cap. 39 | mio

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Mio

Iupi. As aulas acabaram. Para sempre. Depois de passar dois fucking anos nessa academia horrorosa, eu finamente era um homem livre. Os resultados das provas já haviam sido lançados, e depois de encerrar meus estudos com uma média "9.8", já estava recebendo propostas de algumas faculdades. Enfim, a indiferença! Eu não queria mais estudar. Só queria viver os três próximos dias. Amanhã, teríamos a almejada festa de formatura, na melhor boate da cidade. No dia seguinte, receberíamos nosso diploma, em uma cerimônia no campo de futebol. E claro, tudo no melhor estilo ALFA de ser. No entanto, muitos se enganam em pensar que formaturas são marcadas por boas memórias e sorrisos de felicidade. Dessa vez, quando olharmos para trás, veremos apenas uma enorme mancha de sangue sobre o piso.

Recebo uma mensagem anônima, logo pela manhã:

"Nos vemos hoje à noite."

Resisto a vontade de enviar "Eu sei". Ao contrário disso, apenas saio do meu quarto e dou alguns passos para a esquerda. Não preciso bater na porta, porque ela já está entre aberta. Quando entro, encontro Enzo aprontando uma mala. Outras duas já estão posicionadas, ao pé da cama. Sinto um aperto dentro do peito.

– Enzo?

Ele finalmente olha para mim.

– Ei, Mio.

Não consigo tirar os olhos daquela cena.

– O que você tá fazendo? – Engulo em seco.

Enzo ainda está me encarando, com um sorriso doce.

– Eu vou voltar para Londres.

Naquele momento, só consigo pensar em seu sorriso. Nas suas palavras, carregadas com aquele sotaque aconchegante. Nos seus conselhos primorosos. Na sua maneira bonita de ver o mundo, e as pessoas. Naquele momento, me pergunto porque não dei o valor que ele sempre mereceu. Como eu havia sido capaz de imaginar que ele estivesse por trás de toda aquela merda.

– Por que? – As palavras saem, tão confusas.

– Eu finamente decidi por uma especialização em fotografia na Inglaterra. Além disso, se eu voltar agora, ainda posso me formar com minha antiga turma do colégio.

Não consigo sorrir de volta.

– Então você vai me deixar?

É estranho. Toda aquela situação. Todos aqueles sentimentos, dentro do meu peito. Enzo se aproxima. Ele mantém o bom humor, mas eu sei que é apenas um disfarce.

– A quem estamos querendo enganar? – Ele sorri. – Você não me ama, Mio. Não dessa maneira.

Abaixo o olhar. As palavras vão se entalando, dentro da minha garganta.

– Eu sinto muito...

– Eu sei. E tá tudo bem. Mas sabe, as vezes uma amizade de verdade, vale mais do que um namoro sem futuro. – Ele levanta meu queixo, com a ponta dos dedos. – Então, você quer ser meu amigo?

O abraço, pela última vez. Tão forte. Com tanto desejo. É como se eu tentasse absorver sua energia. Sua bondade genuína. Enzo estava indo embora. Me deixando sozinho nesse universo cinzento. E ele tinha razão, como sempre. Havia sido um excelente companheiro, mas acima de tudo, um grande amigo que eu sempre pude contar.

– Eu amo você. – Deposito um beijo, em seu rosto.

Enzo sussurra um "eu também".

O mundo fica diferente quando saio daquele quarto. Quando desço todos os andares, e saio do campus. A pressão é esmagadora. Dilacerante. Entro em um Uber, e só saio quando chego no centro da cidade. Eu tinha um destino, mas opto por ficar andando sem rumo, pela multidão. Eu queria esquecer que Enzo não estaria mais lá quando eu voltasse. Era impossível. Depois de horas, apenas respiro fundo e tento voltar ao meu eixo. Visito uma loja, que a pouco pesquisei no Google, e compro o que eu precisava.

Perfeitos [✓]Onde histórias criam vida. Descubra agora