cap. 17 | mio

6.1K 838 1.3K
                                    

Mio

Curioso. Depois de ter sido suspenso da academia por um mês, achei que quando finalmente voltasse, as coisas poderiam estar diferentes. Mas não estavam. Eu ainda era o aluno gay estranho, assim como os outros estudantes mantinham o nariz em pé. Me fez sentir falta de casa. De todos aqueles dias de castigo, trancado no quarto. Eu menti para minhas mães dizendo que não havia roubado aquele relógio de verdade, apenas feito uma brincadeira "amigável". Elas não engoliram, mas também não descobriram o real motivo, o que era bom. Elas fizeram eu prometer (umas dez vezes pelo menos) que me comportaria pelo resto do ano. Era o que eu ia fazer.

– Oi Mio. – Uma garota que eu nunca vi na vida me cumprimenta, assim que chego na academia. Ela tem um sorriso amigável nos lábios.

– Oi. – Respondo, meio indiferente.

Continuo andando pelos corredores, como em um dia qualquer.

– E aí cara, beleza? Eu nunca te disse, mas aquele seu último gol no primeiro jogo do campeonato foi irado! A gente se vê. – Um dos veteranos comenta comigo, do nada, logo depois joga um aceno e vai embora.

É estranho, mas tento não ligar. Abro meu armário e começo a separar os livros que vou precisar pelo resto do dia.

– Oi Mio. – Três garotas passam entrelaçadas ao meu lado e comentam em uníssono. – Tá um gatinho hoje. – Uma delas me lança uma piscadela sem vergonha.

Ok. Aquilo definitivamente não era normal. Cinco cumprimentos amigáveis mais um elogio logo de manhã? Será que todo mundo havia batido com a cabeça e estávamos vivendo em uma realidade onde eu não era completamente repudiável?

Ainda faltavam alguns minutos para a primeira aula, então faço uma hora por ali mesmo. Durante esse tempo, estudantes parecem não ter o menor problema em me dirigirem sorrisos e cumprimentos. Em determinado momento, prefiro afundar meu rosto contra o celular e ignorar. Só paro quando vejo Hugo chegando. Ele está sorridente. Não sei dizer se mais do que o habitual, já que costuma ser assim a maior parte do tempo. Vou logo o confrontando:

– Você tá sabendo de alguma coisa que eu não sei?

Pela expressão que recebo de volta, suponho que a resposta seja um sim. Hugo vai logo sacando seu celular.

– Mio, a sua vida está prestes a mudar! – Ele enfia o celular no meio da minha cara. Não é uma surpresa descobrir aquele site idiota da academia. Tenho certeza que é a primeira opção na sua lista de favoritos. Obtenho uma visão clara da lista de perfeitos, mas algo parece diferente. Bem no topo da lista. O primeiro lugar. Não está mais escrito "Glamour Angel Evans", e sim "Mio Campari".

– O que? Isso não faz sentido! – Falo.

– E quem se importa? – Hugo comemora. – Mio, ninguém além da Glamour já ficou em primeiro lugar. Tem noção de como isso é incrível?

Vamos para a sala logo depois. É impossível não notar que a energia é totalmente diferente. Não estou mais sendo ignorado. Tudo parece normal até demais. A única exceção se dá em um grupinho específico. Filipo me encara de olhos arregalados, assim como Brenda. Glamour não parece tão radiante como sempre. No entanto, Ken me ignora. Parece que finalmente havia entendido o recado. Ótimo.

No intervalo, as coisas continuam surreais. Basta eu me sentar em uma mesa com Hugo para diversos alunos diferentes darem a cara. Nunca havia almoçado com tantas pessoas desde que cheguei na academia. Não que eu estivesse realmente gostando, mas é engraçado ir do lixo ao luxo. Ainda mais quando você não faz absolutamente nada para mudar isso. E confesso que acho divertido por Hugo. De alguma forma, estar perto de mim faz com que ele absorva aquela popularidade involuntária. Eu ainda me lembrava do que ele havia contado sobre sua vida. Se toda aquela afeição falsa de alguma maneira o fazia bem, quem era eu para tirar isso dele.

Perfeitos [✓]Onde histórias criam vida. Descubra agora