cap. 4 | ken

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Ken

Uso o secador de cabelo para dar um jeito nos meus fios molhados. Eu havia acabado de tomar banho, colocado uma roupa maneira e Filipo já parecia impaciente sentado na minha cama. Desligo o aparelho, conferindo contra o reflexo do espelho que sim, eu era gato para caralho.

– A boneca vai passar um batonzinho também? – Filipo provoca.

Visto minha jaqueta bomber preta. O clima estava gelado.

– Não seja invejoso. – Falo.

Saímos do meu quarto que ficava no segundo andar e vamos direto até a rua. Eram umas oito e meia da noite, e o Pub que marcamos de nos encontrar com Glamour e Brenda levava apenas alguns minutos de Uber. Na academia ALFA, o toque de recolher de segunda a sexta era as onze, mas de sábado a domingo, meia noite. Isso não era um empecilho, até porque só os estudantes retardados seguiam essa idiotice. Eu mesmo já havia sido pego no ano passado, umas dez vezes pelo menos, mas meus pais faziam umas ligações e tudo ficava numa boa.

Descemos do carro em uma avenida movimentada. Pessoas iam e vinham, sozinhas ou acompanhadas, vivendo o melhor dia dos finais de semana. Entramos no primeiro Pub da direita. Um bar chique. Definitivamente não era um lugar para pé rapados. Todo o ambiente exalava um aroma vintage, que ia da decoração, a iluminação precisa sob as diversas mesas extremamente bem alinhadas.

Avisto Glamour e Brenda contra a parede. Estão em uma mesa quadrada, com um banco corrido em três quartos a sua volta.

– Olha quantas gostosas tem nesse bar! – Filipo repara umas mulheres mais velhas, sentadas no balcão de bebidas.

– Achei que você tivesse ficando com a Brenda. – Comento.

– Eu tô, mas você sabe que ela não faz o meu tipo. Só fico com ela para não reprovar no colégio. Aquela garota é um gênio ambulante.

– Você não presta. – Dou risada.

Cumprimento as garotas com um beijo na bochecha, já Filipo enfia logo a língua na boca de Brenda. Ele se senta ao lado dela, contra a parede, então fico ao lado de Glamour, na direita.

– Atrasados. – Glamour dispara.

– A culpa foi do Ken. – Filipo vai logo acusando. Ele passa a mão em uma mecha do cabelo ruivo de Brenda, que parece feliz com o gesto. – Demora mais do que mulher para se arrumar.

Glamour revira os olhos, mas deixa escapar uma risada.

– Já pediram as bebidas? – Pergunto.

– Daqui a pouco chegam. – Glamour bate as unhas compridas contra a mesa. Está usando o cabelo preso em um rabo de cavalo no alto da cabeça. O rosto impecavelmente maquiado como sempre. – Gim tônica.

Reparo que ela parece misteriosa essa noite. Não que já não fosse naturalmente articuladora, mas havia algo a mais no seu meio sorriso maldoso. Jogamos conversa fora, como sempre, até um dos garçons aparecer com a primeira rodada de bebidas. Percebo que ele trouxe cinco copos.

– Convidaram mais alguém? – FIlipo também percebe.

Parece um pesadelo. Vejo Mio aparecer, de repente, frente a nossa mesa. Está usando um moletom rosa bebê, calças pretas e tênis surrado. As duas mãos dentro do bolso da blusa. Seus olhos pretos cheios daquele brilho julgador.

– Achei que não fosse mais vir. – Glamour abre um sorriso. – Brincadeira! Eu sabia que você viria.

– Você foi bem incisiva no convite. – Mio responde. Ele se senta, como quem não quer nada, de frente para Glamour e eu, onde ainda não tem ninguém.

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