cap. 37 | mio

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Mio

Enzo era perfeito. Perfeito até demais. Ele era gentil, educado e sempre mantinha o bom humor. Era praticamente impossível pegá-lo em um dia ruim. Era como se os sentimentos negativos apenas desviassem de seu caminho, naturalmente. E eu admirava isso. Admirava tanto, que não fazia ideia do porquê de ele ter virado um suspeito. Não entendia como tudo que ele fazia, poderia soar tão misterioso agora. Seus olhos. Seu sorriso. Suas palavras acompanhas daquele sotaque charmoso, sempre tão doces. Mas eu nem precisei me afastar, porque ele mesmo fez isso. Eu não entendi, mas depois daquelas fotos tiradas do time para o anuário, senti ele se distanciando. Aos poucos. Só então percebi como eu gostava de tê-lo por perto. Só então percebi como eu estava surtando.

É domingo. Não estou no meu quarto vendo TV, como de costume. Estou sentando em uma sala de espera completamente branca. Apenas algumas plantas coloridas quebram toda a estética clean. Era uma clínica de sexologia, mas como vocês já devem saber, eu era só um acompanhante. Lulu estava consultando, a praticamente meia hora.

– Voltei. – Lulu reaparece, poucos minutos depois.

Ofereço um sorriso. Era o melhor que eu podia fazer.

– E aí, como foi?

– Ah. Normal. – Ele responde, com as mãos no bolso.

– Se sente menos confuso?

– Acho que sim. – Ele sorri, meio sem jeito. – Você tinha razão.

Depois disso, pegamos um Uber de volta para a academia. A viagem é mais silenciosa do que eu imaginava, pois Lulu é tagarela. Caminhamos pelo campus, em uma tarde ensolarada, até a ala leste. Subimos juntos até o terceiro andar, já que o quarto dele ficava no quarto. Antes que eu me despeça, ele finalmente resolve desabafar:

– Contei para a Vênus sobre mim.

Ah. Então era aquilo que estava o incomodando.

– Sério? – Tento um sorriso. – E como foi?

Lulu cruza os braços. Sua expressão é um mix de sentimentos. Não conseguiria adivinhar mesmo se tentasse.

– Ela entendeu... – Ele faz um bico. – E logo em seguida terminou comigo.

Não sei o que dizer. É tudo tão inesperado. Se Vênus pelo menos ainda estivesse conversando comigo, eu poderia ter um pouco mais de noção. Como não estava, apenas perco as palavras.

– Sinto muito. – Comento. – Isso é bem chato.

Lulu dá de ombros. Sei que ele está tentando parecer forte e confiante, mas a julgar pela leve vermelhidão sobre seus olhos, andou chorando escondido.

– Ela disse que entendia... que me apoiava... que eu não precisava ter vergonha... também disse que eu merecia encontrar alguém que me compreendesse de verdade. – Ele relembra. – E completou dizendo que não daríamos certo, porque ao contrário de mim, ela gostava muito de sexo.

Eu realmente conseguia imaginar aquelas palavras saindo da boca de Vênus.

– Foda. – Lamento. – Sei o quanto você gostava dela.

– Tudo bem. – Ele entrega. – Ela vai se formar no final do ano e eu vou continuar na academia. Iríamos seguir caminhos diferentes, de qualquer maneira.

As palavras de Lulu me fazem refletir. Estávamos perto da formatura. Assim como Vênus, eu estava a um passo de me tornar adulto. É normal as pessoas trilharem caminhos diferentes a partir dessa etapa. Os amigos se despedem. Os namorados acabam ficando para trás. Tudo fazia parte do misterioso "futuro".

Perfeitos [✓]Onde histórias criam vida. Descubra agora