cap. 35 | mio

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Mio

Há uma semana atrás, encontrei a porta do meu quarto arrombada. Alguém havia invadido, ido até o banheiro, e deixado uma mensagem de que iria me matar. Havia sido escrita com sangue. Provavelmente, de algum animal. Era impossível imaginar que fosse um trote. Eu havia feito inimigos demais para usufruir desse luxo. Então comecei a analisar. Minha aposta principal era Filipo. Ele com certeza me odiava. Imagine minha surpresa em descobrir, que o surtado não estava mais no país. Mas tudo bem. Seria mentira dizer que não existiam outras opções. Brenda, quem sabe? A gente se resolveu a pouco tempo. Mas talvez ela só estivesse ganhando minha confiança, para depois me esfaquear pelas costas. Ou seria Hugo? Ele ainda era o estudante mais rejeitado da academia, graças a mim. E o que dizer de Glamour? Essa com certeza era perigosa. Na verdade, havia se tornado minha principal suspeita. Afinal, ela mesmo disse que me mataria, no semestre passado. Mas tinha uma última pessoa. Um garoto, que com certeza possuía todos os motivos. Eu estava inclinado a imaginar que não fosse ele. Não depois do que conversamos no hospital... enfim, qual deles seria capaz de ir tão longe?

É sexta. Já passou da meia noite. Enzo e eu estamos deitados, na minha cama. A TV ainda está ligada, mesmo que já estejamos cochilando. De repente, abro meus olhos. Me vejo abraçado ao corpo do inglês. Sua camisa tem um cheiro gostoso. Nem dá vontade de levantar, mas faço assim mesmo. Vou até o frigobar, pegar um pouco de água, mas descubro que minhas garrafas estavam todas vazias.

– Vou até a cozinha. – Aviso.

Enzo se remexe, sonolento. Está usando apenas uma camisa cinzenta e cueca branca.

– Ok. – Ele sorri. – Não demora.

Saio do quarto. Desço até o segundo andar. Não esbarro com nenhum monitor, o que comprovava a teoria de que eles davam mesmo uma escapada. Faço uma hora na cozinha, enquanto reabasteço. Minutos depois, quando já estou voltando, dou de cara com um fantasma.

– Caralho! – Ken arregala os olhos. – Você me assustou!

Ele estava parado, frente a porta de seu quarto. Provavelmente, acabava de chegar de algum lugar. Está vestido com uma camisa preta floral e jeans rasgado. Seus cabelos estão mais bagunçados do que o normal.

– Foi mal. – Acho engraçado.

Ken parece ir ficando cada vez mais nervoso.

– O que você tava fazendo aqui? – Ele questiona. – Já vai dar uma hora da manhã, e seu quarto fica no andar de cima!

Por que ele parecia irritado?

– Eu só vim pegar água... – Arqueio as sobrancelhas. – Mas e quanto a você?

Ken cruza os braços. Por um momento, parece ter perdido as palavras.

– Hum. Eu? Ah. Nada. Eu só tava dando uma volta com a Glamour... a gente foi em um... é... ah, não importa! Eu não tava fazendo nada demais. É isso.

Me seguro para não dar risada.

– Você não sabe mesmo mentir.

– Eu não tô mentindo! – Ele fica vermelho.

Típico. Não consegue dar o braço a torcer.

– Ken... – Aponto para sua calça. – Sua braguilha está aberta.

A partir daí, ele se atrapalha todo para fechar. É impossível não dar risada. Quando consegue, ainda está mais vermelho do que antes. Coitado.

– Tá. – Ele confessa. – Eu tava ficando com alguém.

Sorrio. Não sei bem o porquê, mas é o que faço. Talvez aquela informação houvesse me pegado de surpresa. Talvez eu não estivesse esperando, levando em consideração tudo que aconteceu. Mas era isso. Ken estava seguindo em frente.

Perfeitos [✓]Onde histórias criam vida. Descubra agora