Capítulo 65

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Fiquei perdida, sem entender o porque da Roberta dizer que ia pegar somente esse tal de Gonçalves. O "certo" seria ela dizer que ia pegar todos. Ela levantou da calçada em menos de 5 segundos, já com a mochila e o fuzil na mão, e foi correndo pelo cantinho da rua em direção à escadaria. Tentei ir atrás dela, mas os moleques não deixaram.
— Roberta: NÃO DEIXA MINHA MÃE VIR! SEGURA ELA AÍ! — Gritou pra eles, já longe de nós
— Lúcia: ME SOLTA VOCÊS! SE É PRA SE MACHUCAR, NÓS DUAS VAMOS! — Gritei também pra eles, tentando puxar meus braços das mãos deles
— Biscoito: Fica quieta, tia! Índiazinha é ligada, sabe se cuidar!
— Lúcia: Ela é muito nova pra morrer — Disse chorando, quase 2min depois, quando perdi a Roberta de vista
Eles não responderam e me soltaram quando perceberam que eu não ia tentar algo.
— Lúcia: Por que ela ameaçou só o Gonçalves?
— Neném: Porque ele quem matou a Alícia, e ela jurou que ia vingar a morte da amiga dela.
— Geré narrando —
Quando me liguei que os botas estavam conseguindo avançar, passei rádio pra os moleques da rua 20, mandando eles descer pra pista e queimar um ônibus, bloqueando a passagem. Vai que os canas pediam reforço e vinha o caveirão? Cê é loco! Nóis não peida pra ele, mas é foda perder 10min só pra enguissar ele. Uns 20min depois que eu dei a ordem, a Índiazinha me passou rádio dizendo que tinha feito.
XXX Início de ligação XXX
— Roberta: Ônibus queimado!
— Geré: Tu foi também, sua arrombada?!? Caralho, mano! Tu não obedece porra nenhuma!
— Roberta: Ih, cê mandou queimar um ônibus e ele tá queimando aqui!
— Geré: Se der pra subir, venham; se não der, fiquem aí na contenção!
— Roberta: Carai, aqui ali é minha mãe? — Ouvi ela perguntar pra quem tava com ela
— Geré: Índia?!? — Perguntei grilado e ela não respondeu — Roberta?!? Tá escutando, porra?!?
— Roberta: Tô... AI, MEU JOELHO! PUTA QUE PARIU! AJUDA AQUI, BISCOITO! VOLTA, MÃE! — Ouvi os gritos dela distante
XXX Fim de ligação XXX

Desliguei, porque ela não tava ligada no radinho e eu não ia ficar gritando sem resposta. Que porra foi essa?!? Passei rádio pros moleques da 16 irem pra pista ajudar a Roberta, a tia Lúcia e os moleques que estavam com elas, e disse que a gente se encontrava no caminho.
— TT: Que quê aconteceu com a Índiazinha, patrão?!?
— Geré: Não entendi porra nenhuma do que ela falou. Nóis vai colar lá.
— Finha: E os canas?!? Vai deixar eles subir?!?
Nem respondi, se não ia mandar ele tomar no cu dele e a gente ia brigar. Passei rádio pro FB, perguntando se ele tava vendo a movimentação dos cu azul e ele respondeu que estavam encurralados na 4, trocando tiro com os moleques de lá. Após encerrar a ligação com ele, liguei pro Ratinho e mandei ele descer com os moleques da 21 pra substituir a gente na 7. Porra, descobrindo um buraco pra cobrir outro só por causa da Roberta, que mete a cara sem necessidade e ainda se machuca...! Quando eles chegaram, meu bonde e eu fomos indo pra pista e encontramos a Índiazinha na 3, atrás de um carro, trocando tiro com os canas, que ainda estavam na 4.
— Geré: Vou te quebrar no cacete, Índiazinha! — Disse me juntando a ela atrás do carro
— Roberta: Fica a vontade, mas só depois de eu matar o Gonçalves — Disse seca
Encarei ela, mesmo sem ela dar bola, e nóis tudinho começou a trocar com os cana do alto da rua. Eles tavam fudido, recebendo chumbo de tiro e de baixo quando notavam a cara, HAHAHA!
— Roberta narrando —
Se passou mais ou menos uma hora e a gente continuava na mesma posição; tanto o bonde e eu, quanto os canas.
— Roberta: METAM O PÉ, PÔ! VOCÊS NÃO CONSEGUEM NADA AQUI, NÃO!

Eles não responderam. GRRR! Um tempão depois, o FB passou rádio pra gente avisando que eles estavam ralando do morro, levando duas mochilas cheias e um parafal, um ar-10 e um ak47. Pra saírem levando algo, é porque teve prejuízo pro nosso lado, e do tipo que não repara: morte de irmãos nossos. Já fiquei puta — mais do que eu ja tava. Quando a gente tava descendo pra entrada do Alemão, vimos os canas, de um em um, atravessando a rua. Ficamos agachados no topo da ladeira só palmeando-os, quando eu vi o Gonçalves e saí ladeira à baixo, atirando contra ele. Os outros policiais apareceram e eu me agachei atrás da barricada e continuei a atirar em todos, mas focada na Gonçalves. O bonde, que ficou lá em cima, também me ajudou a atirar contra eles. Lembra que minha mãe tava com os moleques que eu desci pra queimar o ônibus?
— Roberta: SAI DA FRENTE, DESGRAÇADA, DEIXA EU PEGAR ESSE FILHO DA PUTA! — Gritei tentando mirar no Gonçalves, antes de reconhecer que era minha mãe
— Lúcia: PARE COM ISSO, MINHA FILHA! — Gritou com voz de choro, parada na minha frente, segurando minha cabeça
No momento que ela disse isso, eu perdi meu chão, porque eu quase sentei o dedo no gatilho. Se a pessoa não quis sair comigo pedindo por favor, ia deitar de vez. Caí no chão, em prantos, por quase ter matado minha mãe, e antes de fechar os olhos, vi que ela deitou do meu lado atrás da barricada, me abraçando.
— Geré: GONÇALVES FOI DE RALO, ÍNDIA! — Gritou com voz de vitória

Índiazinha do Alemão - Pré História ✧ Donde viven las historias. Descúbrelo ahora