Perfeitos [✓]

cap. 9 | mio

Mio

Sábado de manhã eu pego um Uber. Pasmem, mas meu destino é a casa de Ken, o boneco. Provavelmente estou vivendo um surto psicológico, já que aceitei estudar junto com os perfeitos. Nem eu entendia direito como acabei chegando nesse ponto. Levava comigo apenas uma mochila com algumas peças de roupa. Só iria durar uma noite, já que amanhã voltávamos para o colégio. Afinal, o que demais poderia acontecer em uma noite?

O carro me deixa no portão. Ele é cercado por muros bem altos. Assim como eu já esperava, a casa de Ken é incrível. Me lembra a mansão do filme "A casa de vidro". É bem moderna, com todas aquelas janelas do chão ao teto, em seus dois andares gigantes. Depois que minha entrada é liberada, caminho por um gramado extremamente verde e bem aparado até a porta de entrada. Não é preciso que eu toque a campainha, porque Ken já está lá de pé, me observando chegar.

– Espero que tenha trazido uma sunga. – Ele sorri, debochado. Está vestido bem casualmente, com camiseta, shorts e chinelo.

– Achei que fôssemos estudar. – Comento.

– E nós vamos. – Ele responde. – Entre outras coisas.

A casa é perfeitamente polida por dentro. A decoração possui um alto nível de elegância. Vejo uma empregada logo no salão principal. Ofereço um sorriso, mas ela apenas me olha meio sem jeito e desaparece. Provavelmente levavam os serviços domésticos bem a sério por aqui. Era impressionante como não havia nada fora do lugar.

– Os outros já estão na sala estudando. – Ken avisa.

Assinto com a cabeça. Tudo ali era calmo demais.

– Seus pais não estão em casa? – Pergunto.

– Não. – Ele sorri. Parece um fato que o deixa animado. – Tiveram que correr para uma reunião em outra cidade. Só voltam amanhã.

Sinto algo macio roçar entre as minhas pernas. Antes que eu possa levar um susto, descubro que é apenas um gato branco felpudo. Ken se abaixa rapidamente, o capturando no colo, feito um bebê.

– Esse é o Bibou. – Ele faz um cafuné na barriga do gato. Depois deposita um beijo meloso em sua cabeça. O felino se desenvencilha dos carinhos feito um louco. Era totalmente compreensível, levando em consideração quem era o dono.

– Não achei que fosse do tipo que gostava de animais. – Comento.

– Por que não? – Ele finalmente solta o gato no chão.

– Sei lá. Só não consigo imaginar você sendo carinhoso com uma criatura que não seja você mesmo.

– Rá rá. – Ele dá uma risadinha irônica.

Quando chegamos na sala de estar gigante, logo vejo Brenda imersa em uma porção de livros e cadernos. Filipo está sentado no carpete, ao seu lado, fazendo o que me parece um esforço imenso para entender sua explicação. Glamour está jogada sobre um sofá com o celular apontado para a própria cara. Assim que me vê, abre um sorriso convencido:

– Eu sabia que ia mudar de ideia.

Filipo torce o nariz ao me ver. Brenda por outro lado, parece aliviada.

– Aleluia! – Ela comenta, com as mãos contra o peito.

Compreendo a reação de Brenda pouco tempo depois, quando começamos os estudos. Eu não podia negar que todos estavam se empenhando bastante. Apenas Filipo, que vez ou outra, perdia o interesse e começava a jogar em seu celular. Fora isso, todo mundo parecia levar a sério aquelas provas. Principalmente Ken, que de segundo há segundo, me aparecia com uma dúvida diferente.