cap. 25 | mio

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Mio

Descobri, semana passada, sobre uma tal festa de boas-vindas para os calouros. De repente, me deu uma vontade inocente de escrever um bilhete. Claro que no mundo que vivemos atualmente, seria mais fácil eu ter deixado uma mensagem nas redes sociais, ou até mesmo enviado um SMS, usando um número falso. Acredite em mim, não iria funcionar. Glamour era uma sensação virtual, provavelmente acabaria nem lendo. Então, para o meu joguinho se realizar, arranquei o pedaço de uma folha de papel. Escrevi as seguintes palavras: "Sabe o que seria inesquecível? O bolsista indo parar dentro do lixo. Literalmente". Joguei o papelzinho dentro do armário de Glamour, e dias depois, descobri (em público) que ela havia lido, obviamente. Era oficial. Hugo Sanches tinha um novo apelido, lixeiro, e um dia depois da festa, foi parar direto no primeiro lugar da lista de renegados.

Estou sentado no refeitório. Sozinho dessa vez, porque Enzo e Vênus estavam na sala, terminando um trabalho atrasado. Visualizo Hugo despontar, em meio aos inúmeros alunos, e logo posso ouvir coisas do tipo "e aí, lixeiro", enquanto ele caminha até mim, de cabeça baixa e rosto vermelho.

– Meu Deus. – Ele se senta, bem na minha frente. – Acredita que o meu nome ainda tá no topo daquela lista?

– Sério? – Mordo o sanduíche que estava acabando de comer.

– Sim. – Ele se encolhe, tentando ignorar os deboches. – Você tinha razão. Glamour e os outros apenas me usaram. – Hugo me encara, com um sorriso agridoce. – Ainda bem que eu ainda tenho você.

Jogo o restante do sanduíche sobre o prato. Havia perdido a fome.

– Não. Você não tem.

Hugo arqueia as sobrancelhas. Quando me encara, possui um sorriso meio perdido, como se não houvesse entendido o que acabei de dizer.

– Como assim? – Ele pergunta.

– Que foi? Achou que ia levar um pé na bunda dos seus "amiguinhos" e fosse voltar correndo pra mim?

– Mio... – Hugo finalmente parece se dar conta que estou falando sério. – Eu... Eu não entendo! Achei que houvéssemos deixado aquilo para trás.

– Achou errado. – Dou de ombros. – Hugo, eu vou ser bem claro: Nunca fomos amigos, e nunca seremos. Agora se me dá licença... – Me levanto da mesa, me preparando para sair. – Sinta-se à vontade para procurar outro idiota para sugar.

– Mio! Espera! – Hugo se desespera. – Cara, desculpa. Eu sei que tava errado. Por favor. Se você virar as costas para mim agora, o que eu vou fazer?

Me permito parar por um momento. Analisar aquela pergunta.

– Sei lá. – Sorrio. – Procura outra lata de lixo para você se enfiar.

Felizmente, eu não teria treino de futebol depois da aula, então acabo topando encontrar Enzo no gramado da academia. Era uma área gigante, onde estudantes se reuniam para bater papo, fazer piqueniques ou rodinhas de música. Nos encontramos na porta de nossos quartos. Éramos como vizinhos. A primeira coisa que noto, é uma câmera profissional pendurada contra seu pescoço. Bingo. Ele era mesmo um fotógrafo. Descemos juntos da ala leste, até cruzarmos o prédio principal da academia e ir parar no gramado verde. Sigo Enzo até um gazebo, ao leito de um lago cristalino. O dia era de sol. A brisa refrescante. Ainda estou em dúvida se o que estou sentindo é nervosismo, ou apenas estou simulando o sentimento. Sei lá, acho que eu era meio frio por natureza.

– Você planeja trabalhar com fotografia? – Pergunto.

– Na verdade, planejo sim. Já estou montando meu portfólio a dois anos, só não decidi se quero uma universidade nos Estados Unidos, ou resolvo me profissionalizar na Inglaterra.

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