Você Quer ou Não?

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Camila olha para o teto do quarto, ainda imóvel na cama.

E está ferida.

Seu corpo inteiro doía.

Mas não sabe por quê.

Ela só quer estar dormente.

Seu alarme tinha desligado duas horas atrás. Mas o deixou tocar. Cinco alarmes de lembretes também se foram, mas ela não se importou em se mover. Camila perdeu sua primeira aula. Estava atrasada para a segunda. E está bem a caminho de ignorar o dia inteiro.

Já havia perdido três dias naquela semana.

Ela nem tinha dormido, simplesmente continuava olhando. Não podia dormir. Seus sonhos não eram bons lugares ultimamente. Seus sonhos não são sonhos.

São pesadelos.

Seu telefone toca e, por um momento, Camila achou que era outro alarme. E não se incomoda em alcançá-lo imediatamente, até que percebe que o toque da música Now or Never de Halsey era na verdade o que ela colocou para o número de Lauren.

Lauren tinha ido há três semanas.

Ligou somente duas vezes desde então.

Camila desperta de seu atordoamento e atende ao telefone no quinto toque, logo antes de ir para o correio de voz. Ela pegou o telefone bem a tempo.

- Lauren?

- Ei... - a ligação falha um pouco, fazendo Camila querer chorar. - Serviço de merda, no entanto.

- Está tudo bem. - ela mente.

Estava mentindo muito mais ultimamente. E também estava caindo.

Constantemente, continuamente caindo em um abismo negro que ela havia criado. Estava cimentada por uma depressão que não podia se livrar, por pensamentos que a assustavam e por lembranças que a assombravam. Isso ficou pior por conta de uma mulher que precisava para mantê-la estável, mas não estava perto o suficiente para tocar.

Agora, ela nem consegue ouvi-la.

- Talvez duas semanas, ok. - ela o ouve dizer.

- Duas e você estará de volta?

- Ou... - o telefone estala novamente. - Porra, tenho que ir, querida. Te amo, amor?

- Sempre. - Camila ecoou.

O telefone fica mudo.

A voz de Lauren a tira da cama, no entanto.

O frasco laranja de comprimidos, cumprimentos de um médico que tinha decidido ver, a leva para fora da porta com dois Xanax. Uma pílula a mais do que deveria tomar, de acordo com o rótulo. Mas não se incomoda em considerar que a única pílula azul que ela toma à noite deveria fazê-la dormir, mas só funciona se dobrasse isso também. Às vezes, triplicava.

Camila não pensa nisso quando engole dois antidepressivos enquanto estava sentada no estacionamento do campus da faculdade. Outra receita que deveria estar ajudando.

Suas mãos tremem enquanto as apoiava no volante. Elas estão fazendo muito isso desde que começou a adicionar três ou quatro taças de vinho para engolir seus comprimidos para dormir por mais tempo do que estava disposta a admitir.

Camila solta uma respiração lenta, finalmente se sentindo mais calma.

Levemente.

Não estava realmente calma, era mais como entorpecida. Camila gosta desse lugar feliz e entorpecido que os remédios a levam; um lugar onde não precisa pensar, nem sentir, se não quiser.

Camila não precisa pensar.

O único problema de ficar entorpecida?

Ela não pode se concentrar.

Perde os segundos.

Minutos.

Vários...

Ela pisca e estava sentada em sua quarta e última aula, ouvindo uma palestra.

Camila nem tem certeza qual era mesmo o dia.

Isso a aterrorizava.

Mas continuava a fazê-la passar o dia. Continuava a fazê-la dormir. Continuava a tirá-la da cama. Estava fazendo o que era para fazer, certo?

- Você pegou a última anotação? - A garota ao lado de Camila pergunta.

Ela olha para a menina, insegura e lenta em sua mente.

Um pouco nas nuvens.

Leve em seus pés.

Chapada.

- Não. - diz Camila. - Eu não peguei nada do que ele disse.

A garota ri.

- Droga. Problemas de concentração hoje? Essa sou eu, tipo, o tempo todo. Eu nem sei o que estou fazendo metade do tempo.

- Sim.

- Qual é o seu nome?

- Camila.

- Junes.

A morena com o cabelo muito, muito curto, cava em sua bolsa e puxa um frasco azul. Parece com os frascos de pílulas para dormir de Camila, mas sem uma etiqueta para dizer o que estava dentro ou a quem pertencia.

Junes abre a tampa e derruba uma pequena pílula branca na mão. Estava estampada com CIBA.

- Aqui, experimente.

Camila hesita.

- O que é isso?

- Ritalina. Vai acalmá-la, fazer você se concentrar. Já tomo há uns sete anos, mas eles não querem me dar a minha dose, então conheço um cara de quem posso conseguir.

Camila pega o pequeno comprimido.

Ela tenta se lembrar o que já tinha tomado nas últimas 24 horas de sua própria maldita farmácia. Algo para dormir, algo para respirar e algo para fazer sua mente feliz. Vinho, também.

- Você quer ou não? - Junes pergunta.

Camila joga a pílula para trás, a engolindo.

- Me deixe saber se isso funciona para você. Todos nós temos que passar por esse show de merda de alguma forma, certo?

Certo.


N.A: CIBA: Chemical Industries Basel: laboratório farmacêutico sediado na Suíça. 

Sempre - Camren - LaurenGpOnde histórias criam vida. Descubra agora