cap. 41 | mio

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Mio

Não volto para minha casa depois da formatura. Ken também não volta para dele. Como ainda existiam algumas "pendências" a serem resolvidas, escolhemos ficar na academia. Ainda era início de dezembro. Muitos estudantes enfrentavam a recuperação. Provavelmente, teríamos pelo menos mais uma semana até o colégio fechar as portas. Levo a maioria das minhas coisas para o quarto de Ken. A fiscalização havia diminuído por conta das férias, então não enfrento problemas com os monitores. Passamos dois dias inteiros sozinhos. Não é muito fácil. Ken estava extremamente fragilizado, por conta de tudo que havia acontecido. No começo, eu precisava o lembrar de comer, ir ao banheiro, ou as vezes, até respirar. As coisas só começaram a melhorar, quando tivemos novas notícias sobre a morte de Filipo. A polícia não havia dito com todas as letras, mas depois de uma busca incessante por provas que nunca encontrariam, deram a entender que a vítima havia sofrido um acidente. Apenas escorregado e caído. Fim.

Abotoo os últimos botões da minha camisa social branca, enquanto Ken afivela seu cinto, contra a cintura da calça. Não estou me sentindo feliz. Ele, muito menos. Já eram cinco da tarde, e estávamos acabando de nos aprontar para um funeral.

– E aí, tá se sentindo melhor? – Me aproximo.

Ken força um sorriso.

– Uhum.

É triste, ter que vê-lo desse jeito.

– Eu sei que o funeral do Filipo era o último lugar em que você gostaria de ir. – Comento. – Mas você sabe que seria muito estranho, e suspeito, se a gente não fosse. – Cruzo os braços. – Afinal de contas, ele era nosso "amigo".

Ken assente com a cabeça.

– Eu sei. Tudo bem.

Pegamos um Uber, logo em seguida. Descemos em uma igreja católica, situada em um bairro nobre. Algumas pessoas já se encontram no jardim. Entre elas, parentes de Filipo e colegas de classe. Glamour e Vênus estão na porta da igreja. É meio engraçado, porque apesar de estarem uma ao lado da outra, não trocam uma palavra sequer. Quando Ken e eu nos juntamos a elas, nos tornamos quatro, e não seis, como da última vez. Brenda havia pegado um avião para Nova Jérsei, ontem mesmo, e Hugo não fazia questão de estar aqui.

– Fica tranquilo. – Glamour sorri, para Ken. – Já dei uma espiada lá dentro, e a família decidiu manter o caixão fechado.

Vênus a encara, com deboche evidente.

– Uau. Isso resolve todos os problemas.

– Pelo menos o Ken não vai precisar ficar olhando para a cara do defunto e se lembrando toda hora que foi ele quem matou...

– Gente! – Acabo com a discussão. – Vocês não estão ajudando!

– Tudo bem. – Ken dá de ombros – Vamos acabar logo com isso.

Entramos na igreja. É desolador. Nem mesmo a finesse com que o ambiente foi decorado, consegue esconder aquele caixão preto, frente a tudo e a todos. Antes que possamos escolher um lugar para sentar, somos surpreendidos pela família de Filipo. Sua mãe e sua irmã mais velha vem até nós, completamente chorosas.

– É tão bom ver você. – A mãe de Filipo envolve Ken em um abraço. – O Filipo nunca teve um amigo tão bom.

Sinto meu coração acelerar, e olha que nem fui eu quem matei.

– Glamour, minha querida! – A senhora Moscoviz abraça a outra amiga do filho. – Você anda tão sumida. Tudo bem com você?

– A gente vai levando né. – Glamour sorri, sem graça.

Perfeitos [✓]Onde histórias criam vida. Descubra agora