cap. 36 | ken

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Ken

Eu pensava em Mio todos os dias. Quando eu me acordava, e antes de dormir. Era como um próprio vício particular. Desde que o asiático entrou na minha vida, as coisas nunca mais foram as mesmas. Eu havia reaprendido a viver. Ressignificado meus sentimentos mais profundos. Agora, que não possuíamos mais vínculos, eu me sentia perdido. Como se Mio houvesse chegado, roubado meu coração e saído correndo. Com o passar dos dias, percebi que não conseguia esquecê-lo. Mas também reparei outra coisa. Meus sentimentos haviam se embaralhado tanto, que estava ficando difícil reconhecê-los de verdade. Eu não conseguia deixar de me perguntar: O que eu sentia por Mio era mesmo "amor", ou não passava de "obsessão"?

Naquele final de semana, volto para casa. Foi um acordo estabelecido com a minha mãe. Confesso que não é tão animador, levando em consideração um pai mudo te esperando, mas valia a pena por ela. Lulu, que passava mais tempo na academia do que em casa, também está de visita. O sábado não é muito produtivo, já que meus pais ainda estão trabalhando. Tanto meu irmão mais novo quanto eu, ficamos trancados em nossos respectivos quartos. Apenas no domingo resolvemos socializar um pouco entre família. É como uma tragédia grega perfeita.

– E então... – Minha mãe me pergunta, com um sorriso. – Como vão as aulas?

Estamos em quatro. Meu pai, minha mãe, Lulu e eu, envolta da mesa, na sala de jantar. Ainda eram onze da manhã, então estávamos desfrutando de um almoço silencioso.

– Bem. – Respondo. – Já estamos na temporada dos trabalhos.

Meu pai não fala nada. Apenas come, sem fazer um barulho sequer, enquanto cuida de outros assuntos em seu celular. Lulu parece incomodado, de certa forma.

– Imaginei que as coisas pudessem estar complicadas, devido aquela última polêmica envolvendo sua amiga... – Minha mãe comenta.

É obvio que ela falava sobre o escândalo de Glamour.

– Pelo que eu soube, alguns pais processaram a escola. Outros, simplesmente não renovaram as matrículas dos filhos. – Relembro. – Mas o status da academia era muito alto. Provavelmente, estão investindo uma grana cheia para barrar essa burocracia.

Lulu continua revirando seu prato, de cabeça baixa.

– O importante é que você tá bem. – Minha mãe alcança uma das minhas mãos, sobre a mesa. – Eu tô muito orgulhosa desse meu filho lindo.

Alguns segundos depois, Lulu dá um pigarro proposital.

– Eu também estudo na academia ALFA, só para lembrar...

Minha mãe finalmente tira os olhos de mim, e os volta para seu filho caçula.

– Ah. Claro, querido. – Ela se atrapalha. – Como você tá?

Lulu revira os olhos. Parece indignado com toda aquela reação.

– Deixa pra lá. – Ele arrasta a cadeira para trás, se preparando para sair. – Vocês não se importam mesmo!

Até mesmo meu pai se desconcentra. Todos ficamos lá parados, com cara de paisagem, enquanto ele desaparece das nossas vistas. Não dou muita importância de início. Lulu sempre foi desse jeito. Irritante por natureza. Também sempre teve ciúmes de mim com nossos pais. Me lembro de um certo ano, em que todos nos esquecemos do aniversário dele. Não foi por mal, mas isso não o impediu de fazer greve de fome, por uma semana.

Meow! – Bibou exclama.

Está deitado sobre a barriga de Lulu, que por sua vez, está deitado sobre uma espreguiçadeira, ao lado da piscina. Já se passaram algumas horas, desde o último desentendimento na cozinha, e eu resolvi dar uma mergulhada.

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