Índiazinha do Alemão - Pré História ✧

Capítulo 60

Os moleques riram e zoaram de mim. Amo tanto eles, aiai. Não ia ter a manifestação; ela foi remarcada para amanhã à tarde — segunda-feira —, quando tem mais movimentação nas vias movimentadas que passam aqui pelo complexo e nas que passam por perto. Fiquei andando com os moleques até umas 22hrs, quando fui pra casa. O Neguinho foi comigo.
— Lúcia: Não vai dormir? — Perguntou quando me viu entrar com ele em casa
— Roberta: Vou, ué. Por que a pergunta? — Perguntei quase que maliciosamente
— Lúcia: Como que tu vai pro colégio se tu vai fuder a noite toda com esse daí? — Perguntou de volta com a mão na cintura, após encarar o Neguinho
— Neguinho: Que isso, sogrinha! Pensa logo isso de nóis...!
— Roberta: Eu não vou pro colégio amanhã, e não vai ser a noite toda — Respondi após rir — Se bem que hoje eu não tô com vontade — Disse a parte que tocava o Neguinho olhando-o
— Neguinho: Pô, amor, aí tu fode... — Disse no meu ouvido, apertando minha bunda
— Lúcia: Desde que eu não tenha filho antes dos cinquenta, de boa — Resmungou, indo pro seu quarto — Por que a senhora não vai pro colégio? — Perguntou me fuzilando com o olhar, na porta do mesmo
— Roberta: Eu tô com enxaqueca e dor no corpo todo — Menti a parte da enxaqueca
— Lúcia: "Enxaqueca"? E vai passar a noite acordada?
— Neguinho: Ih, sogrinha, fuder faz bem pra dor de cabeça! Tá ligada, não?!?
— Roberta: Cala boca, já disse que nóis não vai fuder! — Disse baixo, encarando-o
— Lúcia: Pegue o assunto que você perder amanhã, e não façam barulho — Resmungou novamente
Dessa vez, ela entrou no quarto, fechou a porta e trancou-a. Fui pro meu quarto com o Neguinho e fiz na minha porta o mesmo que minha mãe fez na sua. Ele me agarrou pro trás, com os braços envolvidos no meu quadril e sarrou na minha bunda.
— Roberta: Sai, tô cansada — Disse bolada, tentando tirar as mãos dele de mim
— Neguinho: Ô, amor, faz isso, não — Disse manhoso, beijando por trás da minha orelha
— Roberta: Não quero, Neguinho! Me solta!
— Neguinho: Tu me chamou aqui pra que então?!? — Perguntou grosseiramente, me soltando
O filho da puta me soltou com tanta força que eu quase caí na cama, mas fiz força com os joelhos na quina da mesma e consegui ficar de pé. Virei tipo a garota do exorcista e encarei-o.
— Roberta: Você tá louco?!? — Perguntei empurrando-o
— Neguinho: Tu me chama aqui pra porra nenhuma...!
— Roberta: Te chamei pra ficar comigo! Antes de nóis fechar, eu te chamava e tu colava numa boa! Só porque nóis tá junto, tu quer cobrar?!? Aliás, tu, às vezes, vem encher meu saco sobre eu sair com meus amigos! Tu te orienta, moleque!
— Neguinho: "Moleque" porra nenhuma! Olha como que tu fala comigo!
— Roberta: "Moleque" sim! Tu tá agindo como um! Se tu não quer mais ficar comigo, dá o papo! Não vou ficar bolada contigo! Prefiro mil vezes a gente ser amigo numa boa, do que "namorados" do jeito que nóis tá ficando!
— Neguinho: Tu quer terminar comigo?
— Roberta: Eu disse isso?
— Neguinho: Eu não quero terminar — Disse vindo me abraçar
— Roberta: Falsidade aqui não cola! Tô boladona contigo! — Disse indo pro banheiro
— Neguinho: "Falso" por quê?!? Que quê eu fiz?!? — Perguntou segurando meu braço
— Roberta: Nóis tava discutindo não tem nem dois minutos, aí tu vem me abraçar se fazendo de vítima... Se decide! — Ele apertou com mais força o meu braço — Solta!
— Neguinho: Toma cuidado pra tu não amanhecer com a boca cheia de formiga — Disse seco, após me soltar
Oi? Ele pirou de vez, né? Caiu um parafuso do cérebro dele, só pode!
— Roberta: E quem é que vai fazer ela amanhecer assim?
— Neguinho: Tanta gente quer, que se eu for falar, tu vai se cansar de ouvir.
— Roberta: Se não é tu, então eu tô foda-se, porque só me importo com uma parada quando é dita na minha cara!
— Neguinho: Tô dizendo na tua cara que várias pessoas querem passar o dedo em tu.
— Roberta: Falar por trás que vai fazer algo contra outra pessoa é fácil! Quero ver falar na frente! — Ele não respondeu; continuou olhando fixamente a parede — Tu tá na lista, por acaso?
— Neguinho: Não. Tu tá ligada que quando eu quero uma parada, eu faço acontecer!
