cap. 19 | mio

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Mio

Acabou. É esse o sentimento que eu vivo quando ouço o sinal para o fim da aula. Quando vejo o professor caminhando por entre nossas carteiras, recolhendo a última prova do segundo ano letivo do ensino médio. Eu consegui. Mesmo depois de passar por uma advertência, ser excluído (e depois "amado"), ser jogado para fora de um armário (que nem eu mesmo sabia direito se estava dentro) e suspenso por um mês. Eu, Mio Campari, estava livre.

Penso em comentar sobre a prova com Hugo, mas ele sai mais do que depressa da sala. Bem, ele e o restante dos alunos, loucos pelas férias. Confesso que queria fazer o mesmo, mas quando o professor finalmente pega minha prova, ele me dá um recado:

– O diretor quer ver você.

– Agora? – Pergunto. – Mas a aula já terminou.

– Imediatamente.

Eu não fazia ideia do que o diretor queria comigo. Só podia imaginar que fosse algo a ver com a final do campeonato no domingo. É. Devia ser isso. Enquanto caminho até sua sala, ligo meu celular. A primeira coisa que descubro são umas dez chamadas das minhas mães. Tento não ficar preocupado. Elas gostavam de me ligar todos os dias. Não tantas vezes assim... Ou em um espaço de tempo tão curto. Espera? Será que alguma coisa havia acontecido? Apenas quando chego a sala do diretor, começo a ligar as coincidências.

– Sente-se. – O diretor me oferece uma cadeira a sua frente.

Engraçado como a atmosfera libertadora das férias se esvai de uma hora para outra. Não tenho outra opção, senão me sentar e torcer para que tudo aquilo não seja nada demais.

– Dessa vez você está muito encrencado. – O diretor comenta. Sua expressão está mais dura do que em todas as outras vezes que estive em problemas.

– Do que você tá falando? – Questiono.

O diretor tira algo debaixo de sua mesa e joga sobre a madeira. Imagina minha surpresa em descobrir que é um saco de maconha. O meu saco de maconha.

– Onde encontrou isso? – Tento não me desesperar.

– A pergunta deveria ser: Por que o senhor guarda isso no seu quarto? – O diretor me confronta. – Drogas ilícitas são totalmente proibidas nessa academia. Tenho certeza que você já sabia disso.

– Vocês vasculharam o meu quarto? Não tinham esse direito! – Explodo.

– A partir do momento em que recebemos denúncias tão graves envolvendo nossos alunos, não só temos esse direito, mas o dever de verificar.

O que? Denúncias? O rosto de Glamour e Filipo vem logo na minha cabeça. Como eu imaginei que não teriam coragem de ir tão longe? Preciso me controlar. Preciso arrumar uma maneira de sair daquela situação. Passo a mão pelos cabelos, tentando respirar fundo.

– Como assim denúncias? – Pergunto.

O diretor ainda me olha de cara fechada. Tenho certeza que em uma situação normal, não deduraria os acusadores, mas aquela definitivamente não era uma situação normal. Eu sabia que outros alunos da academia usavam maconha, mas não sabia de nenhum que guardava em seu quarto.

– Alguns de seus colegas de classe vieram me ver mais cedo. Acredite em mim, não foi fácil para eles entregarem você, mas fizeram pela ética da academia. Foi impossível negar credibilidade ao que estavam falando. São alguns dos nossos melhores estudantes: Glamour Angel Evans, Filipo Moscoviz, Brenda Fisher, Hugo Sanches e Kennedy Blanca.

Será que minha cabeça havia dado um pane? Ou ele disse mesmo o nome de Hugo? Não. Aquilo só podia ser brincadeira. Até deixo escapar uma risada, mas logo a repreendo, porque caio na realidade. Vamos lá. Raciocine. Glamour não mediria esforços para acabar com a minha reputação. Filipo muito menos. Brenda era uma mente manipulável, eu não havia ficado surpreso. Agora Hugo? O único amigo que eu tinha no colégio? O que sinto naquele momento é horrível, mas não pior do que descobrir, que outro nome naquela lista causa mais dor: Ken. Não sei descrever, mas é como um aperto no peito. Eu o beijei ontem à noite. Hoje de manhã ele me traiu. De novo.

Perfeitos [✓]Onde histórias criam vida. Descubra agora