cap. 23 | mio

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Mio

Brenda Fisher era uma aluna exemplar. Uma "nerd", caso prefiram em linguagem popular. Desde pequena, sempre teve as melhores notas da sala. Sua dedicação era digna da inveja de todos os seus colegas. Continuou seu legado de queridinha dos professores quando cresceu, mas agora não era apenas uma mente brilhante. Sua amizade inabalável com Glamour, a garota mais popular do colégio, concedeu a Brenda um novo status. Começou a fazer parte do seleto grupo dos "perfeitos". Mas não como uma integrante qualquer. Ela era a número quatro. O cérebro por trás de tudo. Muitos cometeram o erro de julgá-la por sua personalidade apagada e aparência doce (eu fui um deles). Estava na hora de corrigir esse erro.

Não era comum, mas naquele sábado à tarde, vou para a academia. Estou levando apenas uma caneta, um lápis e uma borracha. Se você acha que estou indo realizar uma prova de admissão para Princeton, você achou certo.

– Aham. Vou fazer a prova daqui alguns minutos. – Brenda já está parada na porta de sala quando chego. Está no meio de uma ligação. – Mãe, não precisa se preocupar, tá? Eu tô preparada. – Ela finalmente percebe que eu cheguei. Parece tentar falar mais baixo agora. – Relaxa. Não tem como eu perder. Te ligo mais tarde.

Me aproximo. Ainda faltavam cinco minutos para liberarem a sala. Brenda desliga seu celular e o guarda em sua bolsa pocket. Diferente de mim, veio preparada com materiais reservas, água e chocolate.

– E aí. Como você tá? – Pergunto.

Brenda me observa de soslaio. Talvez estivesse pensando se deveria ou não me responder.

– Confiante.

Assinto com a cabeça. Não que eu duvidasse que ela estivesse. Afinal, se você dedica a maior parte da sua vida em uma coisa, não vai ser um simples nervosismo que vai acabar te passando a perna.

– Sabe, eu estaria muito nervoso se fosse você. – Comento.

Brenda não fala nada. Apenas continua olhando para frente.

– Depois de tanto tempo se dedicando exclusivamente a esse momento. Dia após dia. Eu nem consigo imaginar como deve estar sua cabeça agora. Todas aquelas informações que você veio armazenando sobre essa prova, devem estar rodopiando dentro do seu cérebro. – Brenda finalmente olha para mim. Sua expressão não parece amigável. – Sem contar que você é um legado. Sua mãe ganhou uma bolsa para Princeton. Se formou com honras. E bem aqui, nesse exato momento, você está tendo a chance da sua vida em dar continuação a esse sonho. No seu lugar, eu estaria surtando.

– Eu sei o que você está tentando fazer. Não vai funcionar comigo. – Ela dá uma risada nervosa. – Você mesmo disse, eu me preparei durante toda a minha vida. Você caiu aqui de paraquedas. Essa é a diferença entre a gente.

Ofereço um sorriso, mas ele não é recíproco. Depois de muito tempo observando Brenda, eu havia percebido que ela possuía uma casca resistente. No entanto, uma casca sempre seria uma casca. Não importava quanto parecesse bonita, se por detrás da rachadura, a lagarta ainda não fosse uma borboleta. Brenda era uma lagarta.

– Você está enganada. – Comento. – A diferença entre você e eu, nesse exato momento, é que eu não tenho nada a perder.

Fazemos a prova. Dura quatro horas. Depois disso, somos informados que o comitê precisará de dois dias para a correção. Por mim, que demorassem o quanto quisessem. Na segunda seguinte, assisto a aula de redação ao lado de Enzo. Estava virando costume ter sua companhia. Não conversávamos muito. Parece que eu finalmente havia encontrado outro ser introspectivo nessa academia. Enzo era inteligente, o que me deixava à vontade para discutir sobre os exercícios. Não sofria de humor inesperadamente alterado, como a maioria dos outros alunos. Nem complicava o que não devia ser complicado. Era quase como uma versão inglesa de um certo asiático maconheiro.

Perfeitos [✓]Onde histórias criam vida. Descubra agora