— Roberta: Só perguntei mesmo, porque se tu quiser, pode pôr em prática!
Ele não respondeu e eu entrei no banheiro. Tomei banho, escovei os dentes, me enxuguei e saí do banheiro pelada mesmo, penteando meu cabelo. Ele tava deitado na cama.
— Neguinho: Cê não quer fuder mesmo, não? — Perguntou após me puxar pela mão pra cima dele, que tava deitado na cama
— Roberta: Não, Neguinho, não quero. Se eu quisesse, nóis já tava fudendo — Respondi, séria
— Neguinho: Mas eu quero meter em você — Disse após me deitar na cama e ficar por cima de mim
— Roberta: Mas eu não quero. Eu tô cansada desde ontem. Sai de cima de mim! — Pedi arranhando com força seus pulsos
— Neguinho: Porra, Robertinha, facilita, tô com mó vontade... — Insistiu, enquanto beijava meu pescoço
Cara, eu morro de ódio de gente que fica insistindo em algo que eu já disse que não vou fazer...! Eu tentei sair debaixo do Neguinho, tentei empurrá-lo pra cima e pro lado, mas não teve jeito, então eu dei uma joelhada no meio das pernas dele, aí ele deu um gritinho e caiu do meu lado, com a boca aberta.
— Neguinho: Caralho, filha da puta dos infernos — Me xingou entre seus gemidos
— Roberta: Que eu pedi, eu pedi — Disse o mais séria que eu consegui
Por fora, séria; por dentro, morrendo de rir! HAHAHAHA! Terminei de pentear meus cabelos, me vesti e expulsei o Neguinho da minha cama; ele se jogou no puff, ainda gemendo.
— Neguinho: Porra, não vou conseguir andar por um tempão...!
— Roberta: Bem feito — Disse tirando o edredom da cama
Ele me olhou feio pra caralho. Aliás, estava desde a joelhada, mas piorou com minha resposta. Dobrei o edredom, coloquei-o num espaço vago no meu guarda-roupa, bati o lençol da cama e me joguei na mesma.
— Roberta: Vai dormir aí?
— Neguinho: Vou, é melhor — Respondeu seco
— Roberta: Tá bom então... Levanta o braço aí e desliga a luz, por favor — Pedi, cínica
Aí sabe o que o filho da puta fez? Sorriu, me obedecendo. Calma, Roberta, seja forte! Após desligar a luz, ele se jogou na cama, ao meu lado.
— Neguinho: Desculpa — Pediu, me abraçando
— Roberta: Às vezes você é muito otário.
— Neguinho: Tô ligado. É que, pô, tu provoca demais, papo reto...!
— Roberta: Tu também, e na maioria das vezes, eu me controlo.
— Neguinho: Cê tava com dor de cabeça memo? — Perguntou quase 2min depois
— Roberta: Não. Foi só desculpa pra eu não ir amanhã pro colégio — Respondi rindo
O Neguinho riu junto comigo. A gente ficou conversando um monte de besteira por um tempão.
✧✧✧ NO OUTRO DIA ✧✧✧
Acordei às 5hrs com minha mãe batendo na porta do quarto. Odeio quando ela me acorda em dia que não vou ao colégio.
— Lúcia: Não vá arrumar problema por aí não, já é?!? — Disse quando abri a porta
Fiz que sim com a cabeça e ela me abraçou e deu um beijo na minha testa. Eu tava com tanto sono que fiquei imóvel, e quando ela saiu, me joguei de volta na cama, ao lado do Neguinho, que me agarrou.
Quando acordei, eram 9h45.
— Roberta: Porra, Neguinho, vai tomar no cu, caralho, segura tuas pernas, porra — Disse boladona, lutando contra seus braços e levantando da cama
— Neguinho: Ih, qual foi? — Perguntou mó sonolento
— Roberta: Tu aí, me chutando...! — Respondi, enquanto ia pro banheiro
Ouvi ele rindo. Fiz xixi, escovei os dentes, lavei o rosto, prendi meu cabelo num coque e fui pra cozinha. Fiz algo pra gente comer e quando terminamos, limpamos a louça e fomos tomar banho juntos.
— Neguinho: E aí, hoje tu tá com vontade? — Perguntou quase que ironicamente
— Roberta: Não gosto de fuder de manhã, tu sabe — Respondi tirando o short do pijama junto com a calcinha
— Neguinho: Cê tá foda ultimamente, ein?!? — Disse me olhando feio
— Roberta: Se tá achando ruim, termina comigo e arruma outra — Disse seca
— Neguinho: Tô com vontade — Disse baixinho, com a cabeça virada pro outro lado, enquanto tirava sua cueca
— Roberta: É o quê? — Perguntei segurando seu queixo, fazendo ele olhar pra mim
— Neguinho: Nada.
— Roberta: Repita o que você falou baixinho!
— Neguinho: Nada, porra! — Disse boladão, após dar um tapa na minha mão
— Roberta: Se tu quer arrumar outra mina pra tu meter a rola, por que tu não acaba comigo e vai matar tua vontade?!?
— Neguinho: Se eu quisesse fazer isso, já tinha feito!
