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Camila

Depois de ouvir muita coisa do meu pai e ser chamada de vagabunda pra baixo, ele já tinha separado minhas roupas e pertences em duas malas médias
e foi isso que ele teve a me oferecer depois de eu ter passado por um processo cirúrgico num momento tão delicado, quando na verdade só o que eu queria era um abraço e um "eu estou com aqui com você" mesmo que ele tivesse chateado com a situação.

Mas enfim, o que eu ouvi foi "pega suas coisas e sai da minha casa porque a partir de hoje você não é mais minha filha". Eu acho que vou me lembrar dessas palavras pro resto da minha vida.

Minha mãe até tentou intervir, mas foi ignorada pelo marido como sempre. Ela me pediu aos prantos pra que eu ficasse na casa da minha vó porque em pouco tempo meu pai cairia em si e me pediria pra voltar, mas pra falar a verdade essa não era mais uma possibilidade. Eu não acreditava nisso e na verdade também não sei se aceitaria a humilhação de voltar depois de tudo que escutei da boca dele.

Dei um abraço na minha mãe antes de bater o portão de casa, limpei as lágrimas que insistiam em cair dos meu olhos e avistei a Gabi de costas sentada no meio fio, ela estava fumando um cigarro, aparentemente nervosa.

Ela olhou pra trás assim que eu fechei o portão de casa, deu uma tragada no cigarro e se levantou vindo na minha direção.

Gabriela: É sério isso? — soltou a fumaça e jogou bituca no chão.

Assenti.

Camila: Oficialmente expulsa de casa. —ri fraco, desacreditada de tudo que eu estava passando.

Gabriela: É inacreditável, cara. Inacreditável! —falou com indignação na voz negando com a cabeça. Meus olhos se encheram d'água novamente e ela me abraçou. —Fica tranquila, tem coisa que a gente se livra mesmo.

Ela disse e nos soltamos.

Camila: Me livrar da minha família, Gabi? —ri nasalado.

Gabriela: Da sua família não. De um pai tóxico pra cacete, hipócrita e machista. —ela pontuou. —Você tem que parar de romantizar laço sanguíneo, Camila. Família é muito mais que isso. Não é porque tem o nosso sangue que consequentemente nos quer bem ou nos faz bem. E tanto você quanto eu sabemos que nesse quesito, infelizmente, na família Berriel se salvar quatro ou cinco pessoas ainda é muito.

Camila: Cada dia que passa eu acredito mais nisso, por mais que eu não queira. Cê acredita que a vó foi a única que me ligou pra saber como eu estava?! —frizei

Gabriela: A vó Naná acho que vai direto pro céu, Mila. Porque não existe provação maior na terra pra ela do que passar cinquenta e nove anos aturando a radiação que é essa família. Aposto que puxaram a raça ruim do vô Eugênio. —eu gargalhei. —esse deve ter descido de escorrega direto pro inferno.

Travei o riso e empurrei seu ombro de leve. Gabi me ajudou a pôr as duas malas no carro dela e dali a gente foi pra casa da vó Naná. Eu não sabia ainda o que iria fazer da minha vida, mas sabia que poderia ficar lá o tempo que eu precisasse, pelo menos eu teria paz pra pensar no rumo que eu iria tomar dali pra frente.

O silêncio no carro só não foi total por conta da música que a Gabi colocou no som enquanto dirigia. Eu estava tão perdida em meus pensamentos que acho que ela percebeu que não era o momento de muita conversa e respeitou isso. A casa da vó não era longe, menos de dez minutos a Gabriela estava estacionando o carro na garagem.

Assim que pus os pés pra dentro da casa da minha vó já senti aquele cheirinho gostoso da melhor comida do mundo. E por mais que eu estivesse zero fome, meu estômago revirou com aquilo. Minha vó sim era uma cozinheira de mão cheia.

Segunda ChanceOnde histórias criam vida. Descubra agora