cap. 13 | mio

6.9K 899 2.1K
                                    

Mio

Tecnicamente, amanhã seria um dia importante. A copa acadêmica entre os times de futebol das escolas da cidade teria seu grande início. Toda a academia estava animada. Os garotos do time mais do que isso. Porém, existia uma pessoa que tentava, mas não conseguia ligar para aquela palhaçada: Eu.

Mesmo fazendo parte do time e sabendo que estaria naquele campo amanhã, prefiro passar o meu tempo assistindo séries na Netflix. O que me incomoda é um tal grupo no whatsapp onde me enfiaram. Só tem integrantes do time, obviamente. Eles não param de falar sobre como a vitória amanhã é primordial. Principalmente Ken, o boneco mais ou menos artificial (sim, mais ou menos, pois estou revendo alguns conceitos sobre o sujeito). Vencer aquele jogo parecia como o paraíso para ele, mas não para mim.

Desligo a TV e alcanço o notebook. Me lembro da putaria que aconteceu nessa cama, a alguns dias. Não que eu estivesse pensando em repetir, ou até mesmo ir mais fundo, mas logo estou pesquisando sobre o famigerado universo gay. De novo. Pouco tempo depois uma palavra que eu nunca ouvi desperta minha atenção. O que é "chuca"? Digito no Google e caio em um vídeo: "Como fazer a chuca". Aperto play e minutos depois me arrependo amargamente. Estou horrorizado com o que descubro.

O colégio está radiante na manhã seguinte. Como já era esperado, os alunos estão fervorosos para o jogo depois da aula. Bandeiras e pôsteres com o slogan da academia estão espalhados por toda parte. Estudantes podem ser vistos indo e vindo pelos corredores, com a cabeça de um lobo branco estampado em faixas contra a testa. No intervalo é ainda mais revigorante. Todas as atenções estão voltadas para nossa mesa, uma vez que Ken, o líder do time, está sentado entre nós, em pleno refeitório. Ele está com duas listras em azul e branco pintadas no rosto, assim como Filipo.

– Lobos Brancos versus Espartanos. – Glamour parece animada. – Façam suas apostas.

– Não tem aposta nenhuma! Eles vão levar uma surra, igual no ano passado. – Filipo vibra. – Não é, Ken?

– Você ainda duvida? – Ken oferece um sorriso glorioso.

Continuo comendo meu sanduíche como em um dia qualquer. Era o meu primeiro ano naquele colégio, então não fazia ideia de quem eram os oponentes. E era melhor assim. Eu gostava de futebol, mas não dava a mínima para competições.

– Japa, você tá muito tranquilo. – Filipo me olha de cara feia. – Se você fizer a gente perder esse jogo, eu acabo com a sua raça.

Glamour e Brenda dão uma risadinha. Até eu mesmo me seguro para não rir daquele idiota.

– Você já conhece a academia SPARTA? – Glamour me pergunta.

– Não. – Respondo.

– Bem, o que você precisa saber é que eles são quase tão bons quanto nossa própria academia, mas ainda estão um pezinho atrás. – Ela fala com orgulho evidente. – Ou seja, rivais por natureza. Assim como os líderes do time.

Aquela última frase chama minha atenção. Assim como a de Ken, porque ele resmunga alguma palavra de baixo calão.

– Nosso time venceu no ano passado, mas o que todo mundo comentou mesmo foi a briga entre Ken Blanca e Pietro Rodrigues. – Brenda dá risada.

Eu não fazia ideia de que Ken possuía uma rivalidade com o capitão dos espartanos, mas não é uma grande surpresa se levar em conta seu temperamento instável. Percebo, olhando em seus olhos, que aquele fato o deixa nervoso, mesmo que ele insista em tentar escondê-lo.

– Pietro Rodrigues não é um problema. Ele é só um filhinho de papai mimado que não aceita perder. – Ken dá de ombros.

– Tem certeza que não está descrevendo a si mesmo? – Questiono.

Perfeitos [✓]Onde histórias criam vida. Descubra agora