Cap 32

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Christopher

Eu estou achando Dulce muito estranha comigo. Eu notei seus pensamentos distantes enquanto conversamos ao telefone. Eu dizia algo e ela demorava alguns segundos a responder. Sempre que eu dizia que queria vê-la ela dizia que estava ocupada e que não poderia. A Dulce que eu conheço não mediria esforços para me ver, nem que fosse por 5 minutos.

Meu subconsciente me diz que isso tem a ver com uma pergunta sem fundamento que ela me fez a alguns dias atrás. Querendo saber sobre meu passado. Passado esse que eu tento ocultar até de mim mesmo.

Antigamente eu costumava sair com Maite. Quando me mudei para cá com meu primo, eu comecei a me sentir muito sozinho vendo ele com a namorada. Em um dia de muita bebedeira eu acabei conhecendo Maite e com ela também conheci as drogas. Ela vivia muito chapada e apesar de tudo ainda sim sua beleza me cativou.

Eu estava carente, sozinho e precisava de alguém. Tê-la me parecia a melhor coisa no momento. Eu vivia com ela em lugares digamos, que, proibidos. Muito sexo, drogas, bebidas. Sempre que eu a acompanhava lá eu ficava perdido. Tão drogado que demorei dias para perceber que ela se prostituía enquanto eu estava doidão.

Eu claro, fiquei muito arrasado, e dei outro passo ruim. Sempre que eu estava com ela eu era muito assediado pelas outras moças que lá viviam. Então sempre que Maite se afastava eu me deitava com elas. Sempre era uma diferente. Eu fazia aquilo para satisfazê-las e tentar ferir Maite, já que ela mesma não dava a mínima.

Eu custei a entender que ela não era pra mim, e nem eu pra ela. Tentei me afastar mas ela sempre me perseguiu com ameaças. Eu finalmente consegui me libertar do vício por ela, e pelas drogas. Eu não cheguei a usá-las por muito tempo, então isso colaborou para minhas crises de abstinência.

Eu chegava em casa chorando. Compunha algumas canções com o coração sangrando. E não, eu não amei Maite. Mas eu achava que sim. Eu estava obcecado por alguém que se quer é digna de atenção. Eu nunca fui santo, mas eu entendi que fui uma vítima.

Meu primo Alfonso até me ajudou, mas eu prometi a mim mesmo que iria recomeçar a minha vida. Criar vergonha na cara e ver que eu me perdi e estava perdendo até os meus sonhos. E quanto a isso eu jamais me perdoaria. Comecei um propósito pessoal, e corri para a igreja perto da minha casa. Sim, eu acredito em Deus e foi ele quem me ajudou a reerguer.

Quando finalmente me senti mais forte, eu me mudei. Comecei a minha vida e pedi a Deus que colocasse ao meu lado pessoas que me ajudassem, e que me acrescentassem. Então logo no meu primeiro dia na casa nova, eu vi Dulce. Uma moça tão bonita, delicada, gentil. Eu não consegui pensar em mais nada. Só queria voltar a vê-la.

Ir no Café Berlim e vê-la todas as amanhãs era um combustível pra mim. E graças a isso eu não perdia tanto tempo pensando em besteiras e em drogas. Com o passar dos dias eu tinha certeza que Dulce era tudo que eu tinha pedido a Deus. Pode parecer clichê, mas do exatamente assim.

Agora eu estou aqui, aflito, esperando o horário de buscá-la. Torcendo que seu abatimento não seja nada a respeito disso, assim eu vou respirar aliviado.

Assim que deu o horário dela sair, eu já estava na porta. Fui de carro pois estava garoando mais forte. Levei um casaco meu para ela que poderia estar sentindo frio. Ela sorriu de leve e entrou no carro. Mesmo com meu gesto de carinho ela ainda estava meio triste ou preocupada.

Em casa eu tinha preparado uma mesa de café/janta com várias delícias que eu sei que ela gosta. Seja lá o que for, eu queria que ela se sentisse bem, e melhor.  Foi calada até chegarmos na minha casa, e logo entramos.

(...)

— Muito linda a mesa. — ela diz deixando sua bolsa de lado no sofá.

— Que bom que gostou. Eu notei o quanto você está séria e meio distante nos últimos dias. E quero que se sinta especial.

— Ah... — ela sorri de leve.

— Dulce... sente-se. Quero conversar. Eu te fiz alguma coisa? Tem algo que eu possa fazer pra que você se sinta melhor? — eu a encaro alisando suas mãos que estão sobre a mesa.

Seu silêncio por alguns segundos me amedrontou. Então nos seus olhos castanhos eu pude notar, o problema era comigo. Ela não precisou nem dizer, então eu já fui logo tratar de dizer.

— Você descobriu, não é?

— Sim... eu... quero que me diga até onde é verdade. Não importa quem você foi, mas eu preciso saber.

Contei tudo. Exatamente tudo a ela. Por mais que me doesse eu precisava tirar aquele peso. E se ela me amasse tanto como eu imagino, me aceitaria assim, mesmo com um passado marcado.

Depois de falar sobre tudo que me ocorreu, ela ainda sim permaneceu em silêncio. Seu olhar mudou, ela estava mais aliviada e seus olhos marejavam. Eu me emocionei contando parte da história. E ela me amparou quando eu disse que me sinto horrível.

(...)

— Obrigado por me entender. Saber que você me entende e me apoia é tudo que eu preciso. Eu juro que pensei que fosse te perder... — eu a abracei com vontade.

— Christopher, eu jamais te abandonaria. Mas eu tinha que ter certeza dessa história. Eu levei alguns dias pra processar tudo isso, não ache que eu estou diferente com você por isso. Ainda sim eu te admiro e te amo ainda mais. — ela alisa meu rosto e eu posso respirar aliviado outra vez.

— Eu te amo, Dulce, mais do que tudo. — lhe dou um beijo e volto a lhe abraçar.

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