Doce Tortura

56

" Os céus estão chorando, estou assistindo
Pegando as lágrimas com as minhas mãos
Somente silêncio enquanto acaba
Como se nunca tivéssemos tido uma chance
Você tem que me fazer sentir como se
Não restasse nada de mim?

• Skyscraper, Demi Lovato."

~ Dominic

Lisa está sentada com os cotovelos nos joelhos e as mãos na cabeça. Os olhos ainda úmidos assim como os meus. Era difícil fazer isso. Falar de todas essas coisas abriram ainda mais as rachaduras do meu coração.

Quando Tyler saiu e me deixou em uma guerra comigo mesmo eu percebi tudo. Desde que Lisa entrou na minha vida as coisas tem sido melhores. Discretamente ela me fazia rir, mexia com meu psicológico e me fazia querer estar perto dela o tempo todo só pra ouvi-la me xingar.

Eu não conseguia identificar, mas algo dentro de mim gritava por ela. Ansiava. Seja o que fosse, não se trata somente do sexo surreal que sempre fazíamos, porque toda vez que eu ela ia, ou eu ia, eu sentia aquele vazio no peito. A necessidade de mais tempo.

Algum período pensando recriou uma tonelada de atitudes que eu deveria tomar. Mil e uma coisas que eu poderia dizer para que ela me perdoasse, ou pelo menos me ouvisse.

Pensei em dizer que estava drogado. Ou que fui obrigado a dizer tudo aquilo. Talvez eu devia falar que foi brincadeira... Mas depois de tanto refletir, percebi que somente uma coisa faria Lisa me escutar e cogitar me perdoar. A verdade.

Voltei pra casa depois de receber a confirmação que eu esperava. Heather estava mentindo. Eu teria que resolver essa situação, mas minha prioridade no momento era consertar a merda que já vi feito horas atrás. Uma merda que indiretamente foi causada pela maldita naja que acreditei amar um dia.

Cheguei em casa e retomei o controle de mim mesmo para depois organizar a vida. Lavei o cabelo, fiz a barba, botei uma roupa qualquer e tentei planejar tudo que eu deveria falar a minha sócia. Friamente calculado.

Era assim que eu deveria agir. Eu não podia dizer toda a verdade a ela, pelo menos não a que envolvia Verônica. Eu iria perdê-la se lhe contasse isso. Porra! Eu ia perder até mesmo por contar a verdade. Ela descobriria que sou tão fodido quanto ela.

Não fale nada. Apenas pegue o que é seu.

Droga de voz doentia que não me deixa em paz. Repenso novamente se devo fazer isso. Talvez fosse melhor deixar Lisa ir de vez. Desfazer a fusão e cuidar em outros negócios.

Nunca! Ela é nossa!

Sim, dessa vez concordo plenamente com a voz na minha mente. Lisa era minha e eu faria de tudo para tê-la de volta na minha vida. Fiquei miserável, após as últimas descobertas.

Eu necessito daquela mulher na minha rotina. A gargalhada, as brigas, até mesmo as reuniões. Preciso de qualquer coisa que me permita sentir o cheiro doce que exala da pele morena dela.

Me assusta que ela possa estar grávida. Porra, todos os pelos do meu corpo se arrepiam só de pensar na possibilidade. Mas se o que tivemos foi bom o suficiente para dois traumatizados esquecerem a maldita camisinha, então aquilo não era nada menos que extraordinário. Valia a pena arriscar.

Eu não sei se consigo pensar sobre isso. Entretanto, a frase que ela deixou solta no ar quando saiu da casa do lago me fez perceber que lhe devo pelo menos uma explicação. Algo que lhe mostre que sou complacente a sua dor tanto quanto ela foi a minha.

Quando cheguei ao condomínio onde Lisa mora alguns minutos atrás, encontrei o porteiro sentando mexendo no celular. Fiquei irritado com a postura. Não era seguro, o homem mal olhava nas câmeras, eu entraria sem ele nem perceber se quisesse.