cap. 26 | ken

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Ken

Qual a sensação de morrer? Bem, no meu caso, eu nunca havia parado para pensar sobre isso. Quando eu imaginava a morte, só sabia que a queria bem longe de mim. Acho que era uma daquelas pessoas que tem medo, sabe? Só de pensar que o meu mundo poderia acabar. Minha vida. Que meus sonhos nunca seriam realizados. No entanto, acho que eu não penso mais desse jeito. Tudo o que eu consigo pensar agora, quando tento imaginar um mundo sem o "Ken", é na paz que poderia ser alcançada. Uma realidade onde não existe mais ansiedade, culpa ou remorso. Um simples apagão. Puf. De uma hora para outra, você apenas não existe mais. A dor não existe mais.

Atualmente, as horas dos meus dias parecem passar mais devagar. É um sentimento estranho de estar aqui, mas ao mesmo tempo não estar. É exatamente como eu me sinto hoje, durante a aula. Eu sabia que deveria me esforçar para conseguir boas notas, mas eu simplesmente não consigo. Não tenho vontade de fazer os exercícios que os professores passam, então apenas copio dos nerds. Quando somos liberados à tarde, volto para a ala leste sozinho. Glamour e Brenda não sabiam porquê, eu muito menos, mas Filipo não havia dado as caras na academia hoje.

Bato contra a porta de seu quarto, por mero costume, antes de ir para o meu. Fico alguns segundos esperando. Alguns minutos. Ele não atende. Até penso em dar um fora, mas ouço ruídos do lado de dentro. Quando o barulho realmente começa a ficar alto, forço a porta para frente. Não faço ideia do porquê, mas FIlipo destruiu praticamente seu quarto todo. Os livros estão jogados. A cama revirada. Até as gavetas do guarda roupa parecem ter sido estiradas, de qualquer maneira. Quando ele olha para mim, descubro que nunca o vi tão cheio de raiva na vida.

– O que tá acontecendo? – Me assusto.

O rosto de Filipo está vermelho. Seus olhos são puro ódio.

– Fui expulso da academia. – Ele responde.

Dou risada. Uma daquelas nervosas, que você dá, apenas porque não acredita em tal situação. Mas é rápida. Logo depois, estou o encarando, com uma interrogação bem no meio da cara. Não dá para acreditar. Aquilo não podia ser verdade.

– Como isso é possível? – Pergunto.

Filipo passa a mão pelos cabelos. Parece um vulcão, prestes a explodir.

– Aquela diretora filha da puta. Ela me chamou para conversar, na sala dela, e disse que possuía uma gravação minha, confessando ter colocado a merda daquele relógio na mochila do lixeiro.

– Isso não é possível. As únicas pessoas que sabiam daquilo éramos você, eu, a Glamour e a Brenda. Ninguém falou disso para ninguém! – Concluo.

Filipo finalmente se senta sobre a cama. Ele tenta, mas não consegue se controlar.

– Foi o Mio. – Ele revela.

Espera? Mio? Como a conversa havia ido parar no asiático?

– Claro que foi aquele merdinha... – Filipo sorri, amargamente. – Nem é difícil imaginar porque a diretora ficou do lado dele. Você sabia que ela é sapata? – Ele olha para mim. – Claro que não perderia a chance de ajudar aquela bixa.

Desvio o olhar, porque as palavras me incomodam. Tento concentrar meus pensamentos na situação. Filipo estava com raiva, claro que iria ser ainda mais escroto do que já era.

– Cara, eu sei que isso tudo é uma merda. Mas não faz sentido culpar o Mio. – Falo. – Ele poderia até achar que era você, mas não tinha como provar.

Filipo me lança um olhar tão invasivo, que eu me sinto a pior pessoa do mundo por ter dito aquelas palavras.

– Meu Deus! Você ainda continua defendendo ele? – Filipo se levanta novamente, para me encarar melhor. – Será que você é tão tapado assim, Ken? Acorda, porra! Aquele garoto não presta! Como você ainda tem coragem de ficar do lado dele?

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