Always You [Completa]

Chapter Thirty Four

Eu comecei a desenhar pra valer quando tinha 10 anos. Desde quando estava na creche, a quantidade de cores diferentes me chamavam atenção. Minha parte favorita em ir para a escola era quando a professora me dava o estojo de lápis para colorir e um papel em branco. Eu me perdia dentro daquele vazio por horas, pintava cada pedacinho que via em branco. Então, com o tempo percebi que todas as vezes em que eu estava sendo uma criança chata, elas me davam o estojo e a folha branca para me distrair. E funcionava pra caralho. A partir disso, eu chorava apenas para ganhar o papel e os lápis. Não era só nas aulas, era em todos os lugares, principalmente quando minha mãe sentava na varanda para fazer a mesma coisa. Ficávamos quase a tarde inteira desenhando juntos. Mas foi aos 10 anos que ela resolveu explorar esse meu lado de verdade, me colocando em um curso de desenho para a minha idade. Desde então, eu nunca parei.

Já fiz milhares de mudanças na parede do meu quarto, teve uma época que eu o pintava a cada duas semanas. Agora eu acabei de pintar tudo de branco. Estou com o rosto sujo, bermuda manchada junto com minhas pernas e mãos. Suado, com sono e cabelo pro alto. Tem três dias que eu estou travando uma batalha interna com minha própria mente. Isso é tão cansativo! Dois anos atrás, eu conheci um lado meu não muito agradável, e eu o explorei até estar em um beco sem saída. Quando iniciei meu tratamento, resolvi nomeá-lo como Charles Opaco, porque eu estava andando em um caminho tão escuro, que não existia nada além de um vazio dentro da minha mente, a qual eu me afundava a cada dia que passava. Cada minuto era um mergulho em um mar de solidão, tristeza e exaustão.

Nos últimos dias, eu lutei contra o meu lado opaco. Céus, como ele estava doido para ganhar essa guerra. De fato, quase ganhou ontem dentro da boate, porém eu consegui passar por cima de todas as minhas inseguranças, medos e fraqueza. Cheguei em casa, tomei um banho e rolei por minha cama, tentando pegar no sono, para ter algumas horas de descanso, a madrugada inteira. Quando deu 5 horas da amanhã, eu levantei, fui no mercado e comprei tintas, spray, pincéis que tinham estragado, entre diversas coisas para poder colocar minha cabeça de volta no lugar.

Só tinha sido a porra de um desenho. Um desenho que eu fiz no auge da minha embriaguez, pensando em como minha família estava caindo aos pedaços. Acho que foi uma das artes mais sinistras que eu fiz durante esse período ruim. Eu lembrava dela algumas vezes, já tinha revirado todo o meu tablet procurando-a e nunca havia encontrado. Obviamente! Ele estava no tablet da Emma. Justamente a garotinha que foi o ponto de partida para que eu buscasse ajuda. Eu apaguei aquela merda de desenho sem pensar duas vezes.