Segunda Chance

03

𝗧𝗵𝗶𝗮𝗴𝗼

Nunca fui de ligar muito pra natal, especialmente porque essa era a data onde a família inteira se reunia aqui em casa e cada hora tinha um parente fazendo mil perguntas sobre a minha vida ou me comparando com algum primo que se deu super bem na vida e que é o orgulho da família. Na moral, enche o saco.

Estava mais afastado do pessoal que estavam espalhados pelo jardim de casa, quando meu celular vibrou no bolso da minha bermuda indicando alguma mensagem. Coloquei minha long neck de Heineken no chão e puxei o celular do bolso e fiquei surpreso ao ver que a mensagem era da Camila.

Achei estranho ela me mandar mensagem pra ir ver ela assim no meio da noite de natal, mas fiquei aliviado também porque pelo menos eu iria foder e sair do tédio.

Eu gosto da Mila, e gosto mais ainda da adrenalina que é ficar com ela. A vida da guria é uma loucura, papo de casamento arrumado e um pai totalmente fora da realidade, mas ela é uma garota foda e a gente se dá super bem, principalmente na cama. Apesar de eu não ter intenção nenhuma em firmar nada com ela, até porque ela já é enrolada o suficiente, eu gosto das loucuras que ela comete só pra me ver e pra matar nossa vontade.

Inventei uma desculpa qualquer pra minha mãe e dei um beijo na testa dela antes de ir pra garagem tirar o carro. A praça onde a Mila estava me esperando era bem perto de casa, então dez minutos depois eu estava chegando lá.

Encostei em frente a praça e buzinei pra ela que estava sentada num banquinho de madeira, assim que ela reconheceu o carro ela levantou e veio na minha direção.

—Que bom que você veio mesmo! — ela disse com certo alívio assim que entrou no carro e me deu um selinho.

—Pra onde a gente vai hoje, gostosa? —perguntei quando ela se afastou e dei um tapinha na perna dela com certa malícia, mas estranhei seu desanimo.

Mila era daquelas que topava qualquer parada quando a gente tava junto. E isso me instigava bastante.

—Eu não te chamei aqui pra transar, Thiago. —disse meio óbvio e me encarou nos olhos. — Tenho uma notícia pra te dar.

meu corpo gelou todinho e eu tremi na base ja imaginando o pior porque foi nesse exato momento que eu percebi que a Mila tava com cara de quem havia chorado. — Cê ta gravida?

—Ta maluco? — ela empurrou meu ombro de leve e deu uma risadinha —Claro que não. Nem brinca!

—Graças a Deus! —respirei aliviado— sei nem o que eu faria se você tivesse dado um vacilo desses... ia foder minha vida.

falei meio que sem pensar e a expressão dela ficou mais séria

—Se eu tivesse dado uma vacilo desses, Thiago?—ela arqueou a sobrancelha— vacilo nosso né?! Se liga.

—É — dei de ombros — Mas enfim, fala aí pra que tu me chamou, ja que cê disse que não é pra se aproveitar de mim e do meu belo corpo. —brinquei e ela rolou os olhos antes de rir fraco

—Eu acabei com tudo, Thi. Finalmente criei coragem pra enfrentar o meu pai e terminar com o Caio!

o rosto dela se iluminou com um sorriso enquanto engoli a notícia no seco. Eu achei que ela nunca teria coragem de sair desse relacionamento por causa do pai dela, e por conta disso nos nossos momentos pós-sexo, ela deitava a cabeça no meu peito enquanto eu prometia a ela um futuro pra nós dois caso ela terminasse com o Caio, mas na verdade eu queria que tudo continuasse do mesmo jeito porque assim eu poderia continuar me envolvendo com ela e com quem mais eu quisesse sem estresse nenhum, afinal, ela era comprometida e não podia me cobrar nada.

Eu curtia o nosso lance, mas não a ponto de abrir mão da minha liberdade e jogar tudo pro alto por ela, ainda mais agora que eu o meu primeiro ano de faculdade e estava curtindo a melhor fase e as melhores resenhas da minha vida.

Minha reação -ou a falta dela- deve ter me denunciado, porque quando olhei pra Mila novamente o sorriso e a empolgação dela estava se apagando aos poucos.

—Você escutou o que eu falei, Thiago? —ela me perguntou e eu apenas assenti— Então você pode me dizer porque você não ta feliz se a gente deseja isso desde o começo? de verdade eu achei que você fosse ficar feliz.

—Porra Mila... —passei a mão pelo meu cabelo — eu não sei o que te falar... é complicado.

—Complicado? — ela riu, mas num tom nervoso— Você ficou com a parte mais fácil nisso tudo. Eu não to te entendendo.

—Pô, Mila — suspirei e encarei ela que estava meio apreensiva— eu fico feliz de verdade por você ter saído de um relacionamento que não tinha nada a ver contigo e que te fazia mal, mas sei lá... eu to com outros planos sabe? e eu não te inclui neles. —eu me senti mal, quando vi os olhos dela se encherem d'agua— me desculpa por...—ia continuar, mas ela me interrompeu.

—Não, Thiago. Eu ja entendi. —ela limpou a lagrima com a mão— você nunca quis nada sério comigo, você só estava comigo porque era conveniente pra você. Tem noção das coisas que eu ja fiz só pra te encontrar e ficar contigo?

—Eu juro que eu não tive intenção de te magoar, Mila.

— Você teve sim, Thiago porque se você não quisesse um relacionamento comigo era uma escolha sua, mas você tinha a obrigação de ter deixado isso claro desde o início. E o invés disso você moveu mundos e fundos pra me convencer a ficar contigo e depois que eu cedi você ficava fazendo planos comigo, e eu burra acreditei na sua conversa de que me amava e que eu era especial. No fundo eu nunca passei de uma diversão pra você.

—A gente se divertiu junto, Camila. O problema foi você ter enfiado sentimento no meio do que a gente tinha, sentimento demais sempre fode com tudo.

Mandei a real e ela negou com a cabeça

— Eu não sei como você me enganou por tanto tempo, Thiago. Você é um puta babaca! —ela falou decepcionada e eu tentei segurar o braço dela pra tentar concertar as coisas, mas ela se soltou e saiu do carro batendo a porta em seguida.

Obvio que eu me abalei um pouco, mas talvez fosse melhor assim. Depois ela esfria a cabeça e gente vai acabar se envolvendo de novo, de um jeito ou de outro