cap. 33 | mio

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Mio

Se a academia ALFA é um castelo, eu sou o rei. Minha coroa foi feita de espinhos, não de pedras preciosas. Eu mesmo a forjei. Moldei cada pedaço, destruindo a tudo e a todos que ficavam no meu caminho. Mas o preço foi minha alma. Minha integridade. Meus passos foram marcados pelo caos. Minhas vitórias tinham gosto de sangue. Eu não era mais o mesmo. Eu jamais seria. No entanto, eu finalmente controlava aquele tabuleiro. Eu poderia seguir as leis e ser amado, ou contrariá-las e ser abdicado do meu trono. Mas existia uma terceira opção. Uma, que por absoluta comodidade e narcisismo, os antigos perfeitos descartaram: Criar novas regras. E era o que eu ia fazer. Se eu havia tido coragem o bastante para arruinar com aquela escola, eu também teria para reconstruí-la do zero. Agora se sentem. Mantenham os olhos bem abertos. Apreciem enquanto eu mato essa versão tóxica de mim mesmo.

– Sobre o que você quer conversar? – A diretora me questiona.

Estou sentado à sua frente, na diretoria. Ainda é de manhã. Faltavam poucos minutos para o início da aula de aritmética, mas eu não pretendia demorar.

– Sobre Princeton. – Falo. – Eu estou oficialmente desistindo da bolsa.

Ela apenas me encara, por alguns segundos. Talvez esteja levemente surpresa. Talvez, no fundo, tenha descoberto que eu sou um idiota. Mas ela é uma pedra. Suas expressões enigmáticas eram um pesadelo/sonho.

– E por que tomar essa decisão agora? – A diretora parece curiosa.

Suspiro. Eu não era do tipo que gostava de dar explicações, mas sabia que as vezes, eram necessárias. Certas decisões são pesadas demais para simplesmente dar de ombros.

– Sei que Princeton é incrível. Minhas mães morreriam de orgulho se eu aceitasse. Só não é o que eu quero. – Falo, por fim. – Eu agradeço pela oportunidade, e peço desculpas por ter tomado o tempo de vocês... mas essa é minha decisão final.

A diretora assente com a cabeça. Não parece preocupada.

– É o seu futuro. – Ela comenta. – Você quem decide.

Para muitos, o "futuro" começava depois do colégio. Se fosse mesmo desse jeito, eu teria menos de seis meses. É estranho. Não sinto nenhum tipo de ansiedade chegando, como dizem que eu deveria estar sentindo. Como meus colegas de classe estão sentindo. Eu não fazia ideia do que eu estaria fazendo no ano que vem. E para falar a verdade, eu não estava nem aí.

– Mais alguma coisa? – A direta pergunta.

É isso. Eu precisava terminar o que eu comecei.

– Na verdade, tem sim. – Sorrio. – Brenda Fisher é uma das garotas mais inteligentes que eu já conheci. Ela é dedicada, determinada e independente. Tem as melhores notas dessa academia, desde o primeiro ano. – Afirmo. – Princeton seria muito idiota em não aceitá-la.

A diretora assente com a cabeça. Tem um leve sorriso. Me despeço, e vou direto para a sala de aula. Encontro com Vênus no corredor. Ela acena, com aqueles dois olhos carregados, e eu me aproximo.

– Bom dia senhor popular. – Ela cumprimenta.

– Bom dia senhorita popular. – Dou risada.

Enzo passa bem do nosso lado, indo para a sala. Tento um sorriso, mas sou ignorado com sucesso.

– Por que você não fala com ele? – Vênus também repara.

– Acho que ele não tá afim de falar comigo. – Suspiro.

Começamos a caminhar, lentamente, pelos corredores.

– Não se preocupa. – Ela comenta. – Todos os casais brigam...

Perfeitos [✓]Onde histórias criam vida. Descubra agora