorou, ein?
— FB: Quando eu tiver bolado contigo, vou te dar tuas contas!
— Geré: Deixa a mina! Tem outro cara no lugar dela, tá suave!
— Roberta: Não sei porquê tu fala isso, porque tu tá ligado que o RGR quem decide quem fica ou sai da segurança dele!
— Geré: Toma, mané! — Disse rindo, me abraçando
— FB: Só tô cobrando o certo! — Disse dando um tapinha de leve na minha cara
— Geré: Não trisca nela! — Disse encarando o FB
Fiquei com o Geré e o bonde até às 23h30, quando o Geré foi pra casa. Quando cheguei em casa, minha mãe tava dormindo. Jantei na casa do Geré e lanchei antes de colar aqui, então tomei banho, escovei os dentes e capotei na cama.
✧✧✧ NO OUTRO DIA ✧✧✧
Rotina que segue! Ontem, eu tava reclamando da hora que chego em casa após o colégio, e o Geré me indicou um moto táxi daqui, então eu combinei com ele de ir me buscar todo dia no colégio. Hoje cheguei em casa às 13hrs. Almocei, tomei banho, fiz minhas atividades do colégio e colei na Grota. O Neguinho foi me buscar. O Geré tava olhando o caderno com o Olhinho, que cuida de todas as suas bocas aqui na Grota. Ele é gerente de várias outras bocas pelo complexo, e em cada morro que ele tem boca, tem um cara que cuida dela — ou delas — e avisa quando tem algo de errado.
— Geré: Pera, pera, que minha filha chegou — Disse pro Olhinho, mas alto o suficiente pra eu ouvir
— Roberta: Nem desci ainda da moto...! — Disse rindo
— Olhinho: Como que tu não fica grilado, ein, Neguinho?!?
— Geré: Não pego a mulher dos outros, ô, mané! — Disse dando um tapa na cabeça do Olhinho
— Neguinho: Não tenho ciúme dela com o patrão, não, mano. Eu confio nos dois!
— Geré: Aí sim! — Disse tocando na mão do Neguinho — Cadê a bença? — Perguntou ironicamente, para mim
— Roberta: Isso me lembra uma música... — Disse sorrindo, tocando na mão dele
— Geré: Também...
— Roberta e Geré: Dá bença pra papai porque o papai é brabo, dá bença pra papai porque o papai é brabo! Cada um dia uma diferente, pode olhar o cardápio! — Cantamos juntos, no ritmo de um funk
— Roberta: Paro a buceta, tudo lá dentro — Cantei uma voz de mulher no fundo
— Geré: Aí só com teu macho mermo — Disse rindo
Nossos radinhos começaram a apitar, passando visão que os canas estavam na estrada de itararé.
— Roberta: Se tentar nos acessos, mete aço neles! — Disse no radinho
— Geré: Porra, mó intrometida...! — Disse me encarando, com o radinho na mão
— Roberta: Treinando pra ser patroa — Debochei
— Geré: Desse tamanho? — Debochou de volta
— Roberta: Tu tem tamanho pra ser limpador da Lua e nem por isso eu falo que tu tá na "profissão" errada, então fica quietinho, tá? — Disse boladona

HAHAHA, eu me amarro demais nesses moleques! Meu turno era até às 17hrs, mas foi exatamente nessa hora que os caras do pé passaram visão que os canas já tinham saído da estrada de itararé, mas que não era pra gente confiar, porque souberam que saiu um blindado do 41º batalhão. Fiquei esperando esses botar a cara aqui até às 19hrs, mas não rolou nada, então eu fui pra casa. Minha mãe ainda não tinha chegado. Tomei banho, fiz o jantar e fiquei sentada na calçada da lateral da minha casa, com os pés "voando", já que, do ponto da calçada que eu estava sentada até o degrau da escadaria, tinha quase 1 metro. Fiquei conversando com meus colegas pelo whatsapp e messenger enquanto esperava minha mãe. Um desses colegas que eu tava conversando era a Elisa, a prima da Thayane. Ambas são lá do morro da Baiana, aqui no complexo mesmo.
XXX Início de conversa XXX
— Elisa (16h39): robertinha ?
— Roberta (19h46): e aiiii
— Elisa (19h54): onde ce ta ?
— Roberta (19h56): em casa, pq?
— Elisa (19h57): bora andar por ai
— Roberta (19h59): "por aí" aonde? aqui é grande, sabe? rsrsrsrs
— Elisa (20h01): palhaça kkkkk c os moleques, o geré, fb...
— Roberta (20h03): ih fia, passei o dia todo com eles, já to cansada de olhar a cara deles kkkkkkkk
— Elisa (20h04): ah, larga de ser empata-foda
— Roberta (20h05): e eu to empatando? vai lá dar pra eles, pô, fica a vontade
Qualquer coisinha já fico boladona mesmo. Resultados de um ano na boca... Granada sem pino! Aliás, mais do que eu já era, né?
— Elisa (20h06): calma, porra kkkkkkk tu sabe onde eles estão?
— Roberta (20h08): na boca do fb ou na central, mas é mais provável q estejam no pé
— Elisa (20h09): blz, bj bb
— Roberta (20h10): aproveite, querida
— Elisa (20h11): sempreeee, tendo aprendido com você, né? kkkkkkk
— Roberta (20h12): ótima aluna, te amo neném
— Elisa (20h13): 😹😹😹😹
XXX Fim de conversa XXX

Índiazinha do Alemão - Pré História ✧ Donde viven las historias. Descúbrelo ahora