cap. 40 | ken

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Ken

Conheci Filipo na primeira série. Eu tinha sete anos, e ele tinha seis. Foi o segundo amigo que fiz na vida, logo depois de Glamour. Mas com ele foi diferente, sabe? Coisa de moleque. Nos tornamos próximos. Inseparáveis. Éramos uma dupla imbatível na escola. Na vida. E por mais que eu sempre enxergasse seu caráter desviado, eu nunca me importei, porque o meu também era. Fizemos muitas coisas ruins juntos. Sinceramente, eu perdi a conta. Mas o lance é que nos apoiávamos. Comprávamos as brigas, um do outro. Hoje, não sei dizer se em algum momento aquilo foi de verdade. Se em algumas das vezes que sorrimos, era de fato um ato sincero. Tudo o que eu sei, é o que está na minha frente. Um cadáver frio, sobre uma poça de sangue. Tudo o que eu sei, é que ele está morto. Eu o matei.

Estou tremendo, dos pés à cabeça. Não consigo tirar os olhos de Filipo. Não consigo digerir as palavras que Mio acabou de dizer. Arrasto minhas costas contra a parede. Deslizo meu corpo até o chão. Eu era um assassino.

– Não... – Sussurro. – Por favor, não...

– Ken. – Mio se aproxima, se sentando ao meu lado. – Você precisa respirar.

– Eu não queria... – Estou chorando. – Eu juro...

Mio me abraça, mas dessa vez não é o bastante. Nem mesmo seu colo é capaz de me confortar. Parecia um pesadelo, triste e medonho.

– A culpa não foi sua. – Ele me aperta. – Você só estava me defendendo.

Escutamos passos vindo do corredor. Vozes e risadas. Olho para Mio, completamente assustado, mas antes que possamos fazer sequer um movimento, quatro pessoas aparecem: Glamour, Vênus, Brenda e Hugo. Seus sorrisos desmancham, assim que se deparam com o cadáver.

– Meus deus do céu... – Glamour arregala os olhos. – Quer dizer, meu "buda" do céu!

Vênus fica paralisada, assim como Hugo. Brenda começa a chorar, automaticamente, quando percebe que Filipo está morto.

– Não é o que parece! – Mio se adianta.

– Ele não está morto? – Vênus questiona, desacreditada. – Porque é o que parece.

– Foi legítima defesa. – Mio engole em seco. – O Filipo estava completamente surtado. O Ken apenas se defendeu.

Ninguém sabe o que fazer. Glamour consola Brenda, ainda muito alterada, enquanto Vênus e Hugo apenas se escoram, para acabar não caindo.

– Eu vou ser preso. – Choro.

– Não, você não vai. – Mio me consola. – Ele tentou te matar. Tentou matar nós dois.

– E você acha que a polícia vai simplesmente acreditar nessa história? Sem provas? – Me desespero. – Mio, eu já tenho dezoito anos!

– As câmeras... – Glamour se manifesta.

Mio e eu olhamos em direção as cabines. Filipo havia quebrado nossa única fonte de defesa. Provavelmente, ele sabia que elas não possuíam o sistema interligado. Até porque, não faria sentido, já que estávamos falando de um banheiro. Todas as imagens haviam sido perdidas, naquela pequena tecnologia despedaçada sobre o chão.

– Eu matei ele! – Sinto meus olhos arderem. – Eu vou ser preso!

Todos ficam em silêncio. Apenas meu choro ecoa contra as paredes.

– Nada disso. – Glamour fala, finalmente. – Brenda, fecha a porta.

Brenda encara a amiga, desentendida.

– Agora! Vai! – Glamour bate na tecla.

Alguns segundos depois, Brenda vai até a porta e logo depois volta.

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