Ken
Era uma vez um garoto sem nome. Ele era perdido e egoísta. Sem rumo na vida. Ele não sabia quem era, então acabava machucando as pessoas ao seu redor. Seus amigos já haviam desistido dele, porque não compreendiam sua dor. Eles não queriam enxergar, que ele estava condenado. Sua alma estava doente. Um dia, o garoto pegou todas as pedras que haviam jogado nele, e criou um castelo. Ele se fechava lá dentro, todas as vezes que não queria ouvir as pessoas. E mesmo assim isolado, um dia se apaixonou por alguém que não podia ter. Era um amor rejeitado e subentendido, daqueles que machucam. Pobre garoto. Tão bobo. Ele tentava ser notado, mas só conseguia ser ainda mais desprezado. Ele havia se transformado em uma pessoa má. Queria voar sem riscos. Queria tudo mais fácil. Era ciumento. Queria tudo só para ele. Não gostava que outras pessoas brilhassem, porque queria ser a única estrela no céu. Ele questionava a Deus. Questionava a tudo. Jogava a culpa sempre nos outros, e esperava que passassem a mão na cabeça dele. Mas isso porque estava doente. Era a única explicação. Ele se fechava para sofrer sozinho, condenado a um destino cruel. Chegavam os dias em que era insuportável aguentar esse peso, e fracote como ele era, abria as portas para dor entrar. Ela tinha o poder de trazê-lo de volta à vida. O fazia sentir que ainda existia. Mas, ao mesmo tempo, era cruel e doía muito, e ele não podia chorar, porque garotos não choram.
Alguém bate na porta do meu quarto, antes das sete da manhã. Eu estava terminando de escovar os dentes. Alguns alunos pensaram que a aula de hoje fosse ser adiada (devido à polêmica de ontem), mas infelizmente, não foram. Saio do banheiro. As batidas ficam cada vez mais fortes e frenéticas. Levo um susto ao abrir, pois de jeito nenhum, estava esperando por aquela pessoa.
– Até que enfim! – Glamour entra. Parece naturalmente irritada.
– Espera? – Arqueio as sobrancelhas. – Você não foi expulsa?
Glamour sorri, mas não existe um pingo de felicidade.
– Não. Por pouco. Como eu ainda sou de menor, a academia foi obrigada a aceitar minhas justificativas. Eu chorei. Fiz o maior show. Disse que não sabia o que estava fazendo. Que havia sido manipulada por um homem adulto... enfim! Resolveram que só iriam me suspender. – Ela se concentra. – O professor Carlos por outro lado, além de ter sido imediatamente demitido, ainda vai responder judicialmente por estupro de menor.
Meu Deus. Aquilo era insano.
– Uau. – Assimilo tudo. – E o que você veio fazer aqui? Eu sei que você foi suspensa, mas eu ainda preciso viver essa última semana de aulas. Aliás, já tá quase na hora de ir...
– Esquece essas aulas idiotas, tá bom? – Glamour me interrompe. – Precisamos falar sobre o Mio.
Ah não. Aquilo de novo não.
– Glamour, por favor...
– Ken! Por favor digo eu! – Ela parece ainda mais irritada. – Você não percebeu até agora que foi ele quem armou pra mim? Que foi ele quem armou pra todo mundo? Ele é um maníaco! Um desequilibrado! Está claramente se vingando por termos expulsado ele da escola, no ano passado!
Aquilo era demais para se aguentar. Principalmente, antes das sete da manhã. Mesmo assim, respiro fundo. Tento não surtar, porque aquilo era fácil demais para uma pessoa como eu.
– O Mio não é assim, tá? Eu entendo que vocês já tiveram problemas. Entendo que vocês tenham uma imagem ruim, um do outro... – Tento soar o mais calmo possível. – Mas você não pode ficar culpando ele por todas as merdas que acontecem na sua vida. Isso tem que parar.
Glamour não esboça reação. Penso que possa ter ficado tão indignada com as minhas palavras, que resolveu não responder. Logo descubro que não era aquilo. Chega um momento em que ela dá de ombros. Seus olhos vão parar diretamente contra os meus.
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Perfeitos [✓]
Romance[Romance Gay] Mio não sente vontade alguma de fazer faculdade quando se formar, mas suas duas mães de criação querem o melhor dos futuros para o filho. Duplamente pressionado, o adolescente ingressa na Academia ALFA, conhecida como o melhor colégio...