cap. 50 | ken

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Ken

Imperfeição: É um conceito que deriva do latim, imperfectĭo, e que se refere à condição daquilo que é imperfeito. Imperfeito, por sua vez, é aquilo que apresenta erros, defeitos ou falhas. Trata-se de algo/alguém incompleto. Um estado que ainda está por terminar. Odiamos a imperfeição porque a transbordamos. Todas as vezes em que olhamos no espelho, podemos a contemplá-la, estampada em nossos rostos. Eu sou imperfeito. Você é imperfeito. Todos nós somos imperfeitos.

Acordo com um raio de sol no meio da cara. Ele atravessa as janelas de vidro do meu quarto, repousando graciosamente sobre meu rosto. Me espreguiço. Dou um último bocejo. Confiro meu celular e descubro que são quase oito da manhã. Me levanto, escovo os dentes, tomo um banho e troco de roupa. Era um belo domingo.

– Bom dia bebê. – Faço carinho nas costas de Bibou, que também acabou de acordar.

Saio do quarto. Atravesso os corredores. Dou leves batidas na porta de Lulu, e recebo um "já acordei" de volta. Desço as escadas. Cumprimento a empregada no salão. Quando finalmente chego na cozinha, vejo meu pai sentado contra uma mesa, tomando café. Minha mãe está junto. Dou um beijo em sua bochecha, e me sento com eles.

– Acordou de bom humor? – Ela me cumprimenta, sorridente.

– E com fome também. – Brinco.

Me sirvo com torradas e suco de laranja. Alguns minutos depois, Lulu também aparece, com os cabelos meio bagunçados. Ele se senta ao meu lado, e quando tenta roubar uma uva do meu prato, dou um peteleco em sua mão.

Eu sei que toda essa cena de família Margarina parece estranha. Eu mesmo fico surpreso, de vez em quando. Mas o fato é que já se fazem duas semanas desde que tudo melhorou. Eu achei que fosse impossível, mas estava enganado. Me reconciliar com Lulu e meu pai fizeram toda a diferença. É difícil explicar com palavras, mas a vida tem se tornado mais leve. Sem tanta mágoa. Sem tanto rancor. Não somos uma família perfeita. Acredite, estamos muito longe disso! Porém, finalmente somos uma família.

– Animado para o retorno das aulas? – Minha mãe pergunta para Lulu.

– Na verdade, estou um pouco nervoso. – Ele responde, enquanto passa manteiga em uma torrada. – Eu já disse que vou ser o novo capitão dos Lobos Brancos?

Seguro uma risada.

– Só um milhão de vezes... – Meu pai comenta.

– E estamos muito orgulhosos! – Minha mãe completa.

– Estamos sim. – Meu pai toma seu café preto. – De vocês dois.

Termino meu suco, em um só gole.

– Não precisa ficar nervoso. – Falo para Lulu. – Você vai se sair bem.

Algum tempo depois, troco de roupa novamente e vou para a academia nos fundos da casa. Dessa vez não malho sozinho. Agora, Lulu costuma me fazer companhia. Descubro que é mais fácil, e também mais legal, ter alguém por perto para estimular. Ajudamos um ao outro com os exercícios, e quando terminamos, nos arrumamos outra vez para sair.

Pegamos um Uber na porta de casa. Um dos últimos, caso eu realmente tirasse minha carteira de motorista semana que vem. Já eram quase onze horas, e havíamos marcado de nos encontrar com Glamour e Vênus, em um restaurante no centro da cidade. Hoje era o último dia de janeiro. Além de Lulu iniciar o último ano do colégio na semana que vem, o casal "Glenus" finalmente iria para Nova Iorque, estudar Moda.

Quando entramos no restaurante, as duas já estão nos esperando. Lulu e eu as cumprimentamos com abraços e beijinhos, porque ambas eram bem frufruzinhas. As pessoas à nossa volta devem pensar que somos um casal de gays e de lésbicas.

Perfeitos [✓]Onde histórias criam vida. Descubra agora