— Roberta: Então não venha com papinho de "tô com vontade" se é mentira!

Ele não respondeu. Tomamos banho sem trocar uma palavra, assim como nos vestimos e arrumamos meu quarto. Saímos de casa após eu bater rádio pro Geré, perguntando onde ele tava pra gente colar lá, e ele respondeu que tava na Fazendinha junto com o bonde. Porra, lá do outro lado do complexo...! Eu tava com tanto ódio da cara do Neguinho que deixei ele colar na casa dele sozinho pra pegar suas armas; eu já tava com as minhas.
— Neguinho: Quer ir comigo lá no meu barraco, pegar minhas peça? — Perguntou subindo na xre
— Roberta: Não, obrigada, vou à pé — Respondi friamente, jogando o ak47 nos peitos e a mochila de pente nas costas
— Neguinho: É longe pra porra...!
— Roberta: Não me importo. Tenho perna pra andar.
— Neguinho: Beleza então — Disse boladão
Agradeci aos céus quando o Neguinho saiu voado na moto. Desci o morro em direção à Fazendinha, e quando eu tava passando pela Grota, o Dadinho começou a buzinar na moto de cima da rampa.
— Roberta: Quer me atropelar, passa por cima de vez! — Debochei, após dar espaço pra ele passar
— Dadinho: Só atropelo na cama! Tá indo pra onde? — Perguntou quando parou ao meu lado
— Roberta: Adoro ser atropelada nesse lugar — Disse rindo — Lá na Fazendinha. Me leva?
— Dadinho: Quer ser, por mim? — Perguntou maliciosamente — Sobe!
— Roberta: Opa, quero — Respondi ironicamente, obedecendo-o
— Dadinho: Sai daí, porra! Quer que eu seja tachado de talarico?!? Tu é do Neguinho, porra!
— Roberta: Iiiih, cê acha que eu falei de verdade, moleque?!? — Disse rindo, após dar um tapa na cabeça dele
— Dadinho: Pensei que tu tava ficando louca...!
Fiz que não com o dedo indicador. Chegamos na Fazendinha uns 10min depois e logo achamos o Geré com o bonde no pé. O Neguinho já tinha chegado e me olhou feio pra caralho quando me viu descendo da garupa da moto do Dadinho, que, eu acho que não se ligou. Ele cumprimentou geral e seguiu pelos becos. Toquei na mão de todos, exceto na do Neguinho.

— FB: Demorou, ein, fia? — Perguntou me encarando, quando toquei na mão dele
— Roberta: Cê acha que eu tenho um motor nas costas?!? Encontrei o Dadinho na Grota!
— TT: Com essas perninhas...!
— Roberta: As perninhas são pequenas, mas a força que o corpo todo tem...!
— TT: Tô ligado — Disse em tom malicioso, sorrindo
— Geré: Tá ligado no quê? Já levou um cacete da minha filha, por acaso? — Perguntou com ciúmes, me abraçando e encarando o TT
— TT: Eu não, mas minha rola... — Disse baixo, coçando entre as sobrancelhas
— Roberta: Ei! — Disse rindo, com vergonha, dando um chute de leve na canela dele
— Neguinho: Como se ninguém tivesse ligado... — Disse boladão, sentado numa cadeira
— Roberta: Impossível esquecer as minhas sentadas — Disse seca, sem olhar pra ele
— FB: Cês tão brigados, é? — Perguntou olhando pro Neguinho, apontando pra mim
— Geré: Quando que esses dois não brigam? Todo dia, pô! — Disse após me soltar
— Neguinho: Ela faz raiva pra caralho...!
— Geré: Tu que deve ser muito vacilão então, porque Índiazinha é mó gente boa!
— Neguinho: Dorme com ela pra tu ver como que é...!
— Dudé: Geral aqui tá ciente que Robertinha com sono é o cão na terra, mano!
— JR: Com fome também — Debochou, bagunçando meu cabelo
— Roberta: Com sono, com fome e com pela-saco — Completei após dar um tapa no braço do JR, encarando o Neguinho
O Neguinho me mostrou o dedo do meio e eu juntei meu dedo polegar ao dedo indicador, formando uma bolinha, enfiei o dedo do meio da outra mão na bolinha e rodei-o ainda dentro da bolinha e em seguida, chupei o dedo. Os moleques começaram a rir; alguns com cara de nojo. Enfiar o dedo no cu e chupá-lo não deve ser muito agradável.
— Roberta: E essa manifestação, tá tudo certo?
— Geré: Falta confirmar com os cara que vão queimar os busão. Cento e cinquenta por cada um queimado.
— Roberta: Caralho, com dinheiro, vai queimar o Rio todo...!
— Geré: É isso que eu quero mesmo! Esses pau no cu sobem aqui atirando à toa! Acertar os envolvidos é foda, mas acertar os morador, porra, mó mancada...! Valeu por lembrar. Acordei tem nem uma hora, tô voando ainda!
— Roberta: Você demora muito pra acordar...
— Geré: Ainda mais depois de fuder a noite toda.